Na véspera de Natal, Maria “Chicha” Mariani, uma das fundadoras do movimento Avós da Praça de Maio recebeu um presente pelo qual esperava há 39 anos: a neta raptada pela ditadura argentina. A mulher apareceu em casa da ativista de 92 anos, quase cega, com uma análise genética privada na mão e reclamando ser Clara Anahí Mariani Teruggi, noticiou a Agência France Presse.

Maria “Chicha” Mariani é uma das Avós da Praça de Maio, um grupo de direitos humanos que procura localizar crianças nascidas durante a prisão política dos pais ou tornadas orfãs entre 1976 e 1983, durante a ditadura militar argentina. Algumas crianças foram assassinadas e outras entregues a famílias simpatizantes do regime. A neta de Mariani, Clara Anahí Mariani, tinha sido raptada em novembro de 1976, com apenas três meses. A mãe, Clara Anahi, foi raptada em 24 de novembro de 1976 numa operação da Junta Militar.

A notícia de que a avó havia encontrado a neta – que havido sido identificada como Clara Teruggi, foi anunciada na véspera de Natal pela Fundação Anahí, criada em 1989 por Maria Mariani, após ter deixado a presidência das Avós da Praça de Maio. Após o anúncio, que parecia a concretização de um sonho, o reencontro entre as duas foi difundido pelos meios de comunicação argentinos e mundiais e também através redes sociais.

O Presidente da Argentina, Mauricio Macri felicitou a avó e congratulou-se pela recuperação da “neta 120” (referindo-se ao fato de ser a 120ª criança a ser encontrada pela família).

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Mas as autoridades judiciárias argentinas afirmaram esta sexta-feira que análises genéticas oficiais descartam a existência de qualquer ligação biológica entre mulher que apresentou na véspera de Natal como a sua neta, desaparecida há 39 anos, e Maria Mariani.

A mulher que reclama ser Clara Anahí Mariani Teruggi e cuja identidade não foi relevada, apresentou um teste de ADN realizado privadamente num laboratório em Córdoba, na Argentina.

Mas dois testes de ADN – um realizado no início de 2015 e outro divulgado esta sexta-feira – mostram que não existe nenhuma relação entre as duas mulheres, disse Pablo Parenti, responsável pelo gabinete do Governo argentino que procura crianças raptadas durante a ditadura, refere a AFP. O segundo teste foi realizado pelo Banco Genético Nacional de Dados (BNDG) da Argentina, a instituição que fornece resultados oficiais para estes casos.

A mulher já tinha sido pessoalmente informada a 25 de junho, destas conclusões, mas omitiu o fato no primeiro contacto com a ativista dos direitos humanos, levando a um anúncio precipitado de uma descoberta que afinal não se confirmou.

Juán Martín Ramos Padilla, jornalista e biógrafo de Maria “Chicha” Mariani, divulgou na sua conta no Twitter, um comunicado em que faz referência à não confirmação de relação familiar entre a ativista e a mulher e ao fato desta já conhecer o fato deste o verão passado.

https://twitter.com/jmramospadilla/status/680518363408379904/photo/1?ref_src=twsrc^tfw

O jornalista divulgou também na sua conta na mesma rede social que está agendada para este sábado, ao meio-dia (hora argentina) uma conferência de imprensa onde se prevê que sejam dados esclarecimentos que levem a uma compreensão mais aprofundada da história, um sonho, que ao que tudo indica, só durou a noite de Natal.