“A vida é cinzenta e aborrecida, por isso mais vale divertires-te um pouco quando te vestes.” Esta é uma das muitas frases de Iris Apfel, que aos 93 anos tem estilo e sabedoria para dar e vender. Foi apenas há dez anos que a designer de interiores viu o seu nome subir às luzes da ribalta graças a uma exposição no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, onde o seu guarda-roupa foi a principal atração. O sucesso de Iris Apfel levou a que marcas como Kate Spade a tornassem protagonista das suas campanhas e a que Albert Maysles imortalizasse a história da nonagenária no recente documentário Iris.

Apesar de a idade ser uma obsessão constante, há cabelos brancos e rugas que aos poucos vão fugindo ao Photoshop e que saltam à vista numa indústria deslumbrada pela juventude. Para Linda Rodin, 67 anos, stylist e fundadora da linha de cosméticos Rodin Olio Lusso, a idade e o estilo não são uma correlação direta. Em entrevista ao site The Man Repeller, Rodin confessa que o seu estilo pessoal não tem nenhuma fórmula secreta. “Herdei o cabelo branco e nunca o quis pintar e uso óculos porque não consigo ver bem. Não é que eu tenha escolhido este estilo, este estilo é que me escolheu a mim.”

Carolyn Mair, especialista em Psicologia aplicada à moda e professora na universidade London College of Fashion, no Reino Unido, clarifica em declarações ao Observador que “a idade não molda a moda. De forma geral, a moda é concebida e comercializada para outros grupos que não os idosos. Apesar do seu poder de compra, as pessoas mais velhas são maioritariamente ignoradas pela moda.”

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Há cada vez mais mulheres acima dos 60 anos a figurar em imagens da indústria da moda — aliás, 2015 tem sido um ano em cheio no que toca a estas campanhas –, mas para Carolyn Mair estas continuam a ser exceção e não a regra.

“Estamos a ver algumas mudanças na indústria da moda relativamente a diversidade. No entanto, estas mudanças são raras e frequentemente estereotipadas. Temos alguns ‘ícones’ mais velhos que são usados para promover produtos de beleza, mas as imagens são alteradas digitalmente para remover quaisquer sinais de idade.”

Quem não tem medo de revelar a sua idade é uma das “avozinhas” mais conhecidas do Instagram. Baddie Winkle, o alter ego de Helen Ruth Van Winkle, tem 87 anos e juntamente com a sua bisneta de 19 anos criou uma conta para mostrar a rebelde que sempre existiu dentro de si. Baddie tem mais de um milhão e meio de seguidores e recentemente deu a cara pela campanha de verão da Dimepiece, uma marca de streetwear sedeada em Los Angeles. Em comunicado, a Dimepiece justificou a sua escolha: “A nossa marca sempre foi sinónimo de poder feminino intemporal e continuamos a encorajar esta mentalidade na nossa nova campanha.”

Carolyn Mair defende, no entanto, que a pontualidade da representação de mulheres mais velhas deveria torna-se mais assídua para que o conceito de diversidade ganhasse contornos bem mais reais. “Se as marcas usassem mulheres mais velhas nas suas campanhas conseguiriam atrair clientes mais diversificados.”