Banda: EL VY
Álbum: Return to the Moon
Editora: 4AD

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EL VY não é uma banda. É uma colaboração à distância entre Matt Berninger (The National) e Brent Knopf (Menomena/ Ramona Falls). E, neste caso, a diferença entre ser uma banda ou ser uma colaboração ouve-se com nitidez: apesar de bons momentos (“Sad Case”, “Happiness Missouri”), Return to the Moon é um álbum inconstante. Começa por um single orelhudo de indie rock dançável, circula depois por um rock alternativo inspirado no travo funk de Beck, e apoia-se alternadamente em melodias pomposas com órgãos e baladas ao piano. Ou seja, é uma colagem de ideias interessantes que, no conjunto, carece de uma coerência. E a razão é simples de explicar: nem Berninger (letras e voz) nem Knopf (música) fizeram concessões – estão ambos iguais a si próprios, correm em paralelo e só ocasionalmente os seus talentos se cruzam.

Brent Knopf contribuiu para EL VY com o que se esperaria dele: guitarras intrincadas, arranjos complexos, melodias grandiloquentes, produção (por vezes) low-fi. A questão é que Matt Berninger emprestou muito mais do que apenas o seu registo vocal (que, apesar de tentar adequar às canções, geralmente cai em terrenos que lhe são habituais). Berninger aproveitou a oportunidade de não estar amarrado à melancolia sofisticada de The National para converter EL VY num projecto íntimo, regressando à sua adolescência no Cincinatti, no Ohio, e narrando o despontar de paixões musicais (The Smiths, The Cramps, Hüsker Dü, como nos conta em “Paul is Alive”) e amorosas (como em “It’s a Game”). É, como o próprio admite, o álbum mais autobiográfico que já compôs, resultado de uma libertação artística que lhe permitiu fugir à eloquência da escrita de The National desde Boxer (2007) e a ceder também ao registo gozão de que (ab)usou particularmente na fase inicial da banda (aqui evidente em “I’m the man to be”). Mas, talvez porque focado nessa dimensão pessoal, facilitou algumas vezes no desencontro entre a sonoridade e o seu registo vocal.

[Ouça aqui o tema “Return to the Moon”]

A comparação com The National é óbvia e, apesar da personalidade artística de Knopf, o risco de soar a uma compilação de lados-B da banda era real. Isso, saliente-se, não acontece, embora “No Time to Crank the Sun” e “It’s a Game” pudessem perfeitamente constar num dos dois álbuns mais recentes de The National. Pode-se, assim, afirmar que EL VY é uma espécie de projecto pessoal de Matt Berninger, assistido musicalmente por Brent Knopf? Seria preguiçoso e injusto reduzir a banda e o álbum a isso. Então, para além de um álbum interessante, o que é Return to the Moon? Não é fácil dizer. E, como tal, mais vale apontar ao que será: uma nota de rodapé nas carreiras de ambos, nomeadamente na de Berninger, que, com os The National, nos habituou a esperar dele sempre o que por aí se faz de melhor.

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