A deputada do PCP Ana Mesquita alertou para o facto de a unidade de produção da Cimpor de Souselas, Coimbra, poder vir a duplicar as emissões de carbono num dos fornos do complexo industrial.

Numa reunião com elementos da população de Souselas e arredores, a escassas centenas de metros da cimenteira, a parlamentar comunista revelou que, de acordo com o processo de consulta pública da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Cimpor solicitou o aumento das emissões nos fornos dois e três, neste caso das atuais 39 miligramas (mg) para 100 miligramas por metro cúbico. A cimenteira pediu também o estabelecimento de um limite de 75mg no forno três e 82mg no forno dois.

“Isto significa, na prática, o aumento duas a duas vezes e meia em relação aos valores de emissão de carbono e não pode deixar de merecer muita preocupação da nossa parte”, frisou Ana Mesquita, considerando que o processo de consulta pública não foi amplamente divulgado, o que levou a maioria da população a não questionar as intenções da cimenteira.

A deputada do PCP recordou que, a 22 de dezembro, um dia depois de terminar o processo de consulta pública, questionou o ministro do Ambiente sobre que medidas pretende tomar para avaliar os impactos do aumento de emissão de carbono e também qual a tipologia de resíduos a incinerar, mas que ainda não obteve resposta.

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Por outro lado, Ana Mesquita considerou “muito grave” que não existam informações sobre o processo de monitorização dos impactos na saúde que o aumento de emissões de carbono pode vir a ter na população.

A parlamentar comunista defendeu que deviam ser estudadas alternativas à queima de resíduos, porque “importa salvaguardar a qualidade de vida” dos residentes, e prometeu estar ao lado da população no “acompanhamento e controlo do processo” de aumento das emissões de carbono.

O antigo presidente da Junta de Freguesia de Souselas, José Figueiredo, disse temer o agravamento da qualidade de vida da população, com o aumento coincineração de resíduos industriais e resíduos urbanos, estes últimos provenientes do Centro Integrado de Tratamento de Vil de Matos (Coimbra), “que, segundo se diz, trazem pneus, plásticos e matéria perigosa que é aqui queimada em grandes quantidades”.

José Figueiredo considerou “extremamente grave” que a APA permita o aumento de emissões, ao mesmo tempo que exortou a Cimpor a cumprir a lei das emissões de gases e a respeitar a saúde das pessoas que vivem “debaixo de uma fonte de poluição”.

Salientando que se notam cada vez mais problemas de saúde e doenças nas pessoas de Souselas e arredores, o antigo autarca acusou as entidades responsáveis de nunca terem feito estudos sobre os impactos da cimenteira na saúde.

“Se houvesse um estudo rigoroso e sério nesta área, tenho a certeza de que se encontravam problemas suficientes para a Cimpor não estar a efetuar pedidos de aumento de emissões de carbono para mais do dobro”, sublinhou.

Uma fonte oficial da empresa referiu à agência Lusa, a 30 de dezembro, que “esteve em discussão pública um pedido da Cimpor para uma alteração do valor limite de emissão de carbono orgânico total, nos fornos da fábrica de Souselas, para 75 miligramas por normal metro cúbico”.

Este pedido, acrescentou, “tem como único objetivo a estabilização da incorporação de combustíveis derivados de resíduos industriais e urbanos, não perigosos, no processo de fabrico de cimento, o que, tendencialmente, não implicará um aumento do valor médio anual” das emissões naquela unidade.