Há uma mulher a querer regular a indústria pornográfica. Num meio habitualmente ignorado ou censurado pelos governos, Nichi Hodgson, uma ex-dominadora e atual jornalista, olhou para a falta de regulamentação do setor e fundou a Parceria pela Ética Pornográfica (EPP), explicando ao jornal inglês The Guardian as suas razões:

Tenho andado a cobrir a indústria do sexo, como jornalista, de há cinco anos para cá. O que me pareceu foi que, apesar de haver pessoas fantásticas que lá trabalham, também há muitas práticas que considero dúbias: pessoas [atores] a aparecerem nas filmagens nem sempre sabendo o que vão fazer (…) e falta de transparência sobre os pagamentos. (…) Quase todos os trabalhadores da indústria pornográfica que conheci tinham algum tipo de ansiedade sobre o seu trabalho.

O desafio é difícil: afinal, impor regulamentação a uma indústria que já move muito dinheiro não é tarefa fácil. Se já é difícil para os governos, que têm mais poder, mais será para uma organização não-governamental, como a EPP. Os objetivos são criar um certificado de qualidade para os filmes pornográficos, concedido aos produtos e estúdios que cumpram os requisitos que quer estabelecer. 

“Imensas raparigas, especialmente quando estão a começar, só querem fazer dinheiro rápido, e provavelmente acabam por fazer coisas que não querem fazer; trabalhar de uma maneira que não desejavam. Há muitas empresas a trabalhar de forma correta, portanto pode-se facilitar-lhes a tarefa indicando-lhas”, explica a jornalista à publicação britânica

Quais são esses requisitos é algo que, por agora, ainda não está definido. Mas segundo o jornal britânico, devem incidir em grande medida nos direitos profissionais dos trabalhadores da indústria: protegê-los com maior transparência nas remunerações, com contratos mais claros para os trabalhadores do setor, com a imposição de pausas regulares para os profissionais da indústria, entre outras práticas habituais na maioria das profissões.

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Mas o trabalho que quer implementar também inclui medidas que beneficiem os consumidores. Nichi Hodgson não quer determinar ou limitar aquilo que pode ou não ser visto nos ecrãs; mas quer aumentar a “literacia pornográfica” dos consumidores. Uma das medidas que equaciona é produzir vídeos para o site da organização com os bastidores dos filmes, mostrando como os conteúdos são produzidos – tornando, assim, os consumidores mais conscientes e mais capazes de interpretar aquilo que vêm.

Nichi Hodgson sabe ter uma tarefa difícil em mãos. Ao The Guardian explica estar consciente de que, inicialmente, deverão ser os estúdios independentes (mais pequenos) a trabalhar com a organização. Mas espera que o movimento cresça – e que também os grandes produtores da indústria queiram trabalhar consigo. “Não os prejudicará em nada, vai apenas beneficiá-los”, defende.

Não quer, também, erradicar a indústria: algo defendido por algumas feministas, como Julie Bindel ou Gail Dines, que consideram que a pornografia é misógina, machista e que não beneficia a igualdade de géneros. Pelo que a indústria deve ser abolida. O objetivo de Nichi Hodgson não é esse: quer antes melhorá-la, isto é, “melhorar um produto que já existe”, como explica ao The Guardian:

Se, como mulher, não intervires e não agarrares o touro pelos cornos, tentando mudá-la [à indústria], estás-te a resignar a ser explorada. Nunca houve uma única indústria, seja a educativa, médica ou política, que tenha realmente mudado até as mulheres se terem tornado proativas