Um em cada dez jovens praticantes de desporto já foi vítima de bullying, enquanto dois por cento sofrem de agressões persistentes, principalmente no balneário, revela um estudo da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa.

A investigação pretendeu “identificar se existia estes comportamentos antissociais no contexto de formação desportiva em modalidade individuais, coletivas e de combate”, disse à agência Lusa o orientador do estudo e professor catedrático na FMH, Carlos Neto.

O estudo envolveu 1.458 atletas (todos rapazes) dos escalões de formação (juvenis, juniores, cadetes) praticantes de nove modalidades: ginástica, atletismo, natação, futebol, rugby, andebol, voleibol, judo e luta.

Os atletas estão envolvidos em atividades de competição e filiados em clubes desportivos de todo o país,

Para o investigador, as conclusões do estudo “são preocupantes”: “Constatámos que existe uma percentagem elevada de cerca de 10% de eventos de bullying em contexto desportivo e a existência de vítimas persistentes na ordem dos 2%”.

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Apesar da taxa de vitimização ser elevada (10,1%) é inferior aos valores encontrados em contexto escolar, o que é explicado pelo facto de, ao longo dos anos, ser feita uma seleção progressiva na formação desportiva, que afasta os menos aptos, da presença de um adulto (geralmente o treinador) e dos atletas, ao contrário da escola, poderem desistir de frequentar o clube.

A maioria dos episódios de bullying ocorre dentro do clube, especialmente no balneário, seguido do local de treino, sendo as agressões essencialmente verbais (ofensas e gozo) mas também social (exclusão do grupo).

Segundo o estudo, as vítimas tendem a manter o silêncio relativamente à vitimização e nos casos de agressões repetidas e de longa duração procuram apoio na família e nos colegas, mas os resultados são geralmente negativos em ambos os casos.

Isto porque os jovens não conseguem resolver a situação mesmo com o apoio de terceiros, “reforçando a crença, presente em muitas vítimas, de que os sistemas de apoio não são suficientes e contribuindo para a manutenção do fenómeno”, explica, acrescentando que a resolução da situação parece depender das estratégias adotadas para lidar com ela (estratégias de ‘coping’).

Relativamente aos agressores, o estudo aponta que, “quando a frequência das agressões aumenta, os sujeitos tendem não só a gozar mas também a excluir a vítima do grupo, aumentando a gravidade do bullying e generalizando-se o fenómeno”.

Revela ainda que a generalidade dos observadores condena o bullying, sentindo que este comportamento é reprovável e criticando o agressor.

O estudo sublinha que fenómeno do bullying na formação desportiva “é preocupante, tendo várias consequências para os seus intervenientes, sendo, um deles, o abandono desportivo”.

“O bullying pode ter consequências devastadoras do ponto de vista físico e psicológico, afetando aspetos decisivos do desenvolvimento psicossocial dos jovens, quer das vítimas, quer dos próprios agressores e observadores, com implicações no seu rendimento desportivo e na sua carreira desportiva”, adverte.

Os investigadores defendem que é necessário desenvolver modelos e estratégias de intervenção.

Nesse sentido, a FMH e o Instituto Português do Desporto e Juventude estão a desenvolver a ação “Cartão Vermelho ao Bullying”, um programa de intervenção a nível nacional que decorrerá em três fases: divulgação do fenómeno, formação de treinadores, pais e dirigentes de clubes e implementação de programas anti-bullying em alguns clubes desportivos.