A necessidade de mais 1,4 mil milhões de euros no Novo Banco, decorrente dos testes de ‘stress’ realizados pelo BCE, poderá ter um impacto nos bancos que participam no Fundo de Resolução, apesar de o Banco de Portugal considerar “remota” essa possibilidade.

Os analistas contactados pela agência Lusa são unânimes em considerar que existe um risco de os bancos que participam no Fundo de Resolução, acionista do Novo Banco, terem de assumir novas responsabilidades, não através de um possível aumento de capital para suprir os 1,4 mil milhões de euros, mas através de uma maior diferença entre os 4,9 mil milhões de euros colocados pelo fundo no banco liderado por Stock da Cunha e o valor de uma futura venda.

João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa, refere que esta situação “traz alguma pressão para o sistema financeiro português” e “não é uma boa notícia”.

Apesar de “a contribuição dos bancos para o Fundo de Resolução ser constante e que não vai aumentar em função das necessidades do Novo Banco”, João Pereira Leite está preocupado com o que resultará da venda.

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“O Banco de Portugal vai querer comportar as necessidades de capital com a entrada de um novo acionista, alterando as condições anteriores, uma vez que o novo ou novos acionistas não terão de comprar 100% do banco”, mas, por outro lado, os compradores interessados vão descontar o esforço financeiro para dar solidez ao Novo Banco.

Pedro Santos, da XTB, reforça que será “o novo dono a responsabilizar-se [pela recapitalização] e isso terá também impactos na banca porque o valor de venda será mais baixo”, o que a acontecer “terá impacto nos rácios dos bancos que participam no Fundo de Resolução porque terão de assumir imparidades da venda do Novo Banco”.

Um outro analista que não quis ser identificado frisa que a venda da instituição “dependerá das condições de mercado ou da cotação de outros bancos portugueses e europeus”, sublinhando que “a incerteza sobre o montante de capital foi uma das principais razões para que a venda anterior não tivesse avançado”.

O analista da XTB indica ainda que “a celeridade é importante porque quanto mais tempo estiver à venda menor será o seu valor” e João Pereira Leite acrescenta que tem de haver rapidez também na venda de ativos, como a seguradora GNB, que “é relativamente fácil de vender”.

No entanto, o responsável do Banco Carregosa alerta que o Novo Banco tem de se concentrar em vender ativos que consomem capital: “Por exemplo, um banco que tem 1000 milhões de euros de capital e se tem 1000 milhões investidos em obrigações do tesouro português não consome capital, mas se esse mesmo banco tiver 1000 milhões em crédito para PME sem ‘rating’, tal já consome capital porque não pode recorrer ao Banco Central Europeu (BCE) para mais empréstimos dando contravalor esses ativos”.

Para o analista não identificado, o Novo Banco “continua a ser interessante para os compradores, até porque no cenário mínimo superou o teste” e, mesmo no pior cenário, “existem factos que já estão ultrapassados”, como a questão de o teste de ‘stress’ indicar no pior cenário que a economia portuguesa faria uma contração de 2% em 2015 quando todos sabemos que chegaremos ao fim do ano com um crescimento entre os 1,5 e 1,8% do PIB”.

Os bancos que participam no Fundo de Resolução com maior exposição ao Novo Banco são a Caixa Geral de Depósitos, com 1,2 mil milhões de euros, seguido do BCP, com 1,1 mil milhões de euros, enquanto o BPI e o Santander Totta assumem um risco inferior a 500 milhões de euros.

No sábado, data de divulgação dos testes de ‘stress’, o Novo Banco disse em comunicado que espera concluir “nas próximas semanas” o plano de reestruturação das suas atividades e que este plano venha a estar concluído nas próximas semanas.

Já o Banco de Portugal disse que iria iniciar “de imediato” uma nova fase na venda do Novo Banco.

As dúvidas quanto às necessidades de recapitalização do Novo Banco foram um dos obstáculos à venda da instituição financeira, que em setembro foi interrompida depois de terem falhado as negociações entre o Banco de Portugal e os três candidatos que chegaram à fase final.

O Novo Banco ‘chumbou’ nos testes de ‘stress’ do BCE no cenário mais adverso, ao apresentar um rácio de capital CET1 [Common Equity Tier 1] de apenas 2,4%, abaixo do mínimo de 5,5%, mas passou no cenário base com um rácio de 8,2% contra os 8% pedidos pelo BCE.

Neste cenário, foi detetada uma insuficiência de capital de 1398 milhões de euros, que terá de ser colmatada no prazo de nove meses, até ao verão do próximo ano.