A Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA) está “atónita” por a Câmara de Lisboa não ter ouvido as entidades aeronáuticas sobre os eventuais riscos para a segurança da aviação que o projeto da Segunda Circular pode acarretar.

“Ficamos absolutamente atónitos. Como é que a Câmara de Lisboa pôs a consulta pública uma questão dessas sem consultar pelo menos a ANAC [regulador do setor] e o GPIAA [Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves] e, de seguida, quem pilota os aviões e melhor sabe dos perigos para os aviões, nomeadamente com aves, que são os pilotos?”, criticou o presidente da APPLA, Miguel Silveira, em declarações à agência Lusa.

Questionada pela Lusa, a Câmara assegura que o projeto para a Segunda Circular não vai afetar o tráfego aéreo.

O projeto, que está em consulta pública na página da internet do município até sexta-feira, contempla a plantação de 7.500 árvores na zona envolvente da Segunda Circular e mais de 500 exemplares ao longo do separador central, o que pode vir a potenciar o aparecimento de grandes quantidades de aves naquela zona próxima do Aeroporto de Lisboa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A Segunda Circular passa junto ao Aeroporto de Lisboa e, nomeadamente nas áreas de aproximação, em viaduto, pelo que a questão não se coloca, pois aí no projeto não está previsto que haja árvores. De qualquer modo, já existem muitas zonas bastante arborizadas na área envolvente e próxima do aeroporto como a Mata de Alvalade, o Jardim do Campo Grande, o Hospital Júlio de Matos ou a zona dos Olivais”, frisou a autarquia na resposta.

Opinião diferente tem Miguel Silveira, que acredita que a Autoridade Nacional de Aviação Civil vai tomar uma posição.

“A própria ANAC, nas imediações e nas áreas de proteção do aeroporto, não vai deixar que se faça nada disso. Não é só as árvores, como o crescimento das próprias árvores. E não é só no enfiamento direto da pista, é nas imediações, com raios previamente definidos, segundo as regulamentações e os manuais para o efeito. Tem de haver ali um raio enorme de proteção no que diz respeito, por exemplo, à pista 03”, sustentou o piloto.

A APPLA estará contra “quaisquer tipo de medidas que possam trazer mais aves para as imediações do Aeroporto de Lisboa, além daquelas que já existem”, dando Miguel Silveira o exemplo de uma situação que se arrasta há anos.

“E isto, para não falar já na nossa tremenda preocupação relativamente à existência de um pombal enorme a norte do Aeroporto de Lisboa, que as coisas vão estando controladas, mas que é uma preocupação nossa e dos controladores do tráfego aéreo desde há muitos anos. Só faltava agora virem plantar árvores que obviamente vão servir de refúgio a variadíssimo tipo de aves nas imediações do aeroporto”, alertou.

Para o presidente da APPLA, toda esta situação revela “um profundo desconhecimento” do que é a segurança aérea, o que, no seu entender, não é de estranhar.

“Um país que não tem política aérea é obviamente um país que não tem cultura aeronáutica e é um país que não tem conhecimentos aeronáuticos, além dos profissionais do setor do transporte aéreo, da aeronáutica”, lamentou.

Esta associação de pilotos esclarece, contudo, que “está a 100% ao lado de medidas que venham favorecer o meio ambiente”, mas deixa uma questão.

“O meio ambiente é bom para todos nós, mas a segurança dos aviões não é menos importante do que o meio ambiente. Os aviões têm pessoas lá dentro. Há coisas mais importantes do que a vida humana? Se calhar não há”, concluiu o responsável.