A primeira vez enfiou-se dentro de cesto de lavandaria, no meio de roupa suja. Terá ameaçado ou subornado alguns guardas, que fizeram vista grossa e o ajudaram a sair dali no interior de um camião de limpeza. A segunda, mais elaborada, fê-lo evadir-se por um túnel escavado no solo debaixo da sua cela. Através de um buraco aberto no chuveiro da cela, desceu as escadas, percorreu quilómetro e meio subterrâneo de mota e escapou-se. Ninguém mais o viu até 8 de janeiro, quando foi capturado pelas autoridades mexicanas e devolvido, outra vez, a uma prisão. Joaquín “El Chapo” Guzmán já fugiu de duas cadeias de alta segurança no México, mas, desta feita, o país nem está a deixar que um segundo passe sem que alguém esteja de olho no maior narcotraficante do país.

Ao México foram apontados éne dedos, os da crítica e ridicularização, quando o líder do cartel de Sinaloa se conseguiu evadir da Prisão de Alta Segurança de Altiplano. Mais ainda quando as gravações de áudio e vídeo sugeriram que El Chapo terá tido, de novo, a complacência dos guardas prisionais no momento da fuga. Após permanecer em fuga durante mais de seis meses, Guzmán foi capturado no início de janeiro, tramado pelas mensagens de telemóvel que trocou com atores, sobretudo Katie de Castillo e Sean Penn, que arranjaram maneira de o segundo se encontrar com o narcotraficante e de o entrevistar. Já recapturado, El Chapo foi enclausurado outra vez em Altiplano.

Agora, contudo, tudo é diferente. Quando está dentro da cela, Guzmán está a ser observado por vários guardas prisionais, todos de capacete, no qual está instalada uma câmara “com tecnologia térmica de última geração”, capaz de registar “rotinas de conduta” e alertar para o caso de “situações não usuais”. Cada vez que El Chapo abandona a cela, o espaço é revistado meticulosamente e, na prisão, estão sempre cães treinados para detetar o odor do narcotraficante. Tudo isto sabe-se porque, na segunda-feira, Carlos Loret de Mola, jornalista mexicano, publicou um editorial no El Universal no qual detalha as medidas reforçadas que a Comissão Nacional de Segurança implementou na prisão — a mesma da qual Guzmán escapou, em julho.

E há muito mais.

Nos cinco dias que El Chapo já passou em Altiplano, o narcotraficante trocou de cela sete vezes. Em algumas nem um dia chegou a passar e o jornal mexicano dá conta que, na secção de segurança especial onde Joaquín Guzmán está, existem mais de 30. O jornalista, aliás, publicou na sua conta de Twitter uma imagem que, alegadamente, mostra o narcotraficante de costas, com as mãos algemadas, no interior de uma das celas, vestido com um fato castanho claro. No espaço é possível ver um cobertor em cima da cama, um garrafão de água encostado a um canto e, em cima de uma pequena mesa, o que parecem ser objetos de higiene pessoal.

Os homens que estão 24 horas por dia a vigiá-lo não são guardas prisionais normais: pertencem a uma unidade de elite, treinada especialmente para o efeito, de modo a evitar que sejam próximos da rede de narcotráfico do cartel de Sinaloa e que possam ser aliciados em colaborar com El Chapo.

A cadeia, hoje, tem tecnologia em funcionamento para revistar ao pormenor qualquer veículo, mala, objeto e pessoa (até a pele e as palmas das mãos serão analisadas) que entre na prisão. O estabelecimento prisional de alta segurança de Altiplano até desviou vários tubos de canalização do Sistema Cutzamala — rede de abastecimento de água do Distrito Federal do país, perto da Cidade do México, capital. Como algumas obras de remodelação da prisão ainda decorrem, até as ferramentas têm lugares específicos, decalcados nas paredes, para qualquer pessoa notar pela falta de algum instrumento. Tudo para nem dar hipótese a que Joaquín “El Chapo” Guzmán volte a tentar e a conseguir escapar da prisão.

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