Duas pinturas de Maria Helena Vieira da Silva e uma do marido, Arpad Szenes, provenientes do ex-Banco Português de Negócios (BPN), vão na terça-feira para o museu com o nome da pintora, em Lisboa.

A informação foi revelada à agência Lusa pela diretora do Museu Arpad Szénes – Viera da Silva, Marina Bairrão Ruivo.

Segundo Marina Bairrão Ruivo, as três obras vão dar entrada no museu na terça-feira, na sequência da assinatura, na semana passada, de um contrato entre a Fundação Vieira da Silva e a Parvalorem.

A Parups e a Parvalorem são as sociedades de capitais públicos criadas em 2010 para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-BPN, cujo património continha a coleção de 85 obras de Joan Miró (1893-1983), e mais 247 obras de arte de artistas portugueses e estrangeiros.

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“Estas três obras vêm para o museu através de um depósito com opção de compra, numa validade de 18 meses, renovável mediante o acordo de ambas as partes”, precisou Marina Bairrão Ruivo à Lusa.

O acordo vem na sequência de uma iniciativa da Fundação, que teve conhecimento da existência de obras de Vieira da Silva no ex-BPN, e iniciou um processo de negociação com a Parvalorem há vários anos, contextualizou.

As obras são, de Vieira da Silva, um óleo de grandes dimensões, intitulado “Voyage d´Hiver”, de 1961, uma obra mais pequena, sem título, pintada em 1955, e uma pintura de Arpad Szénes, também sem título, pintada em 1945.

“Para nós é muito importante a assinatura deste contrato, porque as pinturas ficam em depósito no museu, podem ser estudadas e tratadas, e poderão ser vistas pelo público, em vez de estarem fechadas em reservas”, comentou a diretora do museu.

Marina Bairrão Ruivo observou ainda que as obras “não são das mais importantes que estão no ex-BPN, mas, mesmo assim, são de grande qualidade, e vão complementar parte da lacuna que existe na coleção da Fundação Vieira da Silva”.

Questionada pela Lusa quando poderão ser vistas pelo público, a diretora indicou que “serão expostas em breve, porque são uma novidade”.

Em junho deste ano, a Parvalorem tinha anunciado que 175 obras de arte, reunidas pelo ex-BPN, avaliadas em três milhões de euros, iriam ser postas à venda, dando prioridade ao Estado português e, um mês depois, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) revelou que estava a negociar a compra de 46 peças daquele conjunto.

A efetivação da compra nunca chegou a ser oficialmente anunciada pela SEC, mas, na lista das 46 obras, a que a agência Lusa teve acesso, na altura, constavam também três da autoria de Vieira da Silva: “Les Berges”, “Dezembro, poux voeux”, “Paysage”.

Contactado pela Lusa, o presidente da Parvalorem, Francisco Nogueira Leite, confirmou a assinatura do acordo com a Fundação Vieira da Silva, mas não quis comentar o processo de venda das 46 obras ao Estado.

O Museu da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva (FASVS), em Lisboa, completou 20 anos de existência no ano passado, e a respetiva fundação perfez 25 anos, tendo a entidade realizado um programa intenso de celebrações, desde exposições a conferências.

Criada ainda em vida de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), uma das mais importantes pintoras portuguesas, e instituída por decreto-lei em 10 de maio de 1990, a FASVS tem como missão garantir a existência de um espaço, em Portugal, onde o público possa contactar permanentemente com a obra dos dois pintores.

Quando França sofreu a ocupação nazi, na Segunda Guerra Mundial, o casal tentou viver em Portugal, mas António Oliveira Salazar, presidente do Governo da ditadura, retirou, na altura, a nacionalidade portuguesa à pintora e a Szenes, cidadão húngaro de ascendência judia.

Vieira da Silva e Arpad partiram então para o Brasil, onde estiveram exilados, de 1940 a 1947, permanecendo apátridas até 1956, ano em que lhes foi concedida a nacionalidade francesa.

O Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva foi inaugurado a 03 de novembro de 1994, num edifício da Praça das Amoreiras, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa. A Fundação Calouste Gulbenkian custeou as obras de remodelação e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou, na área da investigação.

A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal: de 1911 a 1985, para Arpad Szenes (1897-1985), e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).