Rachael Farrokh, a norte-americana que em abril pediu ajuda ao mundo para superar o estado grave de anorexia nervosa em que se encontrava, está a ser tratada em Portugal e apareceu esta semana em público com mais peso. “Fui tratada finalmente com respeito”, disse.

Farrokh, acompanhada pelo marido que deixou o emprego para poder cuidar dela a tempo inteiro, juntou-se às centenas de pessoas que marcharam esta terça-feira em Washington D.C. com objetivo de alertar para as disfunções e transtornos alimentares. 

Há meio ano, a mulher natural do sul da Califórnia não conseguiria ter participado na marcha. Com 1,70 metros de altura, pesava pouco mais de 20 quilos quando se deixou filmar no final de abril. Estava desesperada porque nenhum hospital a atendia naquele estado, por ser uma grande responsabilidade devido ao seu estado extremo. Pedia ajuda ao mundo. E o mundo respondeu com donativos que chegaram aos 200 mil dólares.

Parte desse dinheiro está agora a ser gasto na Cegonha Retreat, uma clínica situada no Alvor, em Portimão, que trata pacientes que sofrem com comportamentos autodestrutivos, entre os quais a anorexia nervosa. “Ninguém está demasiado doente para o nosso programa”, pode ler-se na página da clínica, que trabalha em parceria com o Hospital Particular do Algarve.

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A clínica privada não revela a tabela de preços. “As admissões são altamente individuais tendo em conta as necessidades de cada paciente”, pode ler-se na página. ©Divulgação

Na reportagem que a NBC Los Angeles fez na marcha em Washington, Rachael Farrokh aparece mais saudável, com mais peso e a caminhar com os próprios pés. “Tenho uma família enorme — chama-se mundo”, disse, sobre as doações que recebeu e as mensagens de apoio que continua a receber. “Acolheram-me com um abraço gigante”.

Ainda há um caminho a percorrer, e Rachael está a percorrê-lo no sul de Portugal. “Fui finamente tratada com respeito”, contou. “Não sabia que merecia”. A norte-americana tem partilhado o seu percurso na página de Facebook “Rachael’s Road to Recovery“. Antes de chegar à clínica privada Cegonha Retreat, foi admitida numa clínica em San Clemente, perto de casa, no sul da Califórnia. Outras unidades de saúde se seguiram, até que em agosto Rachael chegou ao Algarve.

“Todas as pessoas com quem temos tido contacto têm sido tão solidárias, carinhosas e encorajadoras. A sua metodologia de amor e apoio para que o paciente se sinta seguro é algo que nunca tinha experimentado; todas as minhas experiências passadas até agora tinham sido sempre com a metodologia da recompensa/castigo”, contou na página.

O primeiro passo foi reparar os órgãos internos, que estavam muito debilitados, e reeducar o corpo a compreender como lidar com os alimentos. Depois, começou a terapia psicológica e a fisioterapia. No início de outubro, o médico Miguel Duarte, do Hospital Particular do Algarve, passou a colocar uma mensagem quinzenal na página de Facebook a dar conta da evolução da paciente.

“A Rachael já anda mais, mas ainda cautelosamente. Sessões várias de 15 minutos por dia vão gradualmente fortalecer os músculos das pernas e melhorar o seu equilíbrio. (…) está num lugar melhor, tanto clinicamente como fisicamente, embora ainda tenha um longo caminho a percorrer”, escreveu o médico a 25 de outubro. Um dos sonhos desta mulher de 37 anos é ter um filho. “Conhecendo-a a ela e ao marido dedicado, também este sonho se poderá realizar”, completou.

Há uma década, Rachael Farrokh era uma aspirante a atriz com cerca de 56 quilos. Quando perdeu um trabalho, começou a deixar de comer e a perder peso. “Eu era uma rapariga recém-licenciada de olhos redondinhos que estava num ambiente falido. Estava a lutar contra traumas do passado, também. Acredito que foi a tormenta perfeita”, disse a jovem aspirante a atriz que trabalhava na altura como comercial. Começou a perder o controlo no emprego e quis perder quilos para ter “melhores abdominais”.

Não se sabe qual o seu peso atual. E, na mensagem que publicou na página “Rachel’s Road to Recovery”, Miguel Duarte pede que essa questão não lhe seja colocada. “Se não se importam, por favor abstenham-se de fazer perguntas sobre o peso porque ela já sente que não merece viver sem dor e, ao permitir-se ganhar algum peso, isso cria mais culpa na sua mente.”