O advogado de José Sócrates considerou que a detenção do ex-primeiro-ministro e a condução da “Operação Marquês” foi uma “afirmação de poder e de autoridade” de quem tem poder “para assassinar o caráter” de uma pessoa.

Para o advogado João Araújo, um dos defensores de Sócrates no processo “operação Marquês”, a detenção do ex-primeiro ministro é uma afirmação de quem tem “o poder de prender, de libertar e de reduzir” e de “assassinar o caráter” de uma pessoa, mais do que uma gestão política.

“Aquilo que normalmente se tende a pensar que é uma gestão política, que vamos favorecer o partido A contra o partido B, vamos aproveitar o congresso, vamos dar cabos das eleições, isso não acredito, mas acredito que há uma gestão política profunda. Foi uma afirmação de poder e de autoridade”, disse.

No seu entender, “o poder de prender, o poder de libertar, o poder de reduzir, de assassinar um caráter, de assassinar uma pessoa em vida (…) é que é política”.

Desafiado a fazer um balanço da investigação um ano após a detenção do antigo secretário-geral do PS, João Araújo criticou a atuação das autoridades judiciárias: “Se foi para prender Sócrates e mantê-lo preso, se foi para isso, então podemos dizer que foi um sucesso, mas custa-me a admitir, ou não admito sequer, que se entenda que prender um cidadão pode ser um objetivo, e em si próprio respeitável, de uma investigação criminal”.

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Considerando que as medidas de coação aplicadas a José Sócrates estão extintas desde 19 de outubro, o advogado disse que “só por fraude é que este inquérito está fora do Supremo Tribunal de Justiça”.

Sobre as imputadas ligações de Sócrates ao ex-ministro Armando Vara (também arguido no processo) e ao empreendimento Vale de Lobo, João Araújo reconheceu que é “pública e notória” a amizade entre ambos, mas negou que o ex-primeiro-ministro tenha tido qualquer relação com aquele empreendimento, embora lá tenha almoçado ou jantado uma vez.

Instado a pronunciar-se sobre a importância de o Ministério Público interrogarem o empresário Helder Bataglia, ligado ao empreendimento de Vale de Lobo, no Algarve, o advogado sustentou que não sabe sequer se foi feita alguma diligência para o ouvir.

“O Helder Bataglia que eu saiba esteve em Lisboa, foi ouvido numa comissão de inquérito [caso BES] e ninguém lhe perguntou nada (sobre a “Operação Marquês”)”, sustentou.

Porém, diz, seu constituinte “não tem que se imiscuir nas atividades e diligências do Ministério Público que não lhe digam respeito” e qualquer iniciativa da investigação relativa a Helder Bataglia não diz respeito a Sócrates. “Isso de certeza absoluta”.