Arranca esta segunda-feira o julgamento da princesa Cristina, acusada por cooperação nos alegados crimes do marido, Iñaki Urdangarin. É a primeira vez que um membro da família real espanhola vai ser julgado em tribunal. A defesa de Cristina de Borbón, explicou o El País em novembro, tentará recorrer à chamada ‘doutrina Botín’, que a isentaria de sentar-se no banco dos réus. Essa jurisprudência diz que um acusado não será julgado se recair sobre este uma acusação popular, ou seja, se não for acusado pelo Ministério Público ou pelos diretamente afetados pelo processo. A infanta tem sido também pressionada a abdicar do título, mas só ela o poderá fazer.

O julgamento tem lugar cinco anos depois do início da investigação por parte do juiz José Castro, que teve como ponto central o desvio de mais seis milhões de euros de dinheiro público através do instituto Nóos, explica a RTVE. A instituição desportiva sem fins lucrativos, conta a BBC, terá sido usada como veículo para ganhar contratos falsos e inflacionados, dinheiro esse que chegava de governos regionais. Depois, Urdangarin conduziria alegadamente o dinheiro por canais até chegar às suas contas bancárias. Cristina fazia parte da direção da instituição, assim como partilhava com o marido a propriedade de uma empresa chamada Aizoon, alegadamente usada como veículo do dinheiro.

Estarão sentados nos bancos dos réus a infanta Cristina, Iñaki Urdangarin e mais 16 pessoas. O processo vai prolongar-se por vários meses e terá qualquer coisa como 360 testemunhas. Cristina, de 50 anos, enfrenta uma acusação de oito anos de prisão e uma multa de dois milhões de euros. Esta segunda-feira, no dia 1 do julgamento, chegou ao tribunal de Palma, Maiorca, juntamente com o marido. O Ministério Público pediu, no início de dezembro, uma pena de 19 anos e meio de prisão para Urdangarin.

As consequências, porém, começaram há mais tempo. Em junho de 2015, o rei Felipe VI retirou a Cristina, a sua irmã, o direito de utilizar o título de Duquesa de Palma de Maiorca, que lhe foi atribuído mediante o Real Decreto publicado a 26 de setembro de 1997. A par de Cristina, também o marido Iñaki Urdangarin perdeu o título de Duque de Palma de Maiorca.

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Os pais de Cristina, o emérito rei Juan Carlos e a rainha Sofia, tiveram reações diferentes, conta o El País esta segunda-feira. Juan Carlos terá sido inflexível, deixando esfriar a relação, impedindo até a filha de participar na coroação de Felipe VI e na cerimónia de sucessão, em junho de 2014. O diário espanhol sugere uma conversa tensa entre ambos, e estéril, já que Cristina rejeitou o pedido do pai e se apresentou em La Zarzuela. A infanta teria apenas acesso aos aposentos da mãe, com quem almoçaria. Sofia foi “mais mãe do que rainha”, escreve o El País, contribuindo para uma situação mais complicada. Quando rebentou o caso Nóos, a rainha deslocou-se aos Estados Unidos para passar uns dias com Cristina e família, aparecendo até numa fotografia na revista ¡Hola!

O El País conta ainda que Cristina comunica com a família através da mãe e irmã e que se sente “abandonada”. A infanta terá, nos últimos tempos, ido a Barcelona às escondidas preparar o julgamento. Os quatro filhos do casal permanecem em Genebra, onde o casal vive.

Veja aqui o julgamento em direto, através do jornal El País.