O Banco Central Europeu (BCE) receia que uma subida demasiado rápida das taxas de juro nos EUA, se esta acontecer, poderá levar a um reajustamento global do risco nas economias mundiais, o que penalizará sobretudo os países emergentes mas que também afetará a zona euro. O alerta da instituição liderada por Mario Draghi surge apenas dias antes da reunião da Reserva Federal norte-americana em que deverá ser anunciada a primeira subida da taxa de juro em cerca de nove anos.

O ritmo do ciclo de subidas nas taxas de juro nos EUA é uma das principais ameaças para o crescimento global, conclui o relatório semestral Financial Stability Reviewdivulgado esta quarta-feira. Se é praticamente certo aos olhos da maioria dos especialistas que a primeira subida dos juros pela Fed acontecerá já em dezembro, a dúvida é, agora, o ritmo a que as previsíveis subidas seguintes irão acontecer.

“Os [países] devedores altamente endividados em moeda estrangeira podem estar vulneráveis a uma possível normalização das condições financeiras nos EUA e em outras economias avançadas”, presumivelmente o Reino Unido e o Banco de Inglaterra. Este alerta, que é dirigido sobretudo aos países emergentes com contas externas mais desequilibradas – como o Brasil e a Turquia, por exemplo –, levou o BCE a subir o seu nível de alerta para “médio”, no que diz respeito à estabilidade financeira global.

“Uma retirada mais rápida do que o previsto das medidas extraordinárias de política monetária poderá levar a uma inversão dos prémios de risco globais [term premia], o que também pode produzir efeitos na zona euro”, alerta o BCE.

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Preços dos ativos “desalinhados” por causa da política monetária

Outro risco importante para a estabilidade financeira global, identificado pelo BCE, também está relacionado com a política de taxas de juro baixas, mas de outra forma. O facto de as taxas de juro estarem baixas há tantos anos criou um “desalinhamento nos preços dos ativos”, porque à falta de rentabilidade nos ativos com menor risco os investidores acorreram a investimentos mais arriscados – que, assim, ficaram com juros menores, eventualmente mais baixos do que o seu risco justificaria.

“Preços dos ativos desalinhados são uma vulnerabilidade crucial, porque podem, eventualmente, levar a ajustamentos bruscos nos prémios de risco”, reconhece o BCE. “Os impactos que a China, em particular, provocou nos mercados financeiros no verão sublinham a necessidade de uma monitorização muito próxima daqui para a frente”, conclui o Banco Central Europeu.