As capitais de México e Peru — Cidade do México e Lima, respetivamente — distam 4252 quilómetros uma da outra, segundo o nem sempre fiável Google Maps. E isto indo de avião, cortando caminho pelo Pacífico. Para fazer o mesmo percurso de carro é necessário atravessar sete países: Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Equador. Tarefa digna de um Gonçalo Cadilhe ou qualquer outro aventureiro-escriba do género. Isso não impede, contudo, que faça algum sentido misturar no mesmo restaurante a comida típica de uma e outra pátria: tacos e ceviches. Pelo menos mais sentido do que faria, por exemplo, misturar gaspacho alentejano com borscht ucraniano, sendo que Elvas e Kiev estão separadas por menos de 4000 quilómetros.

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A introdução pode parecer uma divagação despropositada mas não, é apenas uma divagação. O seu propósito é abordar o conceito do El Clandestino, restaurante/bar que abriu há pouco mais de uma semana no início do Príncipe Real — ou no final do Bairro Alto, depende da perspetiva — e cuja oferta gastronómica puxa, precisamente, pelas cozinhas de México e Peru. Não é uma taqueria, não é uma cevicheria é um dois em um a que se junta uma forte componente de bar, onde o México vence por goleada, tal a quantidade de margaritas e tequilhas (puras e não só) disponíveis. Eis cinco factos que se devem ter em conta antes de visitar o estaminé.

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O sinal, à entrada, não engana: tacos y ceviche. Os tacos têm duplo significado, além dos que se comem, também os há de madeira a servir de decoração. (foto: DR)

1- Não tem nada de clandestino

O primeiro ponto pode ser óbvio mas convém ressalvar, tendo em conta a enorme fama de alguns dos restaurantes clandestinos de Lisboa. Este El Clandestino não é um deles, está dentro da lei — aparentemente, pelo menos — e nem sequer esconde grandes segredos: até a cozinha está ao alcance da vista dos clientes, de quem está separada apenas por um enorme parede envidraçada. “Era uma das nossas intenções desde o início ter a cozinha completamente à mostra”, explica Salvador Sobral, um dos sócios do espaço.

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A zona do El Clandestino com vista para a cozinha. (foto: © Tiago Pais / Observador)

2 – Os tachos estão bem entregues

Com vista direta para a cozinha convém que as coisas corram bem nessa área, até porque qualquer atrapalhação pode ser facilmente descortinada pelos clientes. Mas isso não deverá ser um problema: a dita está bem entregue, pelo menos ao nível do currículo. O chef consultor, António Amorim, passou pelas reputadas cozinhas de Vila Joya e Feitoria, além de ter chefiado o recém-encerrado Rota das Sedas e assinado a carta do Blend a meias com Chakall. Já o chef residente, Fábio Sobral, oferece experiência importante no tipo de sabores em questão: passou por 100 Maneiras, The Decadente e chega ao El Clandestino vindo diretamente de Londres onde trabalhou no Lima, restaurante peruano com uma estrela Michelin.

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Uma das entradas, a tostada de atum (9,50€), e uma margarita de hibiscus (5,50€).
(foto: © Tiago Pais / Observador)

3 – Não gosta de sofrer com picante? No hay problema

Cozinha centro/sul-americana que se preze deverá ter a despensa recheada de bons picantes, certo? Certíssimo. E o El Clandestino não é exceção: entre as cinco entradas, oito tacos e seis ceviches disponíveis há propostas com graus variáveis de atrevimento nesse campeonato, devidamente assinalados na ementa. Mas tal como nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo é que é malagueta pica. Ou pica assim tanto, pelo menos, a ponto de se tornar desconfortável. “Não exageramos no picante, as quantidades estão adaptadas ao paladar dos portugueses”, garante Salvador Sobral. Ainda assim, convém ter alguma atenção ao escolher, tanto a quesadilla Tinga (5,30€) como os tacos Pastor (7,50€), de carne de porco, e Tinga (6,90€), de frango, têm direito ao grau máximo de picante — não na escala de Richter mas sim na escala do El Clandestino –, com três malaguetas cada.

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Os tacos devem ser enrolados e comidos à mão, nem pense em pôr-lhes talheres. As molas não são para comer, ok? (foto: DR)

4 – Quer beber só um copo? Tampoco hay problema

A vertente de bar do El Clandestino não deve ser menorizada. Pelo contrário. Não só pela zona em questão, que é muito forte no pós-jantar, como pela longa ementa de cocktails, muitos deles de autoria do chefe de bar, Bruno Veiga. Da tequilha servida em tacos, mas dos de madeira, ao mezcal, das margaritas (clássicas ou aromatizadas) ao pisco sour, a quem cabe defender, neste capítulo, a honra do Peru, a oferta está à altura do conceito. Curiosamente, nalguns casos os preços variam ligeiramente caso sejam servidos à refeição ou fora dela.

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Bruno Veiga, um barman abençoado pelas santinhas mexicanas.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

5 – A arte ajuda à digestão

Não faltam peças de arte espalhadas pelo El Clandestino, a começar na enorme “Favela Vidigal”, uma representação da favela carioca com o mesmo nome de autoria dos irmãos Bete e Gezo Marques, capaz de prender a atenção do mais esfomeado dos clientes, tal a sua imponência. Mas há mais: espalhadas pelo restaurante estão algumas fotografias do guatemalteco Gonzalo Marroquin e nas traseiras há um saguão, ideal para fumadores, decorado com os altares aos mortos tipicamente mexicanos, de autoria de Maciel. Já para a mezzanine, que ainda está a ser finalizada, Gezo Marques criou a obra “Até que a Morte nos Separe”.

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Os altares mexicanos do saguão, criados por Maciel (© Tiago Pais / Observador)

Nome: El Clandestino
Morada: Rua da Rosa, 321 (Príncipe Real), Lisboa 
Contactos: 91 283 2777 / facebook.com/elclandestino
Horário: Todos os dias, das 19h às 02h. Em breve abrirão também aos almoços
Preço Médio: 20€
Reservas: Aceitam