As bandas infanto-juvenis são geralmente menosprezadas, mas a verdade é que as músicas da nossa infância são formativas e nunca mais nos esquecemos do que ouvimos naquele período da nossa vida. Muitos músicos justificam o facto de cantarem em inglês porque essa é a música com que cresceram. Já diziam os Ministars: “Se tu gostas daquelas cantigas que vês nos tops e clips da TV e ainda não sabes ler em inglês — então canta em português. Aquelas letras não te dizem nada e uma canção não é só melodia. Há outra coisa, há poesia — então canta em português. (…) Se te disserem que é o que está na berra e agora a moda é cantar inglês, manda-os à fava pois na nossa terra o que se fala é o português”.

A maioria das músicas destas bandas eram sucessos de versões internacionais com uma letra nova em português, mas também há muitas originais. A partir de 1986, depois da decadência do boom do rock português, atacaram as tabelas e tornaram-se célebres.

Os membros destas bandas viviam uma vida paralela entre a escola e ensaios ou concertos, numa carreira que não lhes era propriamente lucrativa. Na sua maioria, recebiam em géneros: discos, roupa ou instrumentos musicais.

A verdade é que quase metade dos conjuntos musicais portugueses formados por crianças surgem do casamento de Ana Faria e Heduíno Gomes. Uma relação que, para além de afectiva, se demonstrou bastante produtiva musicalmente, com os três filhos também em muitos dos seus projectos. Porque é que eles acharam que as bandas com crianças eram melhores do que as bandas com adultos? Não sabemos.

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Queijinhos Frescos

Antes dos Onda Choc, ainda Ana Faria cantava, aparecem os Queijinhos Frescos. Eles não são nada mais que os três filhos deste casal, Pedro, Luís e João Faria Gomes. A família criou aqui o molde para a fórmula de sucesso de quase todos os grupos deste artigo: cantar sucessos internacionais com uma letra nova em português.

Onda Choc

A primeira experiência com sucesso do casal foi num disco de Ana Faria chamado “Brincando aos Clássicos”, onde todas as canções tinham o nome de uma criança e eram adaptações de êxitos da música clássica. A mais conhecida era sobre o “Luís” já ter ido a Paris, uma adaptação da ária “Lá Donna è Mobile”, da ópera Rigoletto, de Verdi. O disco fez tanto sucesso que lançaram um segundo volume e outras doze crianças tiveram músicas só para si (e os seus homónimos). Os Onda Choc foram a banda mais prolífera deste género. O grupo por onde passaram mais crianças, o que teve mais discos, com as músicas mais conhecidas. Fizeram parte da banda, entre outros, Marisa Liz (vocalista dos Amor Electro), Suzy (representante de Portugal no Festival da Eurovisão de 2014) ou a cantora Micaela. Fizeram concertos pelo país todo e tocaram em muitos programas de televisão, tornaram-se um fenómeno nacional. Entre os seus inúmeros sucessos encontram-se músicas como “Ele é o rei”, “Biquini às bolinhas amarelas” ou “Ela só quer, só pensa em namorar”. Acabaram em 1999 e foram conselheiros emocionais para muitas crianças portuguesas.

https://www.youtube.com/watch?v=Yx9Ttd5Vg0Y

Ministars

Os Ministars são precursores dos Onda Choc, acredite ou não, e o seu primeiro disco faz 30 anos em 2016. Este grupo de mini-estrelas foi formado por crianças do Coro Santo Amaro de Oeiras, pela mão do maestro César Batalha, que também criou “Eu vi um sapo”, de Maria Armanda. Juntamente com José Niza, desenvolveram o primeiro disco, com versões de muitos sucessos como o “Rock Me Amadeus”, de Falco, ou “Wake me up”, dos Wham!. O primeiro disco foi platina, os outros também se tornaram sucessos. Duraram até 1994, mas nunca conseguiram sair da sombra dos Onda Choc.

Arte 9

É a resposta da Polygram ao boom de grupos infanto-juvenis. Faziam covers de músicas da editora, como António Variações, Rui Veloso ou Xutos & Pontapés. Um conceito diferente, pois não alteravam as músicas, levavam o portfólio da editora directamente até às crianças. A verdade é que as músicas que já eram um sucesso, continuaram a ser um sucesso; e as que não eram, não passaram a ser por causa dos Arte 9.

Babyrock

Na capa vemo-los claramente excitados por pertencerem a um grupo, posando para a foto num parque aquático. A banda foi criada em Miratejo, por Ilda Ventura e Margarida Ervedosa. Não foram muito famosos, mas lançaram dois discos neste período mágico, o segundo em 1992 com produção de Emanuel. Em 2001, tentaram o regresso — será que conseguiram? A resposta é a mesma que para a pergunta “Já ouviu falar dos Babyrock?”

Ultimatum

Mais um grupo criado pelo casal Heduíno Gomes e Ana Faria. Eram como uma versão dos Onda Choc com uma formação predominantemente masculina e tocavam versões com uma letra nova de músicas dos Scorpions, Kiss ou Chuck Berry. Apesar da estética “rockeira”, dos coletes e calças de ganga, nunca se conseguiram diferenciar ou afirmar.

Star Kids

Em 1994, um desentendimento com a Edisom fez com que os Ministars mudassem de nome. Foi-se o nome e o resto foi indo atrás. Ainda continuaram o trabalho, fizeram aparições televisivas e músicas novas, mas o filme já ia nos créditos finais.

Popeline

A meio dos anos 90, Heduíno Gomes e Ana Faria voltaram a fazer das suas e criaram os Popeline. Parece que os Onda Choc estavam a ter tanto sucesso no princípio dos anos 90 que resolveram criar este outro grupo. Eram a sua própria concorrência. O que diferencia o outro grupo dos Popeline? Bem, o nome.

Pop Kids

Dois fenómenos explicam a formação deste grupo: o das bandas infanto-juvenis e o dos dinossauros. Dinolândia é um hino ao amor por estes animais. Com tantas séries e filmes com personagens desta espécie extinta, todos os jovens queriam ter um amigo que fosse um dinossauro.

Existiram depois muitas tentativas de replicar o fenómeno das bandas jovens, mas nenhum grupo deste escalão etário voltou a ter um sucesso duradouro. Hoje em dia, são apenas os cantores adultos ou os desenhos animados que lideram a atenção dos mais pequenos. Com o fim dos Onda Choc em 1999, terminou também a era dourada dos grupos infanto-juvenis.