As mulheres já podem votar a partir deste sábado. Mas a igualdade está longe de ser atingida na Arábia Saudita. Comecemos pelo ato de voto: as assembleias de voto vão estar separadas por géneros. De 1263 assembleias disponíveis, só 424 são para mulheres, o que limita desde logo a participação do eleitorado feminino.

Além disso, as mulheres não podem conduzir sem autorização de um homem. Portanto, não poderão deslocar-se sozinhas para ir votar, destaca Karen Middleton, membro da Amnistia Internacional, ao The Independent. Elas só votarão se eles quiserem.

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As mulheres representam apenas 16% da força de trabalho na Arábia Saudita. E há muitas restrições nas profissões para elas.

Aliás, o número de mulheres inscritas para votar este sábado é muito reduzido: são cerca de 130 mil num total de 1.49 milhões de votantes. Nestas eleições municipais, são candidatas a líderes de municípios 980 mulheres, num total de 6900 candidatos. “Se uma mulher ganhar já valeu a pena”, nota uma cientista política dos Emirados Árabes Unidos ao The Guardian.

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Na Arábia Saudita, os homens comandam as mulheres. No início da vida pode ser o pai, um tio, um primo ou um vizinho. O que importa é ser uma figura masculina. Quando o casamento acontece, é o marido que fica com a tutela em diversas situações:

  • A mulher não pode abrir uma conta no banco sem permissão do marido
  • Se a mulher quiser estudar, a decisão cabe a um homem
  • A mulher só pode viajar para o estrangeiro com autorização registada do marido
  • Para ir a uma consulta médica ou às compras, a mulher tem de ser acompanhada por um tutor masculino conhecido como “mahram”

Ser mulher na Arábia Saudita é aprender desde criança os valores da discrição e da modéstia. No vestuário, a regra é cobrir o corpo e a cara. Mesmo as mulheres que estiverem de visita ao país têm de estar cobertas. As regras alteram-se ligeiramente de cidade para cidade: em algumas cidades é preciso usar um véu para também esconder os olhos, em outros sítios é permitido usar uma peça colorida.

A ideia da segregação de género nas assembleias de voto tem um passado. Há vários espaços públicos que têm entrada separada para homens e mulheres, como escritórios, bancos, transportes públicos, alguns jardins, praias e universidades, aponta a The Week.

E nem o desporto é exceção. Ainda este ano a Arábia Saudita propôs receber os Jogos Olímpicos, mas sem mulheres. Quando o país decidiu colocar atletas mulheres a competir nos Jogos Olímpicos de Londres, vários responsáveis ultra-conservadores do país chamaram as atletas de “prostitutas”. E para competirem, eram acompanhadas de um guarda e tinham de vestir um kit “Sharia-compliamnt” que lhes cobria também o cabelo.

Serão eleitos os responsáveis para 284 concelhos municipais. A página de História que se vai virar este sábado é uma promessa do rei Abdullah depois da Primavera Árabe. “Muita gente acha que este passo nas eleições é só uma manobra do governo para mostrar que estão a fazer reformas. Mas não interessa o que o governo quer. O que interessa é como é que podemos usar isto para mudar as coisas”, disse Nassima al-Sada, uma ativista do país, ao The Guardian. “As mudanças vão acontecer. A única questão é quanto tempo vai demorar”.