O desemprego levou uma jovem madeirense, licenciada em Biologia, a procurar outros caminhos e, há cinco anos, dedicou-se à criação de uma bijutaria com características únicas porque utiliza o bordado Madeira, sendo apreciada por residentes, emigrantes e turistas.

“Em 2010 fiquei desempregada e como sempre gostei de criar e de trabalhos manuais, dediquei-me à criação de bijuteria com inspiração vintage [considerado um estilo de moda das décadas entre 1920 e 1960], que gosto muito”, disse Joana Martins à agência Lusa.

A artista mencionou que começou “a fazer experiências, a vender em feiras” e, um ano depois, “surgiu a ideia de juntar o bordado Madeira”, uma arte tradicional da região que lhe “está no sangue”, pois nasceu e cresceu no “mundo” deste trabalho, porque a mãe (Guida Vieira) foi uma das sindicalistas madeirenses que mais lutou pelos direitos das bordadeiras de casa no arquipélago ao longo dos tempos.

“Fiz desenhos, experiências e comecei a vender. Registei a marca. É realmente uma coisa única utilizar a inspiração do Bordado Madeira nas minhas peças”, salienta, referindo que conta com a colaboração de uma bordadeira e que nas suas peças são usados os pontos e as cores tradicionais do bordado Madeira.

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Os desenhos são originais, utiliza motivos de flores e outros ligados à natureza, como os animais que decoram acessórios como colares, brincos, pulseiras, pregadeiras, marcadores de livros, penduradores de malas, além de outras pequenas recordações e até pequenos presépios.

“O meu trabalho tem tido, ao longo dos anos, muita recetividade, as pessoas acham diferente e os turistas valorizam pelo facto de usar o bordado Madeira feito à mão”, referiu.

Sobre a produção, Joana afirma que “foi crescendo a cada ano e cresceria mais se tivesse mais um par de mãos e o dia a duração de 48 horas”, indicando que, em 2012, conseguiu mesmo “viver só desta produção de bijuteria, tirando um salário”, mas, admite, que por ser “mulher dos sete ofícios”, dedica-se “a outras atividades paralelas”.

A artesã aponta que, num ano, consegue produzir uma média de mil peças e que as encomendas “tradicionalmente aumentam nos meses anteriores ao Natal e têm também um pico nos meses com mais visitas de turistas [primavera e outono], mantendo-se, no resto do ano, mais ou menos constantes, dada a natureza turística da ilha”.

Outra característica do seu trabalho é que cada um dos objetos que produz é “uma peça única”, disse, sublinhando que não gosta de copiar, até porque “mesmo que peçam, nunca sairá igual” e que não faz “trabalho em série”, mas está “aberta a sugestões” por parte das pessoas que lhe fazem encomendas e que querem trabalhos personalizados.

Joana Martins também considera que os preços de venda das suas peças são “verdadeiramente acessíveis”, variando entre os cinco e os cerca de 20 euros, “se for mais elaborado e tiver mais bordado”, defendendo que “todos devem ter acesso a coisas bonitas”.

As vendas são feitas nas feiras, através da internet (www.artesdelfa.com e facebook.com/artesdelfa) e na loja colaborativa para artesãos que abriu na Madeira, no Funchal, em julho de 2014, e lhe fez o convite para estar presente “também foi uma boa oportunidade” para mostrar o seu trabalho.

A artesã declara que os seus clientes são sobretudo portugueses, da Madeira e do continente, tendo também encomendas de emigrantes.

“Isto também é um trabalho duro e o retorno não é imediato, sendo preciso aperfeiçoar e estar sempre atento ao que as pessoas gostam, à moda”, argumenta, destacando que usa “matéria-prima de qualidade”, que faz questão de comprar “só a fornecedores portugueses”.

As peças são produzidas em casa, mas Joana tem “um sonho: ter um ateliê aberto ao público, fazer outras coisas, criar as peças todas de raiz, trabalhar os próprios metais, uma oficina completa”.