Estas imagens pertencem a Bill Podlich, um professor catedrático norte-americano que em 1967 viajou para o Afeganistão a serviço da UNESCO durante dois anos. Foi na qualidade de Conselheiro de Princípios de Educação em Cabul que Poldich tirou estas fotografias, que mostram um estilo de vida completamente diferente daquele que se instalou depois da invasão russa e da posterior chegada dos talibã.

A história do Afeganistão (até pela sua localização geográfica) conta-se em sucessivas invasões, reconquistas, revoluções e contra-revoluções, conflitos étnicos e políticos. Até hoje. Mas concentremo-nos na história do século XX – ou nas décadas de viragem para esse século. E em como o rosto do Afeganistão, político e social, se alterou, tornando-o numa sociedade mais ocidentalizada. Contudo, à força de sucessivas guerras, o rosto descaracterizou-se: a modernidade deu lugar a um narco-estado, pobre, politicamente instável e sempre com a ameaça terrorista ao virar da esquina – ou de uma cordilheira.

Em 1838 teve início a Primeira Guerra Afegã, que perduraria até meados de 1942. Nesse ano, o exército anglo-indiano invadiu o Afeganistão, tomando-lhe as principais cidades. Mas após uma rebelião, em dezembro de 1842, os britânicos viram-se forçados a abandonar o país e Dost Muhammad recuperou o trono. Pouco depois, em 1878, as forças anglo-indianas invadiram de novo o Afeganistão. Após ter perdido a Segunda Guerra Afegã, que durou menos de um ano, Dost Muhammad foi deposto. Ao lugar ascendeu o neto, Abd-ar-Rahman, que se viu obrigado a ceder o importante (no sentido geo-estratégico do termo) Passo de Khyber e outros territórios afegãos aos britânicos.

Abd-ar-Rahman acabou por ser assassinado. E seu sucessor, Amanullah Khan, declarou guerra à Grã-Bretanha — que reconheceria, em 1919, o Afeganistão como Estado independente e  Amanullah como rei. Durante a década de 1920, com Amanullah, o país presenciou uma série de reformas políticas e medidas de modernização, entre as quais a educação para as mulheres. Uma deposição que acabaria por provocar revoltas internas de poder.

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Apesar da forte oposição de grupos tradicionais durante o reinado de Zahir Shah (na década de 1940), o programa de modernização foi intensificado e, em 1946, o Afeganistão passou mesmo a integrar a Organização das Nações Unidas. Em 1973, Zahir foi derrubado e proclamou-se a República do Afeganistão. Em seguinda, em 1978, e após um violento golpe de Estado, um Conselho Revolucionário tomou o poder e deu início a um programa socialista que provocou a ira de parte dos muçulmanos, tanta ou tão pouca, que os levou à resistência armada.

Como o governo não conseguia conter a rebelião, as tropas soviéticas entraram no Afeganistão em 1979  para apoiar  o regime pró-comunista e afastar a ameaça de que o país caísse nas mãos do fundamentalismo islâmico. O seu exército foi, contudo, derrotado por grupos guerrilheiros afegãos, que contavam com o apoio financeiro e militar norte-americano. Durante os nove anos de guerra no Afeganistão, a União Soviética perdeu quinze mil soldados. O fracasso foi mesmo apelidado de “Vietname Soviético”.

Em maio de 1988 a União Soviética começou a retirada das suas tropas do território afegão, uma retirada que só completou em fevereiro de 1989. Porém, mesmo após a retirada,   a guerra civil continuou no país e, em abril de 1992, o presidente Mohamed Najibula, apoiado pelos soviéticos, deixa o poder  e os rebeldes tomam Kabul. O país torna-se numa república islâmica e, no ano seguinte, uma assembleia nacional, composta por varias fações rivais, líderes tribais e religiosos, aprova a criação de um novo parlamento.

Mas a união entre as varias fações  dura pouco. E o país acaba, mais uma vez, por se tornar no palco de  violentas disputas internas. O que veio a permitir,  a partir  de 1994,  o crescimento e ascensão de uma força política nova: os talibã, um grupo fundamentalista islâmico financiado pelo Paquistão. Nessa altura, já a face do Afeganistão não é a que se vê nestas fotografias Bill Podlich , sendo mais próxima da que hoje existe: um país de privações, alimentares e democráticas, com regras rígidas para as mulheres e destruído por sucessivas guerras.