Morre jovem o que os Deuses amam, é um preceito da sabedoria antiga”, escreveu Fernando Pessoa. E é certo que Mário de Sá-Carneiro morreu cedo. Aos 26 anos, suicidou-se com cinco frascos de estricnina na sua mais que querida Paris, cidade onde passou os últimos anos de vida.

Apesar da morte prematura, Sá-Carneiro deixou uma obra extensa. Publicou vários livros de contos, novelas, um romance e uma plaquette de poesia, Dispersão. Por editar ficou o manuscrito dos poemas de Indícios de Ouro e — igualmente importante — a correspondência de quatro anos com o amigo Fernando Pessoa, que surge agora numa nova (e mais completa) edição.

Com organização de Ricardo Vasconcelos e Jerónimo Pizarro, Em Ouro e Alma: Correspondência com Fernando Pessoa, livro que inaugura a nova coleção da Tinta-da-China das edições críticas dos trabalhos de Sá-Carneiro, não pretende ser mais uma edição das cartas do poeta português. Muito pelo contrário: para além de fornecer dados importantes para o enquadramento do diálogo, o livro procura ainda desmistificar a imagem de um Sá-Carneiro “melancólico ou até desesperado, flâneur isolado pelos cafés e alienado do meio cultural parisiense”.

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O livro custa 25 euros – através do site da Tinta-da-China, tem um desconto de 20%.

Em Ouro e Alma é também a edição mais completa da correspondência de Sá-Carneiro e Pessoa. Com 672 páginas, para além das cartas já conhecidas, o livro contém ainda novos manuscritos, que incluem cópias autografadas dos poemas originalmente anexados às cartas, e fac-similes que valorizam “pela primeira vez de um modo expressivo a dimensão gráfica dos originais”, como refere a nota introdutória.

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No final do livro, quatro anexos ajudam a contextualizar as cartas trocadas entre os dois poetas entre 1912 e 1916. O primeiro, “Cartas de Fernando Pessoa”, inclui os poucos exemplares conhecidos das cartas enviadas por Pessoa para Paris. A estas, segue-se um capítulo composto por vários textos escritos pelo poeta da Mensagem em memória de Sá-Carneiro e a transcrição integral de um poema de Álvaro de Campos, “Se te queres matar, porque não te queres matar?”, escrito no décimo aniversário do suicídio do poeta, a 26 de abril de 1926.

“Se te queres matar, porque não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria…
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?”

O último anexo e capítulo reúne “a mais completa edição” das cartas trocadas entre Carlos Ferreira, José Araújo e Fernando Pessoa, após a morte de Mário de Sá-Carneiro. Estas ajudam a compreender o que aconteceu nos últimos dias do poeta, as circunstâncias que levaram à sua morte e o porquê de se terem perdido vários documentos e manuscritos, nomeadamente as cartas enviadas por Pessoa.

Em Ouro e Alma: Correspondência com Fernando Pessoa chegou às bancas a 27 de novembro. Pode ser adquirido nos locais habituais, por 25 euros, ou através do site da Tinta-da-China, com 10% de desconto.