O primeiro-ministro italiano culpa a insistência de vários políticos europeus na austeridade pela ascensão de partidos populistas. Matteo Renzi, que enfrenta, ele próprio, em Itália, a pressão de partidos que prometem acabar com a austeridade, acusa a Alemanha de querer que a Europa “sirva apenas um país, e não os 28” países que a compõem.

Renzi deu uma entrevista ao Financial Times, em Roma, esta segunda-feira, no rescaldo das eleições que retiraram a maioria absoluta ao PP de Mariano Rajoy.

Não sei o que vai acontecer ao meu amigo Mariano, mas sei que todos aqueles que têm estado na linha da frente como aliados fiéis das políticas do rigor, sem crescimento, todos perderam os seus empregos. Aconteceu em Varsóvia, ainda que aí houvesse circunstâncias especiais, aconteceu em Atenas, aconteceu em Lisboa. Veremos o que acontece em Madrid.

O primeiro-ministro italiano culpa a Alemanha por liderar a aplicação de políticas que privilegiam a austeridade e, com isso, a estimular o surgimento de movimentos e partidos populistas. A perda da maioria absoluta de Rajoy, que mergulha Espanha numa grande incerteza, é o mais recente exemplo de uma situação da qual se devem tirar lições, diz Renzi.

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Tenho muita estima por Angela [Merkel], temos uma relação pessoal excelente. Mas temos de ser francos… A Europa existe para servir todos os seus 28 países, não apenas um.

As políticas de reforma que Matteo Renzi tem procurado aplicar em Itália dão-lhe, afirma o próprio, legitimidade para criticar a insistência europeia na austeridade. É desta forma que o primeiro-ministro italiano sacode as críticas que lhe têm valido as medidas de estímulo público ao crescimento que tem implementado em Itália.

Europa terá de repensar novas regras europeias para a banca

Matteo Renzi foi, também, questionado sobre o recente resgate a quatro pequenos bancos italianos, que antes da entrada em vigor das novas regras europeias foram resgatados sem qualquer impacto para os depositantes. A partir de 1 de janeiro, as regras vão mudar e os depositantes – bem como os detentores de dívida dos bancos – poderão ser penalizados.

A realidade é que havia regras europeias e tivemos de as respeitar. Recebemos uma carta de [Jonathan] Hill e [Margrethe] Vestager, a dizer-nos o que podíamos fazer e o que não podíamos fazer.

Renzi diz que cumpriu com o conteúdo das cartas do Comissário Europeu para os Serviços Financeiros e da Comissária Europeia para a Concorrência, respetivamente. Mas deixa um aviso quanto aos planos europeus de, com as novas regras, impor perdas aos depositantes quando for necessário. Renzi avisa que a Europa precisa de “refletir” sobre esses planos e, além disso, “fazer algumas simulações numéricas” a este propósito.