O que faz com que um casamento ou uma relação termine? Há quem defenda que a falta de comunicação é o grande bicho papão. Outros dizem que a comunicação em demasia — isto é, discussões por tudo e por nada — é que acaba até com o amor mais eterno. No meio de tantas opiniões, os especialistas desempatam: uma das questões cruciais para se fazer numa relação é a seguinte: consegue falar com o seu parceiro? Ao fim e ao cabo, uma das coisas que todos os casais precisam de saber é aprender a comunicar sobre conflitos — porque eles vão sempre existir. O que realmente faz a diferença é a forma como lidamos com eles.

Karl Pillemer é um autor americano que se tornou um fenómeno com o seu livro 30 Lessons for Loving: Advice from the Wisest Americans on Love, Relationships, and Marriage (30 lições sobre o amor: conselhos dos americanos mais sábios sobre amor, relações e casamento). Ao invés de escrever um livro com as suas opiniões, Pillemer entrevistou milhares de casais (de todas as esferas sociais, raças, grupos étnicos, incluindo casais do mesmo sexo) com o objetivo de criar um mapa para as relações duradouras. No entanto, antes de percebermos como podemos resolver estes conflitos, temos de ir ao cerne da questão: afinal, porque é que andamos todos a discutir em casa?

Porque discutem os casais?

Na sua coluna sobre família no jornal The Guardian, Tim Lott, um jornalista e autor britânico premiado, apresentou as 10 razões que levam os casais a discutir. Salientamos as cinco mais importantes:

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1. Sexo

Um dos assuntos mais propensos a criar falhas de comunicação. E quando não há comunicação na vida, não pode haver comunicação entre os lençóis. O autor resume as diferenças de forma simples: ou um parceiro quer mais, ou quer menos. Ou, no pior dos cenários, isto aplica-se aos dois.

2. Arrumações e limpezas

É impossível que duas pessoas diferentes tenham as mesmas normas nesta área. Para o preguiçoso, o outro vai ser sempre um maníaco por limpeza. É preciso perceber quais são os limites de cada pessoa e até onde podem mudar para se encaixar nas normas do outro.

3. O que é melhor para os filhos

Grande parte das discussões acaba por cair na forma correta de educar os filhos. Já lá vai o tempo em que esse era um campo exclusivo das mães e, hoje em dia, é preciso haver uma negociação dos valores que cada um dos adultos quer passar aos filhos.

4. Dinheiro

Quem ganha mais em casa? Se uma pessoa ganha cinco vezes mais do que o parceiro, deve dividir uniformemente tudo com ele? Problemas financeiros levam a dívidas, stress e ansiedade, e isso também gera discussões.

5. Relações com outros membros da família

O fosso entre a perceção que uma pessoa tem da sua própria família e a que o seu parceiro pode ter criam muitas vezes conflitos. O autor dá o exemplo de situações em que uma irmã passa demasiado tempo em casa do casal ou em que uma mãe continua a achar que o parceiro não é suficientemente bom para a filha. O potencial para conflitos é multiplicado por dez quando envolve a família.

Aprender a discutir

Karl Pillemer diz que todos nós temos que nos habituar às discussões ou, para ser mais suave, às divergências. E o segredo para uma relação feliz, à semelhança do que declarou a psicóloga Cláudia Morais ao Observador, é a comunicação em torno das diferenças que existem entre duas pessoas. Eis algumas técnicas para comunicar, resolver e evitar conflitos de grande dimensão ou quando as coisas começam a ficar tensas:

Se está a ter problemas em discutir algum assunto, saia de casa. Quando estamos na nossa própria casa, estamos no mesmo ambiente em que os problemas estão a acontecer. Uma mudança de cenário pode ser uma ajuda numa melhor comunicação porque o casal vai estar num local externo onde não pode fazer mais nada se não falar calmamente.

Encontre uma forma de desabafar. Uma das formas que o autor sugere é escrever tudo o que sente numa carta (e-mail ou o que funcionar) quando está muito chateado, colocá-la de lado e voltar a lê-la no dia seguinte. A escrita ajuda a neutralizar os motivos de conflito e aumenta a capacidade de os discutir mais tarde porque uma grande parte do problema em si é a vontade de desabafar e isso pode ser feito de várias maneiras, entre elas a escrita.

Esqueça as provocações. Porque é uma forma muito fácil de iniciar um conflito e podem ficar fora de controlo. Muitos casais usam as provocações para abordar os problemas mas esta é uma estratégia perigosa que pode degenerar em conflitos graves que, no meio de piadas, provocam danos demasiado profundos.

Deixe o seu parceiro falar. Fazer um esforço para ouvir e mostrar claramente ao seu parceiro que está a prestar atenção é um grande caminho para resolver os conflitos. Karl Pillemer diz que este é um dos grandes desafios de qualquer relação: calarmo-nos para ouvir a perspetiva do nosso parceiro. Grande parte das pessoas, ao invés de ouvir, fica a pensar no que vai dizer a seguir para contradizer ou para reforçar o que disse anteriormente. E o conflito vai continuar e continuar porque nenhum dos dois vai ouvir a opinião do outro. Parar e perguntar ao parceiro “o que achas que seria a coisa certa a fazer?” pode ser uma boa forma de iniciar um diálogo coerente sobre um problema.

Deixar algumas coisas para trás é crucial. É importante fechar os olhos a muitas coisas e descobrir o que realmente importa ou não discutir. Se estiver num conflito relativamente a alguma coisa, pare e questione o seu parceiro para qual dos dois esse assunto é mais importante. Se não for assim tão importante para si, não abra guerra por isso e deixe esse assunto para lá.

Saiam da vossa zona de conforto. Em relações ainda recentes, mudanças de cenários podem ajudar a perceber se está realmente com a pessoa certa e se todos esses conflitos valem ou não a pena. Quando passamos as noites no mesmo sofá, vamos aos mesmos restaurantes e fazemos os mesmos planos com a outra pessoa, não conseguimos perceber como vão ser as nossas interações com ela — porque não estão a ser postas à prova. Um ambiente invulgar vai mostrar como é que o casal consegue trabalhar em conjunto quando as coisas ficarem realmente feias.

Comam uma sandes. A dica parece invulgar mas o autor explica: muitas discussões surgem porque uma das partes está impaciente e com fome. Não é que uma sandes de carne assada faça milagres mas a impaciência faz com que uma chuvinha pareça uma tempestade e discutir antes de jantar ou almoçar também. Sentarem-se à mesa, comerem e depois falarem sobre o problema vai torná-lo muito menos dramático.

Escolham o momento certo para falar sobre os problemas. Muitas vezes, nós achamos que o momento certo para abordar um problema é quando queremos falar sobre ele. Mas o autor explica que essa é exatamente a altura errada. O ideal será esperar por um momento em que ambos estejam mais calmos e recetivos a discutir qualquer questão difícil — pode ser depois de jantar, por exemplo, quando já está tudo mais calmo em casa. Não é fácil encontrar este balanço mas é crucial.

Sejam educados. Esta parece uma sugestão um bocado parva, é verdade, mas quem são as pessoas com quem temos pior feitio? Aquelas com quem vivemos. E quando estamos chateados é muito fácil esquecermos a educação e falarmos sem consideração pelos sentimentos da outra pessoa. Segundo o autor: o amor não é um passe livre para sermos rudes. E dá uma sugestão: durante uma semana, finja que o seu parceiro é alguém que quer muito impressionar. Porque, no final das contas, isso não é verdade?