Está a ver uma bola de ténis? É aquela pequena, cor verde alface meia amarelada, que pesa entre 56 ou 59 gramas. Até é um pouco mole, mas dura o quanto baste para ressaltar no chão e ser embalada, às vezes, para lá dos 200 quilómetros por hora. Porque há homens que têm mais o dom da força que outros. E, se tiverem uma raquete na mão, são capazes de lhe bater com tamanha brutalidade que uma pancada bem dada pode ser considerada uma arma branca. Levar com uma bola de ténis batida durante um jogo dói, e não é pouco, sobretudo caso o venha da raquete de Jo-Wilfried Tsonga.
O francês sempre foi um matulão com mais corpo para jogar râguebi do que ténis: mede 1,88m e pesa à volta dos 91 quilos. É um panzer humano, daqueles tenistas de fundo do court, que disparam misseis de direita e gostam de fabricar winners com pancadas cheias de força. Esse estilo já lhe valeu para chegar à final do Open da Austrália, em 2008. Foi no mesmo torneio em que o gaulês, hoje com 31 anos, passou à terceira ronda na madrugada desta quinta-feira. Conseguiu-o graças aos três sets (7-5, 6-1, 6-4) que venceu a Omar Jasika, o menino bonito aussie que, na ronda anterior, ganhara o primeiro encontro que disputou na carreira em torneios do Grand Slam.
Tsonga já caíra no goto do público de Melbourne, cidade onde se realiza a prova, há oito anos — era um miúdo desconhecido quando derrotou quatro cabeças-de-série, incluindo Rafael Nadal, até ser derrotado na final por Novak Djokovic. Mas agora voltou a fazer por isso. No início do terceiro set do encontro frente a Jasika, e durante o seu jogo de serviço, o francês reparou que uma das apanha-bolas do court estava a chorar. Tsonga estranhou, lembrando-se que, pouco antes, se tinha rido por a mesma rapariga atirar uma bola dois metros para longe do sítio onde estava o tenista.
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O gaulês, actual número 10.º do ranking, resolveu aproximar-se. Perguntou-lhe se estava a sentir-se bem e percebeu que a australiana tinha sido atingido por uma bola na face, que a deixara combalida. Tsonga apressou-se a segurar com a raquete a bola que a rapariga tinha na mão, enquanto lhe dava um braço e alertava o juiz de cadeira para a situação. O público, apercebendo-se da situação, construía um coro de aplausos. Jo-Wilfried Tsonga acabou por acompanhar a apanha-bolas até um membro da equipa médica do torneio, para ser examinada.
Só depois de a escoltar até ao túnel de acesso aos balneários é que o encontro foi retomado. “Vi que ela estava com problemas. Foi normal ajudá-la no estádio, espero que já esteja bem. Sinceramente, não fiz nada de especial”, admitiu Tsonga. Talvez não se tenha apercebido, mas a bola que atingiu a rapariga terá até sido batido pelo francês. O Business Insider reviu as imagens do encontro e concluiu que, quatro pontos antes, terá sido uma pancada do francês (que ainda estava do lado contrário do court) a enviar a bola na direção da australiana.
(Foi esta a bola que o Business Insider diz que atingiu a apanha-bolas australiana.)
O momento do auxílio foi bonito, o público gostou, a rapariga agradeceu e Jo-Wilfried Tsonga foi aplaudido mais pelo gesto do que pela vitória que o qualificou para a terceira ronda do Open da Austrália. Bravo, Monsieur Tsonga.