Chegar, ver e vencer. O lema é tão antigo como os 2016 anos que já levamos nesta era, mas aplica-se perfeitamente à estratégia de António Sampaio da Nóvoa para as eleições presidenciais. Ao contrário de candidatos como Marcelo ou Maria de Belém, que fazem bandeira de ter andado por aí nos últimos 40 anos, Nóvoa usa o argumento contrário como vantagem. Chegou agora e quer vencer em nome de um “tempo novo” que diz ter começado no país. Para o candidato, ter chegado agora à política ativa está longe de ser um handicap, é simplesmente um sinal da mudança em Portugal, que ele diz que os outros candidatos se recusam a aceitar. De Marcelo, afirma, não se sabe com o que se pode contar. E Maria de Belém, continua, já deu mostras no passado de que não se pode contar com ela. Este é Sampaio da Nóvoa, o “cidadão presidente”, que chega em nome de “um tempo novo” e sente-se o mais “capaz” para interpretar esse tempo e agir de acordo com ele.

“Novo tempo. Novo Presidente.” O slogan consta nos muitos cartazes que Sampaio da Nóvoa fez espalhar pelo país e foi sempre a principal mensagem que o candidato quis transmitir ao longo desta campanha. Não houve, até agora, praticamente nenhuma intervenção em que o ex-reitor de Lisboa não se tenha referido ao “tempo novo”. Fê-lo em Seia, no início da caminhada eleitoral, quando anunciou que vinha para curar as fraturas de um “país dividido”. “Quero ser o Presidente deste novo tempo, de uma nova cultura de diálogo e compromisso.” Fê-lo em Viseu, ainda no primeiro dia de campanha, explicando em que consistia o “tempo novo”. “Uma democracia em que todos os partidos contam. Quem vem para a política para dizer ‘não se pode’ e ‘não há alternativa’ não tem o direito de estar na política.”

Fê-lo em Espinho, Oliveira de Azeméis e Aveiro, ao explicar que defende “uma Presidência de proximidade”, “visitando as pessoas”, porque quem, como ele, “que se apresenta em nome da cidadania, precisa das pessoas”. Fê-lo igualmente em Coimbra, quando disse que queria “romper bloqueios económicos, sociais e institucionais”, que “são visíveis sinais de cansaço com a política velha”, que nestas eleições “vai entrar uma lufada de ar fresco” na política nacional, que “não vai ficar igual” ao que era. Fê-lo depois em Campo Maior, à saída da Delta, quando comentou que a reposição das 35 horas semanais na Função Pública correspondia a “uma nova fase”, de uma “cultura de negociação e compromisso”, que “é o melhor que nos está a acontecer”. E, na ocasião, aproveitou para deixar um recado: “O pior que nos podia acontecer, obviamente, seriam situações de crise que não permitissem consolidar este novo tempo.”

O novo tempo cabe numa única palavra: dignidade”

A par do “tempo novo”, as outras duas mensagens de Nóvoa têm sido a da autopromoção como “um Presidente capaz” e, mais recentemente, como “um cidadão Presidente”. O candidato quer um país capaz, empresários capazes, agricultores capazes, jovens capazes, idosos capazes. De quê? De lutar “contra o desânimo”, contra “todas as formas de desigualdades”, contra o desemprego (“um dos dramas maiores dos últimos anos”), contra o despovoamento do interior e contra o desperdício. “É da luta contra estes quatro D’s que faz um país mais capaz”, disse em Viseu.

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Um país capaz, no tempo novo, também bate o pé a Bruxelas e a todos quantos lhe queiram cercear a soberania. “Portugal tem falta de debate”, disse Nóvoa no fim de uma visita ao Observatório do Sobreiro e da Cortiça, em Coruche. “Quero trazer como uma marca do Presidente: mais debate, mais diálogo, que envolva mais a sociedade”, afirmou, ainda antes de dizer a frase que ficaria desse dia: “Não aceitarei diminuições significativas da nossa soberania sem que isso seja submetido a um debate alargado na sociedade portuguesa e a um referendo”.

Chegou agora, mas não esteve propriamente ausente. Esta é outra das coisas que Nóvoa se esforça por comunicar, apesar de o seu nome só ter saltado para a ribalta mediática há poucos anos. Porque não ter atividade partidária não significa que não se tenha atividade política, o candidato lá vai puxando dos galões para se legitimar e para criticar os mais diretos adversários. “Se eu sou o candidato da inexperiência, de que nos serviu a tão grande experiência de Marcelo Rebelo de Sousa e de Maria de Belém?”, perguntou logo no primeiro dia de campanha. “Acusam-me de vago. Não há nada mais concreto do que denunciar um país onde as pessoas têm de decidir se almoçam ou se compram medicamentos”, disse também.

Em Abrantes, demarcou-se daqueles “que se acham donos disto tudo”, daqueles para quem “uma candidatura que não quer deixar tudo na mesma é uma ameaça”. Em Viana do Castelo seria mais contundente. “Curiosamente, estranhamente, um dos temas desta campanha é a minha suposta virgindade política. É verdade que a minha vida não se fez nos partidos”, disse, para longo contra-atacar com a fusão das duas maiores universidades de Lisboa. “Não sei, mas não sei mesmo, em que mundo é que uma medida como essas, era eu reitor, não é um ato político”, atirou. “Levar a cabo esse projeto não é política? Não prova que, na minha vida profissional, me esforço por estabelecer diálogos?”, questionou. “Se julgam que é difícil colocar dois políticos de acordo, garanto-vos que só pensa isso quem não conhece muitos professores universitários”, gracejou Nóvoa.

Sampaio da Nóvoa pode ter tido atividade política, mas chega virgem aos olhos da opinião pública. E só se é virgem uma vez. A encruzilhada dele é essa, estar entre um passado sem partidos e um futuro em que precisará de muita cintura para os aturar. “A minha candidatura é uma opção inadiável”, disse em Coimbra. Resta saber se os portugueses pensam o mesmo.