Na madrugada desta quinta-feira realizou-se o derradeiro debate entre os candidatos para a nomeação republicana com vista às eleições presidenciais americanas. Mas não estiveram todos os aspirantes a ocupar a Casa Branca: faltou o protagonista principal, Donald Trump.

Mas se não esteve presente fisicamente, o candidato que lidera as sondagens para a primeira votação primária a decorrer na próxima segunda-feira no Iowa foi o centro da habitual polémica e da discussão entre os seus adversários eleitorais. As próprias transmissões televisivas dividiram-se entre o último e decisivo debate e o encontro organizado pelo empresário com ex-combatentes – a moderadora da Fox, Megyn Kelly, falou da ausência como “um elefante que não está na sala”.

A discussão sem o empresário, que a própria imprensa americana descreve como tendo sido “bastante inofensivo”, teve como destaque o confronto entre os maiores rivais do magnata nas sondagens, Ted Cruz e Marco Rubio. Esses, ambos filhos de imigrantes, esforçaram-se por demonstrar o quão rígidos vão ser em relação aos imigrantes ilegais que entram no país e em desmentir alegadas alterações de posição – especialmente Rubio que tentou desviar-se dos ataques em relação a uma reforma que promoveu com o Partido Democrata em 2013. “Eu não apoio amnistias encobertas”, referiu. E ambos tentaram provar que cada um era mais conservador que o outro.

Rand Paul decidiu pegar na deixa e entrou em cena considerando as declarações de Cruz sobre a imigração “insultuosas”, garantindo que o senador do Texas não tem legitimidade de acusar os rivais pela amnistia.

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Chris Christie, governador de New Jersey, atacou por sua vez tanto Cruz como Rubio ao designá-los como “produtos de Washington” especializados em criar argumentos processuais inconsequentes para os eleitores, aproveitando para se declarar como alguém vindo de fora de Washington e dos seus jogos de bastidores.

Outro dos temas em foco no debate, e em toda a campanha, foi a segurança nacional. E aqui Christie decidiu atacar Cruz pelo seu voto contra o programa de recolha de dados da NSA (Agência de Segurança Nacional), considerando que essa decisão “tornou o país menos seguro”. Paul entrou no confronto acusando Cruz de troca de posições: “Ted afirmou que era favorável à reforma da NSA, mas depois disse a Marco Rubio, não, não, não, eu votei a lei porque eu sou 100% a favor da recolha do Governo dos seus registos telefónicos. Acho que Ted não pode ter ambos os caminhos”.

Depois disto, cada um tentou demonstrar que vai ser o mais duro a liderar com o Estado Islâmico. Mas, no final de contas, todos tinham opiniões e objetivos semelhantes: “destruir completa e definitivamente o ISIS (outro nome para Estado Islâmico)”, como afirmou Cruz.

Porém, no fundo, quem não esteve presente foi quem marcou o andamento. Jeb Bush ironizou: “Eu até sinto falta de Donald Trump. Ele era um pequeno urso de peluche (teddy bear) para mim. Nós sempre tivemos uma relação tão amorosa… durante estes debates e fora deles”.

Também Ted Cruz falou sobre o assunto: “Eu sou maníaco, e toda a gente neste palco é estúpida, gorda e feia… agora que conseguimos colocar a parte Donald Trump fora do caminho”.

Boicote de Donald Trump

Durante o dia que antecedeu o derradeiro debate republicano, Trump esteve em negociações com o presidente da Fox News, Roger Ailes. Segundo fontes do canal, citadas pela Agência Reuters, Trump prometeu marcar presença no debate se a Fox doasse 5 milhões de dólares às causas apoiadas pelo multimilionário. O canal, que é propriedade de Rupert Murdoch, rejeitou a proposta.

Tudo isto porque o candidato republicano decidiu boicotar a discussão e marcar um evento onde se iria encontrar com antigos combatentes à mesma hora e a poucos quilómetros do local da transmissão televisiva. A razão era a presença da moderadora Megyn Kelly, que irritou o magnata com uma pergunta sobre as suas declarações sobre várias mulheres logo no primeiro debate em agosto.

Dias antes do encontro com os adversários, Trump já fazia a pergunta: “Devo ir ao debate”?

A pergunta que despoletou toda a polémica foi feita da seguinte forma: “Sr. Trump, uma das coisas que as pessoas gostam em si é que diz sempre o que pensa, sem filtro político. No entanto isso tem as suas desvantagens, em particular no que respeita às mulheres. O senhor já se referiu a mulheres de que não gosta como ‘porcas, gordas, cadelas, vulgares e animais nojentos’. Acha que esse é o temperamento de um homem que devemos eleger como Presidente, e como irá responder à acusação de Hillary Clinton, que deverá ser nomeada pelo Partido Democrata, de que participa na guerra contra as mulheres?”

A partir daqui o caldo entornou-se entre o magnata do imobiliário e a jornalista. Esta semana foi a vez de se entornar entre o candidato e a própria Fox News: “Ceder aos ultimatos dos políticos em relação a uma moderadora de um debate viola todos os princípios jornalísticos.”, afirmaram os diretores da estação em comunicado esta quarta-feira.