Com prefácio do historiador António da Costa Pinto, a nova edição portuguesa de Mein Kampf regressa à tradução brasileira de Jaime de Carvalho, originalmente publicada pela Globo, que foi “revista e cotejada com o original”, de acordo com a E-Primatur, “acrescentando-se-lhe algumas partes não traduzidas”, o que a transforma, “portanto, na primeira tradução verdadeiramente integral da obra“, no mercado português.

A atual edição portuguesa é coordenada por Pedro Bernardo, um dos fundadores da E-primatur, surgida em maio deste ano, com o objetivo de criar uma “comunidade de editores”, através da promoção do “CrowdPublishing”, que alia o financiamento partilhado, “crowdfunding”, à publicação de livros.

Na apresentação da obra, a editora destaca que, “apesar do seu estilo errático e por vezes alucinado”, “A minha luta” contém uma “visão programática para a sociedade alemã – com alusões pouco veladas de eugenismo e uma ênfase obsessiva na questão racial, no papel da mulher alemã ou dos sindicatos -, para uma nova política externa (a referência constante à necessidade de espaço vital, mas também à política de alianças a levar a cabo) e, ainda, premonitoriamente, sobre os judeus”.

“No fundo, dez anos antes de chegar ao poder, o que viria a ser a política interna e externa do III Reich levada a cabo por Hitler já estava plasmada em livro”, lê-se na apresentação da E-Primatur.

“Embora algumas das ideias [de Hitler], em termos de geopolíticos, reflitam os medos e anseios dos alemães, fruto da sua posição geográfica no continente europeu (…) noutros aspectos o texto é mais perturbador, em especial na questão do eugenismo, no futuro dos povos de Leste e, essencialmente, o destino a dar aos judeus”, lê-se na antecipação da obra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O sítio da E-Primatur na internet indica ainda atalhos para polémicas sobre a reedição de “A minha luta” (“Mein Kampf”, no original), publicadas em títulos como The Telegraph, Magazine Litteraire, Le Monde, Libération, Deutsch Welle, Bloomberg, Washington Post e Newsweek.

A edição de 1976, da Afrodite, contava com comentários do historiador António H. de Oliveira Marques, do escritor e ensaísta José Martins Garcia, do ex-oficial do exército Sanches Osório, um dos militares de Abril, e recuperava textos de Rolão Preto, líder dos Nacional-Sindicalistas portugueses dos anos 1930, que chegou a opor-se a Oliveira Salazar.

A apresentação da Afrodite interrogava-se sobre o facto de “a difusão do ‘Mein Kampf’, em língua estrangeira, (…) não ter merecido a aprovação de Hitler”, citando o caso da edição francesa de 1934, feita apesar da proibição do autor.

“Uma consolação nos resta, algumas décadas volvidas sobre um grande massacre”, concluía a Afrodite: “Hitler pressentiu que ‘Mein Kampf’, obra ferozmente apologética, podia voltar-se contra a doutrina que veicula. Assim seja!”