Quem canta seus males espanta, reza a sabedoria popular. Mas há cantigas que dos males se alimentam. Através de barulhos e histórias inquietantes, que nos fazem olhar, de forma paranoica, para os cantos mais escuros do nosso quarto, estas canções são capazes de aterrorizar qualquer ouvinte – e não são aconselháveis aos mais sensíveis.

Com a noite de Halloween à porta, o Observador escolheu 13 músicas que, possivelmente, irão mantê-lo acordado durante toda a noite. Prepare-se para encontrar, nesta playlist, choros de desespero, berros guturais, vozes bizarras de crianças e silêncios constrangedores. Por isso, se quiser um valente susto, aconselhamos que apague as luzes, feche a porta, ponha os auscultadores e ouça cada canção no volume máximo. 

1. Beatles – Revolution Nine

Desengane-se quem pensa que os Beatles foram apenas uma banda de canções orelhudas, como “Hey Jude” ou “Here Comes The Sun”. O lendário quarteto de Liverpool é camaleónico e consegue ser assustador. “Revolution #9”, presente no “White Album” (1968), é uma das faixas que, ainda hoje, mais intriga e assusta. A faixa, recordou Lennon à Rolling Stone, é uma “representação inconsciente do que seria uma revolução”.

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Trabalhada por Lennon e Yoko Ono, “Revolution 9” resulta do cruzamento de “30 loops, cheios de efeitos e inversões, com ‘Revolution 1′”, faixa do mesmo disco. Para além de ser a segunda canção mais longa dos Beatles, “Revolution 9#” prima pela estranheza e esquizofrenia sonora. Ao longo dos vários momentos da faixa, é possível ouvir-se um piano a ser tocado, Lennon a proferir constantemente a frase “number nine“ (“número nove”, em português), excertos do “Carnaval” de Schumann, Sibelius e Beethoven, orquestras invertidas de “A Day in the Life” e diálogos aleatórios – por exemplo, Lennon e Harrison a dizerem “Não há regras para os loucos das empresas”. 

Além disso, esta é uma das controversas faixas que espoletou o famoso mito da morte de Paul McCartney. Se alguém tocar esta canção ao contrário, é possível ouvir o barulho de um acidente rodoviário, seguido de John Lennon a dizer, num tom bizarro, Turn me on, dead man“.

2.  Suicide – Frankie Teardrop 

Tal como acontece em alguns acampamentos, esta canção poderia ser uma história de terror contada à volta da fogueira. Durante 10 minutos, “Frankie Teardrop” dos Suicide, duo nova-iorquino dos anos 70, narra um pequeno massacre em família. “Frankie looked at his wife / Shot her“, ouve-se no final da canção. A fama deste tema já se tornou viral, tendo já sido criado”o desafio Frankie Teardrop”: ouvir a canção na íntegra, usando auscultadores, às escuras e, de preferência, sozinho.

Entre silêncios incomodativos e berros arrepiantes, existe uma tensão na faixa que é capaz de nos tornar paranóicos. Não foi por acaso que o autor britânico Nick Hornby, no seu livro “31 Songs”, escreveu que esta é “uma daquelas canções que só se consegue ouvir uma vez”. 

3. Throbbing Gristle – Hamburger Lady

https://www.youtube.com/watch?v=gTljpH7cfW8

O título “Hamburger Lady” (senhora hambúrguer, em português) abre caminho para imensas possibilidades. À primeira vista, tanto poderá ser um inocente conto sobre uma senhora que vende hambúrgueres ou uma terrorífica história sobre uma mulher que confeciona hambúrgueres de carne humana. Mas, após acompanhar a canção com a letra, apercebemos-mos que é muito mais bizarro do que qualquer uma das versões já mencionadas: Hamburger Lady / She’s dying / She is burned from the waist up”, sussurra o narrador, dotado de uma voz robótica estranha, quase indecifrável.

A canção, pertencente aos Throbing Gristle, banda pioneira da música industrial, é uma narração de partes da carta de Al Ackerman, um escritor que costumava explorar o desespero e a insanidade humana nas missivas que enviava. Neste texto, Ackerman escreve sobre “o pior que viu no Vietname”: uma vítima de queimaduras de Napalm, que “não tem morte, nem recuperação, à vista”, devido “aos avanços médicos”.

4. Nirvana – Nameless, Endless

Caso decidam ouvir na íntegra “Nevermind”, segundo álbum dos icónicos Nirvana, não se deixem adormecer. Tal como era moda nos anos 90, a banda de Seattle decidiu esconder “Endless, Nameless” 10 minutos após o disco concluir. Esta canção, que é uma versão distorcida e mórbida de Lithium, pregou muitos sustos há duas décadas, em particular a quem decidiu não desligar o walkmen após o disco acabar “oficialmente”.

5. Pink Floyd – Careful with that axe Eugene 

A faceta sombria dos Pink Floyd vai para além de “Echoes”. “Careful with That Axe, Eugene”, lançado como lado B do single “Point me at the Sky”, bem que podia ser banda sonora de um filme de terror. As atmosferas negras e os berros (e sussurros) de Roger Waters são um cocktail que, para alguns, poderá ser arrepiante. 

6. Jocelyn Pook – Masked Ball

https://www.youtube.com/watch?v=GTgG6HefrW8

Tudo o que pertença ao imaginário do oculto é, à partida, assustador – especialmente se forem símbolos religiosos invertidos. Em “Masked Ball”, da compositora britânica Jocelyn Pook, sons de órgãos de igreja servem de base para uma versão invertida de cantos da liturgia ortodoxa romena. 

7. Au Clair de la Lune (1860)

“Au clair de la luna, mon amis Pierrot…“, e já se sabe o que vem de seguida. Entre o cancioneiro do folclore francês, “Au Clair de la Lune” é uma das baladas mais adoradas e conhecidas. A sua melodia principal, agradável e fácil, foi usada para, aquela que é considerada, a primeira gravação de sempre. À partida, não parece um desafio assustador, mas, com os avanços tecnológicos, a má qualidade desta gravação torna “Au Clair de la Lune” um pouco mais macabro.

8. Radiohead – Pulk/Pull Revolving Doors

Para Thom Yorke, vocalista dos Radiohead, a mensagem de “Pulk/Pull Revolving Doors” é que o desconhecido destino do futuro é assustador. Na altura em que escrevia o “Amnesiac”, álbum em que se insere esta faixa, Yorke estava obcecado por “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll.

“Quando Alice caminha pelo corredor e encontra várias portas. Eu estive nesse corredor mental há 6 meses [durante o processo de criação do disco]”, conta Yorke, admitindo que “tinha medo de abrir as portas”, porque “não sabia o que ia acontecer a seguir”.  

9. I’m in a Coffin – Finally Happy

Pouco se sabe sobre os “I’m in a Coffin”. São, segundo o site Metal Archives, uma banda de “Black Metal Depressivo” focado em temas relacionados com a “autodestruição”, o “ódio próprio”, o “suicídio” e a “depressão”. Após os primeiros segundos de “Finally Happy”, faixa do álbum de estreia da banda norte-americana, tudo começa a fazer sentido. Os berros, de tom alto, são uma personificação da desesperança e a letra é sobre alguém que está motivado a pôr um fim à sua própria existência, tornando-se “finalmente feliz”.

10. Korn – Daddy

Os traumas podem destruir vidas. Em “Daddy”, dos Korn, o vocalista Jonathan Davis dá a possibilidade aos ouvintes de compreenderem, um pouco, os efeitos devastadores de abusos sexuais sofridos durante a infância. “Durante a minha infância, fui abusado por outras pessoas. Eu queixei-me aos meus pais e, apesar dos meus esforços para ser levado a sério, eles não acreditaram em mim. Não fizeram nada para me protegerem”, disse Davis à revista Kerrang em 2008. Segundo os colegas de banda, os choros ouvidos no final da canção não foram combinados.

11. Chelsea Wolfe – Movie Screen

Se “Apokalypsis”, segundo disco de Chelsea Wolfe, começa com a aterrorizadora “Primal / Carnal“, “Movie Screen” finaliza o álbum de forma igualmente sombria. Wolfe sussurra “What’s wrong with me?” (“O que se passa comigo?”, em português) e, a partir daí, várias melodias serpenteadas tomam contam da canção. Ouça por si.

12. Nurse with Wound – I’ve Plumbed this Whole Neighborhood

https://www.youtube.com/watch?v=QjT1iDurP0w

Se o barulho assusta, o silêncio também – especialmente quando, à mistura, há vozes de crianças a brincarem num baloiço. “I’ve Plumbed this Whole Neighborhood” brinca com os nossos sentidos, usando sons que indicam a presença de alguém irreconhecível: passos de alguém que se aproxima, uma porta que se abre ou uma respiração cada vez rápida. Vale tudo para nos pregar um susto.

13. Diamanda Galás – The Litanies of Satan

Diretamente vinda da sua formação clássica, Diamanda Galás usou o seu talento vocal para compor “The Litanies of Satan”. Movida pelo imaginário satânico e pelo poema homónimo de Charles Baudelaire, a artista avant-garde norte-americana dá voz a um demónio. No mínimo, arrepiante.