A busca por um planeta que se assemelhe à Terra é constante. Veja-se a incessante procura de exoplanetas na zona habitável das estrelas que possam ter água no estado líquido ou a exploração de Marte e de todos os aspetos do planeta vermelho que se possam assemelhar ao nosso planeta. Mas o que não nos podemos esquecer é que só porque temos resultados idênticos na Terra e em Marte, não quer dizer que a origem seja a mesma. Um exemplo disso foi publicado esta segunda-feira na revista científica Nature Geoscience.

“Quando lidamos com outros mundos, devemos ter o cuidado de nos lembrarmos que processos que não nos são familiares são possíveis ou mesmo prováveis em ambientes extraterrestres”, disse, num comentário ao artigo, Colin Dundas, Centro de Ciência de Astrogeologia (da agência geológica norte-americana).

Na Terra quando a água escorre, como as dos rios ou das linhas de água temporárias, vai provocando a erosão das rochas até formar um leito ou uma ravina. Numa associação direta, julgou-se que tinha sido a água a escavar os sulcos na paisagem marciana, mas dois investigadores ligados ao Centro Nacional francês de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês) mostraram que o responsável pode ser gelo seco (dióxido de carbono congelado).

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Condensação: passagem do estado gasoso ao estado líquido

Sublimação: passagem direta do estado sólido ao estado gasoso, sem passar pelo estado líquido

Os dois investigadores referem que as temperaturas nos locais de formação dos sulcos são muito baixas para permitirem a existência de água no estado líquido. Por outro lado, os ciclos de condensação-sublimação do CO2 (dióxido de carbono) parecem ser melhores candidatos a este processo e acontecem nas condições encontradas nas latitudes e orientações dos declives onde foram encontradas as ravinas. “Concluímos que as ravinas marcianas resultam de processos geológicos de gelo seco que não têm análogos terrestres e não necessitam de água líquida”, escrevem no artigo.

Tem sido sugerido que esta erosão em Marte tinha sido provocada por água recém-derretida há umas centenas de milhares de anos. Mas o facto de a formação de ravinas continuar a acontecer hoje em dia deixa dúvidas. Atualmente a acumulação de água sob a forma de gelo, fora das regiões polares marcianas, não ultrapassa um milímetro, a água no estado líquido não se mantém durante muito tempo na superfície marciana e a água no subsolo não parece ser suficiente para causar este fenómenos. Todos estes fatores fazem com que a água líquida não seja o candidato mais provável neste processo de erosão.

Mas o próprio gelo seco tem as suas limitações, como sublinha Colin Dundas. Primeiro, ainda não se conhece bem o mecanismo através do qual o dióxido de carbono congelado provoca a erosão das rochas. Depois, há pequenas alterações a acontecerem em zonas onde o modelo, que considera o CO2, não parece atuar. Colin Dundas não descarta a hipótese do gelo, mas acredita que não será a única a condicionar a formação das ravinas.

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