O presidente da Fosun está ausente da empresa porque está a “ajudar as autoridades judiciais numa investigação“. É este “o entendimento” da empresa chinesa, que em Portugal é dona da Fidelidade e da Luz Saúde, para a ausência de Guo Guangchang.

A informação consta de um comunicado enviado esta sexta-feira ao regulador do mercado, que tem as ações da Fosun suspensas dada a intensidade dos rumores sobre o desaparecimento do gestor. Segundo o Financial Times, o comunicado não esclarece se Guo é o principal visado na investigação ou se está a ajudar a polícia a juntar provas num processo centrado noutra pessoa.

Dentro do grupo está a ser avançada a informação de que não existe nenhuma acusação criminal contra o fundador e líder do conglomerado, mas sim uma notificação para colaborar numa investigação judicial. Guo Guangchang tem contudo restrições de mobilidade, para poder estar disponível para a investigação. Não obstante, participa de reuniões e nos processos de decisão da Fosun, que é um dos maiores conglomerados privados chineses.

No comunicado, a Fosun acrescenta que as operações da empresa “estão a decorrer normalmente” e adianta que propôs ao regulador do mercado o levantamento da suspensão das ações na próxima segunda-feira, dia 14 de dezembro.

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Guo estava em Xangai à hora de almoço de quinta-feira, mas deixou de atender o telefone, adiantou uma fonte executiva do grupo não identificada à Caixin, publicação especializada em noticias financeiras chinesas.

Mensagens nas redes sociais chinesas indicaram que Guo Guangchang fora visto sob escolta policial no aeroporto de Xangai, alimentando a especulação que teria sido detido ou levado para interrogatório, no âmbito de investigações sobre corrupção.

A detenção da Fosun chinês surge no contexto de alegadas investigações por suborno. Em agosto, um tribunal chinês considerou que Guo Guangchang manteve ligações inapropriadas com Wang Zongnan, que foi condenado a 18 anos na prisão por ter desviado 195 milhões de yuans em fundos empresariais quando liderava várias sociedades do Estado.

Segundo a revista Caixin, Guo vendeu duas propriedades aos pais de Wang em 2003 por cerca de metade do preço a que estariam avaliadas. Na altura, a Fosun emitiu um comunicado onde negava que o seu presidente tivesse recebido benefícios ilegais da ligação profissional às companhias presididas por Wang, acrescentando que as propriedades foram vendidas a um preço que incorporava o “desconto normal” nestas transações.

O Warren Buffett chinês e as compras em Portugal

A Fosun comprou a seguradora Fidelidade em 2013, que adquiriu a Luz Saúde no ano seguinte. O grupo chinês foi um dos candidatos à compra do Novo Banco. Em Portugal, o grupo detém ainda 5% da REN (Redes Energéticas Nacionais).

Conhecido como o “Warren Buffett” chinês, uma comparação que o próprio alimentou em entrevistas, Guo Guangchang é um dos milionários da China com maior fama global, sobretudo depois de ter protagonizado alguns negócios, como a compra do Club Med e do Cirque du Soleil, mas também importantes transações imobiliárias. Segundo a Forbes é o 11º homem mais rico da China, uma fortuna que começou a ser construída nos anos 90 numa empresa privada.

A confirmar-se a sua detenção, que está a ser alvo de um forte interesse por parte dos media internacionais, Guangchang é a figura mais importante a ser apanhada na cruzada anticorrupção das autoridades chinesas que até agora estava focada em dirigentes de empresas públicas.