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O holocausto nuclear que os EUA planearam contra a União Soviética

Este artigo tem mais de 5 anos

Ficheiros desclassificados mostram pela primeira vez como os EUA planeavam destruir a União Soviética. Holocausto nuclear previa ataques intencionais a populações civis e mortes entre os aliados.

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Getty Images

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Que nunca o mundo esteve tão perto de um holocausto nuclear como na altura da Guerra Fria é fácil de concordar. A pergunta ficou sempre: e se um dos lados atacasse? Entre as picardias e as situações de real tensão, como na crise dos mísseis de Cuba, tanto a União Soviética como os Estados Unidos traçaram planos reais de ataque, que ficaram fechados provavelmente numa gaveta escura, dentro de um cofre, de um qualquer bunker, onde só as mais importantes figuras dos dois países terão acesso. Até agora.

Rússia, Alemanha, Polónia, Geórgia, República Checa, Bulgária, Ucrânia, Roménia, Bielorrússia, Estónia, Coreia do Norte e até a China foram marcadas pelos Estados Unidos como alvos, em alguns casos para a destruição quase completa, com armas nucleares, caso a Guerra Fria se transformasse numa guerra efetiva.

O plano foi desenhado pelo Strategic Air Command (SAC), uma unidade do Departamento de Defesa dos EUA e da Força Aérea que era responsável pela resposta à Guerra Fria e comandava duas das três componentes das forças nucleares dos EUA: os bombardeiros com capacidade para descarregar bombas nucleares em alvos terrestres e os mísseis balísticos intercontinentais.

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O plano de resposta agora dado a conhecer pelo National Security Archive, da George Washington University, é datado de 1959 e tem duas fases. Uma de destruição completa do poder aéreo da União Soviética e outro de áreas urbanas para destruir potencial de construção de armamento nuclear, as suas economias e desmoralizar o inimigo.

No relatório, que não será o plano final de ataque (constantemente em evolução), é mesmo admitido que esses ataques iriam afetar as populações civis e mesmo os aliados dos Estados Unidos. Mas a destruição da União Soviética era mais importante, dizem os autores.

Fase 1

Na primeira fase, o SAC lista 1100 potenciais alvos para destruir a capacidade aérea da União Soviética, e de forma mais geral a capacidade de resposta militar da parte da União Soviética, espalhados pelos países satélites da União Soviética. Moscovo e São Petersburgo estão no topo da lista.

Esta era a prioridade das forças norte-americanas, caso a guerra avançasse. O SAC temia que as forças aéreas soviéticas atacassem o território norte-americano, assim com as suas forças na Europa e no leste asiático, e foi por isso mesmo que desenharam um complexo plano de ataque com armas nucleares de grande capacidade – com o poder de destruição de entre 119 e 630 bombas atómicas como a que destruiu Hiroshima.

Os 20 principais alvos dos EUA

Fonte: The National Security Archive

A ideia era que essas bombas atingissem o terreno, para maximizar a destruição, e os autores do plano tinham noção das consequências em termos de destruição e de radioatividade para as populações, mas defendem o plano dizendo que “a necessidade de vencer a batalha aérea prevalece sobre todas as outras considerações”.

Os autores dizem mesmo que o ataque teria de destruir por completo a hipótese de uma resposta dos soviéticos e por isso mesmo era melhor alcançar um nível máximo de destruição garantindo que as bombas atingiam o território, e não rebentavam no ar, não só para maximizar a destruição imediata com a explosão, mas também para que as partículas radioativas se espalhassem o mais possível com a ajudar do vento.

Na primeira fase, a SAC esperava conseguir destruir 90% dos alvos, que incluam estruturas subterrâneas e assim eliminar a capacidade de resposta da União Soviética

Fase 2

Se a primeira vaga de ataques não acabasse de vez com a guerra, os Estados Unidos estariam preparados para numa nova vaga de ataques, a que os autores do plano chamaram de “destruição sistemática” da capacidade militar do bloco soviético.

Aqui, o nível de ataques era mais abrangente. As atividades industrias e económicas que pudessem apoiar a capacidade militar da União Soviética seriam destruídos, ou seja, as forças comandadas pelo SAC atacariam com bombas atómicas num número elevado de alvos (mais 1200 estavam nessa lista) em instalações industriais localizadas em zonas urbanas. O poder das armas que seriam usadas era devastador: oito vezes a capacidade de destruição da bomba usada para destruir Nagasaki no final da segunda guerra mundial, muito mais que o necessário para destruir os alvos escolhidos, que incluam infraestruturas de transportes e centrais de produção de energia.

Só Moscovo tinha 180 instalações marcadas para destruição que iam desde bases aéreas, a fábricas de maquinaria, equipamento de extração de petróleo e de produção de penicilina, barragens, redes de distribuição de eletricidade, locais para a reparação de equipamento ferroviário.

Ataques à população

A maior surpresa, para além da resposta massiva, será mesmo o de ataques intencionais às populações. Apesar de não estarem discriminados na lista de documentos que foram agora desclassificados, são assumidas como alvos populações, em cidades como Moscovo e São Petersburgo, mas não só.

Apesar de ainda não estarem previstos nas convenções de Genebra – só viriam a estar nas adendas incluídas em 1977 -, estes alvos estão longe de se enquadrar com os padrões seguidos pelos militares norte-americanos, que estavam dispostos a aceitar números elevados de baixas civis como danos colaterais de outros ataques a alvos militares, mas não a atacar intencionalmente as populações. Isto pode ser explicado com a recusa dos Estados Unidos em aceitar que os protocolos da convenção de Genebra possam ser aplicados em caso de uso de armas nucleares.

Esta segunda fase do ataque, segundo o plano, seria levada a cabo apenas com armas nucleares, o que poderia não fazer muita diferença em cidades com numerosos alvos militares, mas no caso dos alvos nos restantes países da Europa de leste e na China, a história seria bem diferente. Berlim Oriental, Polónia, Hungria, República, Checa, Roménia, Bielorrússia, Estónia, Roménia, Geórgia, Coreia do Norte e China estavam nesta lista. Pequim, por exemplo, estava entre os 20 primeiros alvos a serem atacados.

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