Quem já fez uma perseguição virtual a uma ex-namorada que levante o braço. (Pronto, pode baixá-lo.) Brincadeiras à parte, este é um facto da vida: a partir dos 20 anos, é praticamente impossível que qualquer relacionamento não envolva relações passadas. Porque o homem da nossa vida terá tido outras mulheres. E é inocente e natural que tenhamos curiosidade em saber como a outra pessoa é: loira, morena, alta, baixa, o que veste, onde se conheceram e — aquele bichinho que fica a remoer na cabeça — o que é que ela tem que o fez gostar dela.

Porque somos humanos, as comparações fazem parte da vida. O problema coloca-se quando a curiosidade passa a obsessão — e é aqui que a sirene de alerta começa a apitar. Vários estudos indicam que um terço das pessoas volta a ter sexo com ex-parceiros e 20 por cento fá-lo múltiplas vezes. Logo, a pergunta é plausível: Estarão as mulheres obcecadas com as ex-namoradas com medo que o seu parceiro faça parte desse terço que volta a petiscar do prato que já colocou para lavar?

Helen Fisher, famosa antropóloga que estuda as relações humanas, diz que se não conseguimos parar de espiar e de pensar obsessivamente numa pessoa do passado, é altura de consultar um profissional em saúde mental. Mas serão precisas medidas tão drásticas quando apenas temos curiosidade em saber como a outra pessoa é?

Mariana (nome fictício) tem 32 anos e contou ao Observador que a obsessão pela ex-namorada do parceiro e levou inclusivamente a criar uma amizade com ela.

Sou a única que admito que examinava cada fotografia, cada publicação no Facebook, cada comentário, cada like? Queria saber como é que ela era — porque estiveram juntos seis anos — e perceber as coisas que tínhamos em comum. Acabei por a conhecer e, sem ele saber, ficámos amigas, já fomos jantar algumas vezes e, volta e meia, falamos. Tive sorte, porque a relação deles terminou bem e ela, que já está com outra pessoa, achou piada ao facto de sermos amigas. Mas podia ter corrido mal, eu sei.”

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Tea anyone?

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Kim Kardashian tirou uma selfie com a ex-namorada de Kanye West, Amber Rose.

Num artigo do site Jezebel, a jornalista americana Katie J.M. Baker confessou ter abusado das suas capacidades jornalísticas para pesquisar sobre a famosa atriz com quem o seu ex-namorado estava (depois da relação deles terminar). Na reportagem, Baker escreve que, mais tarde, quando as duas se conheceram e acabaram por ficar amigas, perceberam que as suas fixações virtuais eram mútuas — a atriz também perseguia virtualmente Baker, a ex-namorada.

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Ciúmes e inseguranças na base das obsessões

Patrick Wanis, life coacher e especialista em comportamento humano, compara as mulheres ao comportamento territorial dos gatos e diz que “estão sempre a competir com o seu próprio sexo. Podem fazer comentários maldosos até conhecerem a outra e, quando isso acontece, acabam por já não dizer mais nada. Começarem por fazer observações maldosas prende-se com o facto de serem ciumentas — todas as inseguranças vêm do ciúme. As mulheres estão constantemente a verificar as outras mulheres, muito mais do que os próprios homens.”

Isto significa que observar meticulosamente cada foto da ex-namorada para descobrir imperfeições, criticar as roupas que ela usa ou ler tudo o que ela escreve, desesperada por encontrar algum erro ortográfico que prove que não passa de uma estúpida é, em última análise, apenas ciúme. E ter ciúmes de uma pessoa do passado não faz sentido. O mais provável é que o seu parceiro não pense assim tanto no antigamente e esteja muito mais focado no que tem — ou pode ter — consigo no presente.

O que os especialistas dizem

  • A nossa imaginação é o nosso pior inimigo e as inseguranças são cultivadas por ilusões que nunca vão ser provadas ou refutadas porque não conhecemos a outra pessoa. Por isso, tudo o que imaginamos acaba por ser verdade. Se metermos na cabeça que a ex-namorada é uma supermodelo, ela torna-se, aos nossos olhos, uma supermodelo, explica Jen Kim, psicóloga, no Psychology Today.
  • Quando nos apaixonamos, arriscamo-nos a sofrer, e um possível mecanismo de defesa passa por investigar o que deu errado no passado do nosso parceiro para não repetir esses erros. Mas quando ficamos obcecadas, acabamos por fazer julgamentos errados e focamo-nos em tudo o que pode correr mal no presente e não no que pode correr bem. O mais fácil será questionar o seu companheiro sobre o que falhou nas suas relações passadas e como podem apoiar-se mutuamente no futuro, ao invés de investigar as suas ex-namoradas, diz Debra Smouse, life coacher, na Fox News Magazine.
  • Tal como nós temos a nossa história, as nossas relações e experiências passadas, o seu companheiro também tem o direito a ter tudo isso até ao momento em que a conheceu. E todas as relações passadas fizeram dele aquilo que é hoje na relação que tem consigo. Se dá por si a reagir negativamente a isso, foque-se nas razões porque se sente insegura e aborde esse tema com ele, aconselha Petra Boynton, especialista em sexo e relações do jornal The Telegraph.