O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, advertiu na terça-feira para a possibilidade de um “fracasso” das negociações de paz que decorrem em Genebra, cujo início ficou marcado pela dificuldade de reunir os beligerantes.

Apesar de o emissário das Nações Unidas ter declarado oficialmente lançadas as negociações, o dia de terça-feira deu uma imagem de confusão, ilustrando o fosso entre a diplomacia e a realidade no terreno.

Por um lado, o regime sírio afirmou não dispor de qualquer parceiro para negociar, enquanto, por outro, a oposição exigiu medidas imediatas em prol dos civis e também acusou a comunidade internacional de ser “cega” relativamente à tragédia.

Staffan de Mistura alertou, por isso, para um eventual malogro em Genebra, após cinco anos de conflito. “Se houver um fracasso desta vez (…) não haverá mais esperança”, declarou à rádio e televisão suíças.

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A delegação do regime de Damasco reuniu-se, ao longo de mais de duas horas, com o emissário das Nações Unidas, que, na segunda-feira, se encontrou com a oposição.

No entanto, à saída da reunião, o embaixador sírio junto das Nações Unidas, Bashar al-Jaafari, chefe da delegação, travou as esperanças relativamente a um rápido arranque nas negociações.

“Estamos ainda na fase preparatória (…). Estamos à espera de saber com quem vamos negociar e qual a ordem do dia”, declarou, repetindo que a outra parte “não é séria”, pois “não trata as questões como políticos profissionais”.

A delegação do Alto Comité de Negociações (HCN), uma coligação de opositores do regime do Presidente sírio, Bashar Al-Assad, teceu, por seu turno, fortes críticas a Damasco e aos seus aliados, que consideram como “terroristas” alguns dos seus membros.

A oposição síria decidiu na terça-feira não participar numa reunião agendada para Genebra com o enviado especial da ONU, em jeito de protesto contra o agravamento da situação no país.

O conflito na Síria, que começou com protestos pacíficos em março de 2011 que resvalaram para uma guerra civil, já provocou mais de 260 mil mortos, o desenraizamento de mais de metade da população e arruinou o país.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que assenta numa larga rede de fontes no país, assegurou que 260.758 pessoas foram mortas entre março de 2011 e 31 de dezembro de 2015, na sua maioria combatentes, com as baixas civis a excederem a 76 mil.

Estes totais excluem os milhares que desapareceram, designadamente nas infames prisões sírias, e as centenas de lealistas que desapareceram às mãos dos grupos rebeldes radicais, incluindo o autoproclamado Estado Islâmico.