Isabel Moreira, deputada do PS, afirmou que a ação das mulheres que são deputadas à Assembleia da República é mais escrutinada que a dos homens e que ainda é difícil em Portugal que as mulheres sejam “levadas a sério” nos corredores da política. A deputada afirmou ainda que seria interessante experimentar suspender a lei das quotas, que obriga à introdução de 33% de mulheres nas listas partidárias para saber se os partidos continuariam a integrar mulheres. A resposta das restantes mulheres presentes na sala: haveria menos mulheres a serem eleitas.

Num debate no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, que antecedeu a ante-estreia do filme “As Sufragistas”, Isabel Moreira debateu com Teresa Leal Coelho, deputada do PSD, Clara Sotto Mayor, juíza do Supremo Tribunal de Justiça e Anália Torres, socióloga e coordenadora dos Estudos de Género da Universidade de Lisboa, o papel da mulher na sociedade portuguesa e a sua evolução desde que as mulheres tiveram acesso ao voto. A deputada do PSD afirmou que hoje em dia “a participação e integração da mulher não é só uma questão de direitos humanos” e que diz respeito a toda a sociedade. “O progresso sustentável da sociedade depende da integração das várias sensibilidades”, afirmou a social-democrata.

Na plateia deste encontro estavam notáveis da esquerda e da direita. Ana Catarina Mendes, deputada do PS e uma das figuras mais próximas de António Costa, marcou presença, assim como o deputado social-democrata Duarte Pacheco. Também o deputado do PAN, André Silva, esteve neste encontro, assim como a deputada bloquista Joana Mortágua. Maria de Belém, candidata à presidência da República e declarada feminista, foi uma das últimas figuras a chegar, cumprimentando efusivamente outra colega da política, Leonor Beleza, ex-ministra da Saúde de Cavaco e atual presidente da Fundação Champalimaud. Numa das suas primeiras ações como ministra, também Teresa Morais assistiu a este debate.

Anália Torres afirmou durante este encontro que devido ao facto de as mulheres terem alcançado o voto há relativamente pouco tempo em Portugal, há a tendência para se considerar que o país “avançou imenso”, mas a socióloga avisa que Portugal partiu “de um patamar atrasado”. A comprovar isso estava Clara Sotto Mayor, a mais jovem juíza do Supremo Tribunal de Justiça, que sublinhou que especialmente no Direito, “a racionalidade pura” ainda aparece como “superior a racionalidades mais atentas ao caso concreto, que são mais femininas”.

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Feminista de esquerda ou direita? Feminista, ponto

Isabel Moreira considera que a desigualdade ainda está muito presente também na política, especialmente quando as mulheres se tentam afirmar. “Um homem se for contundente é efusivo. Se for uma mulher a ser contundente, é histérica”, avançou a deputada, começando por afirmar que a Assembleia da República “não trata bem as mulheres deputadas”. Para a socialista, a melhor forma de defender os direitos das mulheres é através da defesa do Estado Social e da criação de mecanismos que façam cair por terra todas as formas de discriminação contra o género feminino, afirmando ser uma feminista de esquerda.

Teresa Leal Coelho retorquiu que era “uma feminista, ponto” e que a melhor forma de as mulheres garantirem a sua representatividade política é votando nas eleições. Durante um período mais quente de disputa política, Isabel Moreira confrontou Leal Coelho com o facto de o PSD não ter apoiado a iniciativa de garantir às mulheres solteiras acesso à procriação medicamente assistida, garantindo que “daqui a uns meses” esse direito já deverá estar assegurado – dando a entender que essa será uma prioridade para o possível Governo à esquerda.

E se as quotas impostas por lei aos partidos fossem retiradas? Todas as convidadas afirmaram que menos mulheres seriam eleitas. “Toda a experiência que tivemos durante anos é que sem quotas, as coisas não avançam. Especialmente em lugares de poder, porque estes são escassos”, concluiu Anália Torres.