Às vezes os efeitos secundários dos medicamentos apresentam surpresas até para os cientistas e podem mesmo abrir portas para outros caminhos de investigação. Este parece ter sido o caso dos medicamentos que estavam a ser utilizados para o tratamento da artrite reumatoide e que, inesperadamente, começaram a fazer crescer pelos nos ratos de laboratório que estavam a ser testados, conforme reportaram os investigadores do Centro Médico da Universidade Columbia nos Estados Unidos da América, num estudo publicado na edição online da revista Science Advances.

Aparentemente, os medicamentos que estavam a ser testados para reduzir processo inflamatório da artrite reumatoide, encurtaram o período de repouso do folículo piloso fazendo com que o pelo crescesse antes do esperado, ou seja, o tempo entre a queda do pelo e o crescimento de um novo pelo no mesmo folículo foi encurtado. As experiências realizadas com ratos, mas também com folículos pilosos humanos in vitro (em laboratório), revelaram que as substâncias que inibem enzimas da família janusquinase (JAK) promovem o crescimento rápido e robusto do pelo, quando aplicadas diretamente sobre a pele.

Atualmente, estão aprovadas duas substâncias inibidoras de JAK na Europa. Uma é utilizada para o tratamento de doenças do sangue (ruxolitinib) e outra é utilizada para a artrite reumatoide (tofacitinib). Ambas estão a ser testadas em ensaios clínicos para o tratamento da psoríase em placas, refere o Science Daily.

Os folículos pilosos não produzem o cabelo de forma constante, mas num ciclo que alterna fases de repouso e fases de crescimento. A investigação revela que, no caso dos ratos, as substâncias inibidoras de JAK desencadeiam o despertar dos folículos das fases de dormência.

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Nos ratos aos quais foram administrados um dos dois inibidores de JAK, o pelo voltou a crescer em apenas 10 dias. Enquanto no grupo de controlo, não cresceu pelo a nenhum dos ratos, no mesmo período de tempo. O acelerar do ciclo de crescimento do pelo motivou o interesse em investigar se estas substâncias também podem induzir o crescimento de cabelo e aumentar o crescimento nos seres humanos.

No entanto, ainda é preciso investigar se os inibidores de JAK podem despertar folículos pilosos do estado de repouso em casos de alopecia androgenética (que causa a calvície). Até ao momento só foram conduzidas experiências em ratos e folículos humanos que não manifestavam a doença.

Embora a investigação seja prometedora, os investigadores alertam que os resultados obtidos até ao momento não podem ser extrapolados para a calvície humana. Ainda precisam de ser realizadas mais experiências com folículos pilosos afetados por distúrbios de perda de cabelo.

“É necessário realizar mais pesquisa e mais testes com substâncias de inibidoras de JAK especialmente desenhadas para o couro cabeludo, para determinar se podem realmente induzir o crescimento do cabelo em humanos,” reconheceu Angela Christiano, uma das autoras do estudo, em declarações ao Science Daily.