A Caixa Capital liderou a segunda ronda de investimento da Codacy, no valor de 1 milhão de euros, que incluiu os já investidores Henrique de Castro, E.S. Ventures, Join Capital e Faber Ventures. Ao Observador, o administrador executivo, Stephan Morais, explicou que é possível que a Codacy avance para uma ronda de investimento maior (Série A) no próximo ano e meio, porque tem uma ferramenta competitiva a nível mundial e opera num segmento que acredita ter cada vez mais procura – o da programação.

A Codacy tornou-se líder numa determinada linguagem, mas precisava de capital para poder atacar um mercado maior, com outras linguagens. É como se até aqui a Codacy tivesse um corretor ortográfico pequenino, mas agora precisasse de um corretor grande para corrigir várias línguas. Para isso é preciso investimento e nós aceitámos esse desafio”, explicou. 

Até à data, o fundo de capital de risco do grupo Caixa Geral de Depósitos ainda não tinha investido na startup liderada por Jaime Jorge – que captou a atenção do ecossistema internacional depois de vencer o concurso mais importante da Web Summit, em 2014, o Beta Award. A Codacy desenvolveu uma plataforma online de análise de código para clientes que desenvolvem software. O objetivo é o de encontrar erros que ajudem os programadores a trabalhar com mais eficiência.

Stephan Morais, Caixa Capital

Stephan Morais é administrador executivo do fundo de capital de risco Caixa Capital

Longe de ser o investimento mais elevado em Portugal ou liderado por portugueses, a notícia foi suficientemente relevante para captar os media internacionais, da Business Insider ao TechCrunch. “É uma empresa portuguesa que venceu a Web Summit, que teve um percurso interessante e que mostra que há capital nacional para apoiar as fases subsequentes”, adianta.

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Stephan Morais acredita que “não existe nenhum investidor internacional que duvide que haja capital em Portugal. Ninguém duvida que haja capacidade de investimento”, sublinha, acrescentando que os investidores estrangeiros gostam de apostar em montantes de capital mais elevados e que foi “natural” que a Codacy procurasse investidores locais para a segunda ronda.

“Quando há rondas de investimento muito grandes, a diluição dos empreendedores é muito grande. Imaginemos que a empresa ainda está numa fase inicial e entra logo muito dinheiro. Isto significa que os empreendedores vão perder uma grande parte da empresa e isso não convém nem aos empreendedores nem aos investidores. É importante manter o alinhamento entre os interesses de todas as partes envolvidas”, explica Stephan Morais. 

Quando as startups participam em rondas de investimento muito elevadas no início, pode deixar de haver espaço para as rondas subsequentes, acrescenta o líder da Caixa Capital. Sobre a premissa de que o investimento é o “um negócio de paciência e ritmo, mas também de grande ambição”, Stephan Morais acrescenta que “é importante investir com montantes adequados e diluição adequada” e que promover rondas maiores só para ter uma valorização maior acaba por ser contraproducente.

“As rondas devem ser graduais, nem demasiado rápidas nem demasiado lentas. Têm de ser no ritmo certo. E o ritmo certo da Codacy era um milhão de euros”, afirmou, acrescentando que aquilo que vê de “denominador comum nas empresas de sucesso” é a capacidade de execução que têm. 

“O que eu vejo de denominador comum nas empresas de sucesso é uma grande capacidade de execução, de fazer acontecer. É preciso crescimento, ter um produto que já encontrou os mercados e que já sabe quem são os seus clientes. Isto é o fundamental de uma empresa: mostrar resultados. Esta é que deve ser a prioridade constante dos empreendedores, realizar as expectativas da empresa. Porque quando isso acontece, o capital vem automaticamente”, adiantou. 

E que empresas de sucesso são essas? São a Farfetch, a Feedzai ou a Talkdesk, responde Stephan Morais, explicando que o que faz com que a empresa liderada por José Neves tenha a valorização que tem (é a única “unicórnio” de origem portuguesa, porque vale cerca de mil milhões de dólares) é a sua capacidade de execução, os resultados. Tal como a Talkdesk. “São uma máquina de vendas”, afirmou. 

Sobre uma eventual fase de euforia que o ecossistema possa estar a viver, deixa um alerta. “As rondas de investimento devem ser uma consequência e não um objetivo. O objetivo da empresa deve ser tornar-se robusta, saudável e crescer de forma sustentada”, diz.

O líder da Caixa Capital acrescenta que Portugal ainda tem poucas growth companies, empresas cujas receitas crescem sucessivamente de 2 para 20 milhões de euros, para 100 e para 200, por exemplo. “Temos poucas. Talvez a Feedzai, a Talkdesk e a Farfetch. Mas acho que nos próximos cinco anos vão aparecer mais. Vamos ter empresas que se vão tornar grandes referências internacionais e com origem em Portugal”, afirmou.