O solstício de inverno “acorda” no Planalto Mirandês as máscaras que encarnam ancestrais tradições, fazendo regressar a folia a diversas aldeias daquele território do distrito de Bragança.

Segundo investigadores ouvidos pela agência Lusa, estes rituais, envolvendo figuras “demónicas e pantomineiras mascaradas”, encarnam ritos de “fecundidade e abundância”.

O Carocho de Constantim e a Velha, de Vila Chã, ou “Bielho e la Galdrapa” (“o Velho e a Galderia”, em idioma mirandês) de São Pedro da Silva (todos em Miranda do Douro) são apenas alguns dos rituais “ainda carregados da sua pureza original”, que até ao dia de Reis animam as agora gélidas terras transmontanas. Há ainda rituais como o dos Velhos em Bruçó, o Farandulo de Tó, o careto de Valverde ou o Chocalheiro de Bemposta (todos em Mogadouro).

Algumas destas figuras associadas às “tradições ancestrais” do Solstício de inverno na região tinham caído no esquecimento há um século, estando a ser recuperadas por investigadores da área, apoiados pelas populações e pelas autarquias. Por isso, o nordeste transmontano vive, nesta altura do ano, um período “mágico”, com as festas dos mascarados que saem à rua durante 12 dias e que deixam investigadores intrigados e populações numa espécie de alvoroço.

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“São manifestações populares, nas quais se juntam o sagrado e o profano” que se articulam “de forma muito ‘sui generis'” e que são “diferenciados de aldeia para aldeia”, explicou à agência Lusa o presidente da Academia da Máscara Ibérica, António Tiza.

Já Antero Neto, outro dos estudiosos da máscara e que nestes dois últimos anos recuperou dois rituais no concelho de Mogadouro, disse que existem neste momento cinco rituais com máscara ativos no concelho, com a perspetiva de ser recuperado um sexto durante o presente ciclo festivo. “Para janeiro de 2016 perspetiva-se a recuperação da festa do ‘Mascarão e Mascarinha’, na localidade de Vilarinho dos Galegos (Mogadouro)”, adiantou.

O investigador Hélder Ferreira, um grandes conhecedores destas tradições e impulsionador do Festival Internacional da Máscara Ibérica, que anualmente decorre em Lisboa, afirma que tema dos rituais com máscara “tem tido nos últimos anos uma crescente visibilidade e atenção por parte das comunidades e mesmo dos ‘media'”.

Esse interesse, indicou, resulta “dos fatores da globalização, que produzem uma maior consciência das identidades culturais dos territórios”. Resulta ainda, segundo Hélder Ferreira, da “necessidade de se afirmar cada vez mais a riqueza cultural e histórica enquanto veículo promocional tanto das regiões como das marcas e produtos dessas mesmas regiões”.