Estar perto de uma estação de tratamento de resíduos sólidos. Só o nome parece assustar e, mesmo que o jornalismo nos ensine a não tirar conclusões ao desbarato, arriscamos escrever que poucas são as pessoas que gostam de estar perto de um edifício que sirva para acumular e tratar lixo. É o cheiro, a poluição e a própria estética da construção, nada costuma apelar aos sentidos e construir uma instalação destas é quase o mesmo que cravar no chão um sinal com a mensagem: “Não se aproximem”. Mas, exageros à parte, Copenhaga já está a construir uma estação de resíduos que faça o contrário — que atraia pessoas e até as convença a irem fazer esqui.

Confuso? Passamos a explicar. A capital dinamarquesa é uma das cidades mais planas na Europa. Por um lado isto é bom, pois as pessoas agradecem e a cidade convida a que se dê à perna em cima de uma bicicleta. Por outro, em lado nenhum de Copenhaga se consegue aproveitar a muita neve que ali cai todos os anos. Como as montanhas não brotam da terra de um dia para o outro, os habitantes da cidade têm que fazer as malas e viajar cada vez que pretendem dar uso aos esquis ou às pranchas de snowboard. Mas isto não é um problema.

A produção de lixo e a eficiência energética da cidade é que o são. Por isso é que já está a ser reconstruída uma central de tratamento e reciclagem de resíduos sólidos que promete ajudar. O projeto, com conclusão prevista para 2017, pretende erguer uma nova estação que conseguirá processar cerca de 400 mil toneladas de resíduos por ano, com uma eficiência energética a rondar os 99%. A Bjarke Ingels Group (BIG), estúdio de arquitetura responsável pela obra, revelou que a nova estação fornecerá aquecimento a cerca de 160 mil habitações em Copenhaga, além de energia para cerca de outras 62.500 casas.

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A estação terá capacidade para reciclar lixo, metal, água e até cinzas, através da combustão. O projeto enquadra-se na política energética da Dinamarca — em 2013, dados da Agência Europeia do Ambiente mostravam que apenas 4% do lixo produzido no país vai parar a aterros a céu aberto, sendo que 42% é reciclado e 54% transformado em energia. “Em vez de considerarmos a Amager Resource Center [nome da estação] como um projeto isolado, decidimos mobilizar a arquitetura e intensificar a relação entre o edifício e a cidade”, explicou o estúdio. E aqui voltamos à tal parte do esqui.

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Foto: Bjarke Ingals Group (BIG) Architects

Porque esta relação entre a construção de betão e a cidade será feita pelo telhado. No topo da estação de tratamento de resíduos, que terá uma altura de 85 metros, estará uma pista de ski, além de “espaços verdes para caminhadas, corridas e outras atividades de montanha”, como paredes de escalada. Ou seja, os habitantes de Copenhaga poderão facilmente praticar estes desportos de inverno, já que a estação estará localizada a apenas três quilómetros do centro da cidade. O projeto estava previsto há muito e, em 2011, até foi distinguido pela revista Time como uma das ideias mais inovadoras do ano.

Mas a central fará ainda mais e o que falta contar até serve para consciencializar as pessoas. A Amager Resource Center vai avisar a população de Copenhaga cada vez que libertar uma tonelada de dióxido de carbono para a atmosfera — emitindo anéis de fumo com cerca de 30 metros de diâmetro. Estes anéis serão produzidos por via do processo de condensação da água obtida dos gases acumulados na central pelo processo de combustão no tratamento dos resíduos sólidos. O Bjarke Ingels Group é um estúdio com sedes em Copenhaga e Nova Iorque já por várias vezes distinguido com prémios internacionais (foi eleito o melhor escritório de arquitetura de 2014, por exemplo). O estúdio está entre os oito finalistas que apresentaram projetos para a construção do novo estádio do Barcelona.