É a Islândia, uma das nações socialmente mais avançadas do planeta. Mas isso não aconteceu sem luta.

Se todas as mulheres do país tirassem folga no mesmo dia, o que é que acontecia? Quando falamos em folga falamos em não irem trabalhar, mas também em não cuidarem dos filhos, não cozinharem, não limparem a casa. A ideia aconteceu mesmo — não em Portugal, mas na Islândia, há 40 anos. 

Não foram todas as mulheres, mas foram 90% — o suficiente para mexer com o país. No jornal Morgunbladid, nenhuma mulher trabalhou nesse dia. Resultado: o jornal saiu com 16 páginas, um número inferior às 24 páginas habituais. Styrmir Gunnarsson, na altura chefe de redação, diz à BBC que “ninguém viu aquela ação como um protesto”, mas sim como “uma petição para a igualdade de direitos, um acontecimento positivo”. Na altura, nenhuma colaboradora foi obrigada a descontar um dia de férias por ter faltado.

O “dia livre das mulheres” aconteceu a 24 de outubro de 1975. Manifestaram-se pela igualdade de género e pararam bancos, escolas e fábricas. Eram cerca de 25 mil mulheres, numa ilha que tinha cerca de 220 mil habitantes. Como resultado, os pais foram obrigados a levar as crianças à escola, tarefa que habitualmente não lhes cabia, salienta a BBC. As mulheres pediam mais representação, mais igualdade nas tarefas, mais atenção à diferença de salários. Em 1975 só havia três mulheres deputadas, 5% do Parlamento, lembra a publicação. A ideia do “dia livre” tinha partido das Red Stockings (Meias Vermelhas), um grupo feminista radical fundado em 1970. 

Cinco anos depois, outro marco. Foi em novembro de 1980 que Vigdis Finnbogadottir ganhou as eleições presidenciais da Islândia. A nova presidente era uma mãe solteira divorciada e ganhou o título de “primeira mulher presidente num país da Europa”. Nesse lugar ficou durante 16 anos, abrindo caminho para que a Islândia ficasse conhecida como “o país mais feminista do mundo”. 

A partir daí, as mulheres entraram em força. Em 1983 surgiram as primeiras listas parlamentares só compostas por mulheres e apareceu um novo partido, o Women’s Alliance (Aliança de Mulheres). Em 2009, chegava ao poder a primeira mulher a exercer o cargo de primeira-ministra e a primeira assumidamente lésbica. Johanna Sigurdardottir foi uma das primeiras líderes de governo (senão a primeira) que falou abertamente sobre a sua orientação sexual.

No ano passado, o Observador entrevistou a mulher de Johanna, ex-primeira-dama da Islândia. Hoje o Parlamento da Islândia conta com 28 mulheres, ou seja, 44% do total. Portugal, por exemplo, elegeu um Parlamento com 30% de mulheres nas eleições legislativas de outubro. 

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR