A Care Norway, uma instituição de caridade internacional com origem norueguesa, lançou um vídeo de cinco minutos que se tornou viral. E basta assistir à mensagem para entender porquê. É uma carta que uma menina dirige ao pai ainda antes de nascer. E que toca na ferida ao retratar o sofrimento de uma mulher em situações de assédio sexual e de violência física ou psicológica. O pedido da instituição aos homens é apenas um: que não colaborem nem tolerem qualquer tipo de agressão contra as mulheres.

“#DearDaddy” mostra a vida de uma rapariga que foi protegida pelo pai quando ainda estava dentro da barriga da mãe, mas que enfrentou os perigos de nascer num mundo onde uma em cada três mulheres vai experienciar violência física ou sexual enquanto for viva. E a maior parte das vezes pelo homem que têm como parceiro.

Eu preciso de te pedir um favor. Aviso: é sobre rapazes. Porque, sabes, eu vou nascer menina. O que significa que quando tiver 14 anos, os rapazes da minha turma vão chamar-me p…, c…, p… e muitas outras coisas. É só na brincadeira, algo que os rapazes fazem. Por isso não te vais preocupar. E eu entendo isso.

Tudo começa com as ofensas na escola básica por parte dos rapazes, as pressões e os assédios físicos durante a escola secundária. Depois vem a possibilidade de ser violada e a violência doméstica que pode enfrentar quando julgar ter encontrado o amor da sua vida. Afinal, as típicas “brincadeiras parvas dos rapazes” que chamam nomes às meninas podem ser apenas o gatilho para uma vida de perseguição, a que parece estar condenada desde cedo só pelo facto de se ter nascido mulher.

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Quando fizer 16 anos, alguns rapazes vão deslizar a mão deles para dentro das minhas calças quando estiver tão bêbeda que nem vou conseguir estar de pé. E mesmo quando eu disser que não, eles vão apenas rir. É engraçado, não é?

A Care Norway realça que este não é um vídeo contra os homens, nem pretende generalizar os comportamentos violentos do mundo masculino. Mas a bebé esclarece desde cedo o seu pai que a própria forma de agir dele pode ser o espelho das ações lesivas que uma mulher pode enfrentar ao longo da vida. Significa isto que as “brincadeiras parvas dos rapazes” – normalmente sexistas e diminuidoras – não podem ser encaradas como um princípio cultural, tolerável e aceitável. E algo que pode ser, de facto, inofensivo, pode transformar-se num pesadelo.

Eu sei que me vais proteger de leões, tigres, armas, carros e até do sushi sem sequer pensar no perigo que representam para a tua própria vida. Mas, querido papá, eu vou nascer rapariga. Por favor, faz tudo o que puderes para que isso não continue a ser o maior perigo de todos.