Apesar de se ter verificado um aumento do consumo de velas a partir de 2010, esta é a única fábrica de velas que se mantém naquela Região Autónoma, depois de uma outra, em Santana, ter fechado. Com mais de 50 anos de existência, a fábrica passou a ter mais encomendas a partir de 2010, facto que o sócio Rui Noronha relaciona com o temporal de 20 de fevereiro de 2010, que causou mais de 40 mortos, e com a crise económica e financeira que se seguiu.

“Aumentou a devoção das pessoas e sempre as faz acender uma velinha para lhes ajudar às suas promessas”, sustenta.

“Ela [a fábrica] já existe há muitos anos, mas, só a partir de 1999, é que passou a ter a designação comercial de “A Velas Alves, Noronha Lda”, afiançou à agência Lusa Rui Noronha, um dos dois sócios da mesma, onde ainda trabalha mais uma pessoa.

Localizada na Estrada dos Moinhos, no concelho de Santa Cruz, a fábrica está instalada numa cave que sustenta o rés-do-chão da habitação onde vivem os seus proprietários. Produz para as paróquias da Região, para as lojas dos 300 e para as ervanárias onde os esotéricos, vulgarmente conhecidos por bruxos, feiticeiros e videntes, se abastecem. Das cerca de 20 toneladas de velas produzidas anualmente, nove são para as paróquias e 12 para as ervanárias.

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Rui Noronha revela que a maior procura situa-se entre maio e outubro, por ocasião das festas religiosas nos vários concelhos, sendo que Machico é a paróquia que mais velas compra (cerca de 3,5 toneladas) sobretudo para a festa de Nossa Senhora dos Milagres (09 de outubro).

A fábrica também produz velas decorativas para casamentos e para o Natal, presépios, mas a grande procura serve para as denominadas promessas de corpo – mãos, pernas, cabeças, corações, rins entre outros órgãos – e pénis e vaginas para as ervanárias.

“Quase toda a importação de parafina – cerca de 1,2 toneladas por mês – é dirigida para o fabrico de velas para as ervanárias”, referiu Rui Noronha.

Velão de sete e três potências (sete ou três cores, respetivamente) ao São José do Trabalho, contra a inveja, o abre caminhos, o da fortuna, num conjunto com mais de 60 finalidades, figuram entre os que são destinados às ervanárias.

“Aqui [na fábrica], faz-se de tudo porque as despesas são enormes”, justificou o sócio, explicando que o seu trabalho é produzir as velas. “A mim só me compete fabricar, a partir daí eles lá sabem o que fazem”, argumentou.

Questionado sobre se o seu trabalho serve a Deus e ao Diabo, Rui Noronha, ri-se e declara: “não faço para o Diabo, faço para a parte esotérica – as pessoas é que podem invocar o Diabo – e, nesse sentido, sim, já que faço para um lado e para o outro. Ficam todos servidos e eu fico no meio”.