A Polícia Judiciária (PJ) de Macau está a investigar um suposto desfalque numa sala de grandes apostas do casino L’Arc, com os fundos desviados a envolverem quase 100 milhões de dólares de Hong Kong (12 milhões de euros).

A informação envolvendo uma sala VIP do L’Arc, casino que opera sob a licença de jogo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), uma das seis concessionárias e subconcessionárias de jogo, fundada pelo magnata Stanley Ho, foi avançada ao final do dia de terça-feira pelos ‘media’ locais.

A PJ, que confirmou que recebeu a queixa no domingo, dia 03, apresentada por um representante do casino, e o montante envolvido (99,7 milhões de dólares de Hong Kong ou 11,9 milhões de euros), indicou hoje à Lusa que “o caso continua sob investigação”.

A Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) referiu, por seu lado, que não pode divulgar qualquer informação adicional, atendendo a que caso se encontra a ser investigado pela PJ.

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“Até ao momento, a DICJ não recebeu qualquer queixa sobre este caso”, acrescentou o órgão regulador, garantindo que “irá prestar muita atenção ao casino e ao desenvolvimento do caso e providenciar toda a assistência necessária à Polícia Judiciária durante a investigação”.

Trata-se do mais recente de uma série de desvios de fundos que têm afetado o segmento VIP que, embora sem o fluxo de outrora, ainda gera mais de metade das receitas dos casinos de Macau que continua a ser a capital mundial do jogo, apesar da curva descendente, encetada em junho de 2014.

O L’Arc faz parte do universo de negócios da empresária Angela Leong, a quarta mulher de Stanley Ho. A também deputada à Assembleia Legislativa de Macau, além de acionista, é diretora executiva da SJM, que detém duas dezenas de casinos em Macau.

Em declarações aos jornalistas na terça-feira, citadas hoje pelos ‘media’, Angela Leong afirmou não estar diretamente envolvida nas operações do dia-a-dia do L’Arc, e disse esperar que as investigações da polícia alcancem resultados rapidamente.

Em setembro último, o operador ‘junket’ Dore anunciou ter sido vítima de uma fraude interna de um funcionário, tendo as queixas apresentadas junto da polícia por supostos investidores da sala de jogo VIP — localizada no casino Wynn — ascendido a 540 milhões de dólares de Hong Kong (64,8 milhões de euros).

Estes foram os valores facultados à Lusa pela Polícia Judiciária (PJ) que indicou que o valor global, contabilizado até ao início de novembro, incluía ainda o reportado pela própria Dore, mas sem o especificar.

Este não foi o primeiro caso do tipo ocorrido no universo dos ‘junkets’ — angariadores de grandes apostadores designados oficialmente como “promotores de jogo” — nem o que envolveu mais dinheiro, mas foi dos que teve maior mediatismo.

Em abril de 2014 — nas ‘vésperas’ da primeira queda anual homóloga das receitas dos casinos de Macau — um outro golpe minou a confiança nos ‘junkets’, quando um operador do grupo Kimren, chamado Huang Shan, fugiu com uma maquia de dinheiro que, alegadamente, poderia ir até 10 mil milhões de dólares de Hong Kong (1,2 mil milhões de euros).

Fontes do setor ouvidas então pela Lusa justificaram esse cenário sobretudo com o facto de a maioria dos lesados ser de Macau — e não no interior da China — e de ter saído para a rua para protestar.

Após o caso Dore, a DICJ revelou que iria rever a legislação e as condições de acesso e de exercício de atividade de promoção de jogo. Contudo, ainda não foram entretanto facultadas mais informações nem tão pouco avançadas datas para o efeito.

Em meados de outubro, o regulador emitiu uma instrução que visa apertar a fiscalização das contas dos promotores de jogo.

Essa instrução — intitulada Normas que Definem o Regime Contabilístico para Promotores de Jogo — pretende constituir “mais um passo” para o “aperfeiçoamento da fiscalização”, segundo referiu então a entidade reguladora em comunicado.

Prevê, nomeadamente que, a partir deste ano, os ‘junkets’ “devam dispor de contas mensais para se sujeitarem à verificação a qualquer momento” e “apresentar dados dos principais empregados hierarquicamente superiores que exercem funções financeiras”.

Em paralelo, à luz dessa instrução, as informações e sistemas de contas também “devem ser guardados em Macau para se sujeitarem à verificação a qualquer momento”.