Quantas vezes não entramos num café ou num bar e somos condenados a ouvir o que estiver a dar na televisão ou numa estação de rádio de playlist comercial e repetitiva. Aqueles para quem a música não é um simples barulho de fundo devem tomar nota do seguinte nome: BOP Café. Ele pode tornar-se rapidamente no seu espaço favorito no Porto. O menu, com os bagels, as sanduíches de nome deli, a tarte de maçã, o pour-over coffee e as cervejas do mundo, faz o resto.

Para ouvir…

Da primeira vez que entrámos no BOP, que abriu as portas a 13 de dezembro na Rua da Firmeza, na zona do Bolhão, fomos servidos por Nuno Rodrigues, voz e guitarra dos Glockenwise, também conhecido por Duquesa quando atua a solo. Para a mesa vieram duas cervejas, a irlandesa Guinness e a alemã Erdinger. E um vinil de Bob Dylan, Desire, escolhido por nós. É que neste café há dois menus, o das comidas e bebidas e o dos vinis, com vantagem para este último — tem cerca de 3.500 opções.

“Coleciono discos há uns cinco ou seis anos”, conta Filipe Ribeiro, 30 anos, que com a ajuda do sócio João Brandão, responsável pelos Estúdios Sá da Bandeira, abriu o BOP Café. Depois de estudar luz e som, tentou trabalhar no teatro como maquinista mas, para além de dois estágios no Teatro Nacional São João e no Teatro Helena Sá e Costa, não conseguiu emprego. “Nessa altura pensei: ‘isto está marado, não sei se quero continuar.” Um dia, o colecionador de discos encontrou num blogue um bar em Tóquio chamado JBS. Quem vir imagens vai perceber imediatamente de onde é que Filipe tirou a ideia de fazer o balcão em madeira, com os bancos a fazerem lembrar os típicos diners americanos, e de reunir milhares de discos de vinil nas prateleiras do espaço.

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“Eu pensei: tenho tantos discos em casa, como é que eu posso ouvi-los o dia todo e ganhar dinheiro com isso? Juntei o útil ao agradável. Estou rodeado de discos e posso ouvi-los, que é o que sempre quis.” Pode ele e os clientes, já que Filipe mandou instalar três postos de escuta com gira-discos e auscultadores em três mesas. Por enquanto, cada pessoa terá de perguntar aos funcionários se determinada banda ou músico faz parte da coleção. Em breve, todos os discos vão estar listados e disponíveis para consulta, ou no site do BOP, ou através de um tablet no bar.

O pesadelo de qualquer colecionador é que lhe estraguem os objetos. Filipe não é exceção. “Estou cheio de medo”, confessa, num riso preocupado. “Mas meti-me nisto e vou ter de ver a melhor maneira de os preservar. Da outra vez veio aqui um senhor e disse-me que a agulha desgasta os discos se forem tocados muitas vezes, mas eu disse que os discos são para serem ouvidos! O meu medo é que peguem nas capas com as mãos sujas, que deixem cair, que molhem as capas….”

Bar-Bop-Vinil

A oferta é variada: vai desde nomes bem conhecidos como Elton John, Kate Bush, Pink Foyd, Beatles e Ray Charles, aos grupos menos óbvios, como Jethro Tull, passando por raridades portuguesas, caso do Quarteto 111, o grupo formado nos anos 60 por onde passaram José Cid, Tozé Brito e Mike Sergeant. A capa do disco que estiver a tocar está na montra, para chamar quem passa na rua. E nada de passar canções à frente — aqui ouve-se o lado A e o lado B de uma assentada.

O cliente também não tem direito a musicas pedidas. A escolha do que passa no bar é do proprietário e, quando ele não está, é dos funcionários. Filipe Ribeiro, que tinha acabado de colocar um LP de Charles Mingus, diz ser fã de música negra, do jazz ao soul, passando pelo funk. Já Nuno Rodrigues dos Glockenwise prefere passar instrumentais, bossa nova ou Jacques Brel. Rafael Ferreira, colega de Nuno nos Glockenwise e que ajuda na cozinha do BOP, prefere o rock. Outro dos funcionários, o também músico Carlos Jesus, dos The Sunflowers, é o que arrisca mais. “ele pega nos discos, olha para as capas e diz: ‘vou ouvir isto’. E eu adoro que o faça porque assim não mete só aquilo que conhece”, contou.

Para beber…

Por tudo isto, o BOP Café já seria suficientemente único. Mas Filipe Ribeiro não se quis distinguir só pelo sentido da audição. Depois de três anos a preparar o negócio, e depois de ter tirado o curso de barista, esforçou-se para que o paladar também encontrasse sabores diferentes para provar. “Procurámos coisas diferentes”, diz, antes de explicar os diferentes tipos de café que ali podem ser bebidos. Há o expresso, claro. Depois há o café de filtro, moído na hora e servido em canecas.

Mas a estrela da carta de cafés é o pour-over coffee, “uma novidade no Porto”, destaca o proprietário. Por 2,50€ o cliente tem direito a ver o barista preparar o café, num processo que pode demorar alguns minutos. Depois de se escolher a origem dos grãos — Colômbia ou Etiópia –, mede-se a proporção entre o café e a água filtrada, depois ferve-se a água, moem-se os grãos e colocam-se sob o jarro que será servido ao cliente. É então colocado um filtro e e é por ali que o barista vai deitando a água, lenta e cuidadosamente.

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No momento final do pour-over coffee, a água passa pelo filtro e cai diretamente no jarro que é servido ao cliente

Também não há cervejas Super Bock nem Sagres “porque toda a gente tem”, explica Filipe. As cervejas de pressão são a Guinness, a Erdinger e a BOP Beer, uma semi-artesanal alemã que é a cerveja da casa e que pode ser provada por 1,50€.

De garrafa há, por exemplo, cervejas mexicanas (Pacífico Clara e Modelo), uma jamaicana (Red Stripe) e duas americanas, a West Coast IPA e a Brewdog Vagabond, esta última sem glúten. O objetivo agora é ter mais cervejas americanas na lista, como a Pabst Blue Ribbon e a Coors, as cervejas mais simples e mais bebidas pelas terras do Tio Sam.

O BOP também é muito procurado para a modalidade que cada vez mais se pratica em Portugal, o copo ao fim do dia. Não faltam na carta bebidas mais alcoólicas como os vinhos (garrafa ou copo), gins e vários whiskeys.

Para comer…

Já seria de esperar que os pequenos-almoços por estas bandas também não fossem a típica meia de leite e torrada ou croissant misto. No BOP, a primeira refeição do dia pisca mais o olho aos turistas, por ser mais demorada. Há a taça de fruta com iogurte (2,80€) ou os cereais com leite ou iogurte (2,20€, com a opção de leite de soja). Depois há três menus, entre os 3€ e os 8,50€, que podem incluir café, chá, sumo natural e bagel.

Há dois bagels à disposição, que podem ser pedidos fora do menu de pequeno-almoço: o “Lox”, com queijo creme, salmão fumado e cebolinho (3,80€), ou o recheado que pode ter queijo creme, compota, manteiga normal ou de amendoim (1,80€).

Nas sandes (entre 3,50€ e 6€) encontramos ingredientes como peito de peru fumado e paio de lombo (na “White Deli”), pá fumada e chouriço ibérico (“Red Deli”) e até baba ganoush para os vegetarianos e vegans (“Green Deli”). O molho aioli é feito ali. Quem procura algo doce encontra tarte de maçã ou de frutos vermelhos e bolachas.

Para se cruzar com alguns dos melhores músicos da atualidade…

O primeiro mês de vida está a ser bom em termos de afluência. Filipe Ribeiro confessa que a parte burocrática, como tratar do inventário, lidar com fornecedores e ir ao banco todos os dias, é mais difícil do que pensava. Mas há outra surpresa que compensa tudo isso. “Não estava à espera que as pessoas fossem ao balcão agradecer-me por abrir isto. Dizem-me: ‘vivemos aqui há seis anos e não tínhamos nada de jeito.'”

Quem quiser pode levar os seus próprios vinis para ouvir. E, em breve, até vai poder comprar alguns ali. “Isto em fevereiro vai ser a loja física da Lovers & Lollypops”, adianta o colecionador. A editora e promotora fundada por Joaquim Durães vai vender ali os discos de algumas das bandas com as quais trabalha, como Black Bombaim, Torto, Filho da Mãe ou Throes + The Shine.

E, como já se percebeu, pelo BOP vão passar, para além de muitos melómanos, muitos músicos. “Muita malta rock pára aqui, também porque mora aqui. Também por isso optei por não abrir o espaço na Baixa”, reconhece. Por isso, se decidir passar por lá, não se admire se encontrar Capicua, André Tentúgal dos We Trust ou Manel Cruz, Peixe e Kinörm dos Ornatos Violeta.

Nome: BOP Café
Morada: Rua da Firmeza, 575, (Bolhão), Porto
Telefone: 22 200 1732
Site: http://www.bop.pt
Horário: De segunda a quinta das 09h30 às 01h00, sexta das 09h30 às 02h00, sábado das 10h30 às 02h00 e domingo das 10h30 às 01h00