Os dois novos fiscais do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República (CFSIRP) indicados pelo PSD (António Rodrigues) e pelo PS (Filipe Neto Brandão) estão tranquilos quanto a eventuais ilegalidades praticadas pelas secretas e não defendem qualquer alteração à lei de modo a ter mais capacidade de fiscalização.

Isto depois de nos últimos dias ex-responsáveis das secretas terem admitido em tribunal que é frequente os serviços pedirem dados às operadoras de telecomunicações, fazerem escutas ambientais ou fotografar documentos. Estas revelações foram feitas no âmbito do processo em que Jorge Silva Carvalho (ex-diretor do SIED) e João Luís (ex-diretor operacional) são acusados de acesso indevido faturação detalhada do telemóvel do jornalista Nuno Simas.

Em audição prévia no Parlamento, na quarta-feira, a polémica foi trazida à discussão pelo deputado do PCP, António Filipe. “Apesar de o Conselho de Fiscalização do SIRP ser constituído por pessoas de indiscutível idoneidade, verifica-se uma incapacidade para se proceder a uma fiscalização efetiva. Sempre que vieram a público escândalos sobre a atuação dos serviços de informações, os sucessivos conselhos de fiscalização foram a correr atrás do prejuízo, atuando tarde e a más horas”, disse. “Tem sido dito que os serviços de informações dispõem de informadores nas operadoras de comunicações, que os agentes têm meios e fazem escutas ambientais, e que tudo isso é feito com conhecimento superior. O país e a Assembleia da República estão confrontados com acusações gravíssimas sobre a atuação dos serviços de informações”, acrescentou.

Neto Brandão e António Rodrigues prometeram, segundo a Lusa, atenção e ação face a eventuais situações de violação da lei, mas ambos manifestaram confiança na existência de um quadro global de legalidade na atuação por parte dos elementos dos serviços de informações.

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Todos os anos o Conselho de Fiscalização entrega uma relatório sobre os serviços (SIS e SIED) e em nenhum deles admitiu ter detetado qualquer prática ilegal.

Rodrigues, citado pelo Público, considerou que os serviços estão a funcionar “satisfatoriamente” e Neto Brandão garantiu que será cumprido o acórdão do Tribunal Constitucional que, em agosto, “chumbou” a possibilidade de as secretas acederem aos chamados metadados (dados de telecomunicações, dados bancários e fiscais). Esta alteração mereceu o acordo do PS e PSD em nome do combate ao terrorismo mas em 13 juízes do TC 12 consideraram ser uma prática inconstitucional. Ora, o que está em causa no processo que decorre na justiça sobre o jornalista Nuno Simas é precisamente acesso a metadados – informação sobre os números de telemóvel (e posterior identificação do utilizador) contactados pelo jornalista.

António Rodrigues e Filipe Neto Brandão serão eleitos esta sexta-feira para o Conselho de Fiscalização substituindo José António Branco e João Soares.