O difícil era encontrar quem não tivesse uma daquelas “caixinhas” que filma. Mesmo que só a utilizasse quando o rei faz anos. E às vezes nem aí. As câmaras GoPro, quando surgiram no mercado, em meados de 2004, revolucionaram-no. Aliás, criaram o seu próprio mercado e a concorrência (não logo, mas só nos últimos anos) seguiu-lhes a tendência: eram câmaras mais leves que as demais, mais compactas e com melhor definição. O preço nunca foi propriamente o mais convidativo, mas, não sendo proibitivo e como a moda ainda é o que era, a GoPro vendeu câmaras compactas como pãezinhos quentes.

Tanto vendeu, que em 2014 a GoPro Inc. passou a ser cotada na bolsa de Nova Iorque. Mas isso foi em 2014. Se se contabilizar o último ano, a empresa viu não só as ações cair a pique, como as vendas (pelo mundo) também. A GoPro Inc. anunciou esta semana perdas de 34,5 milhões de dólares no últimos trimestre — no mesmo período de 2014 a empresa havia registado ganhos de 122,3 milhões.

No índice nova-iorquino Nasdaq, e só esta semana, a empresa desvalorizou 19%. A queda é substancialmente maior quando fazemos contas às poucas semanas que 2016 já leva: 40,5 de desvalorização em bolsa. Pior: de 2014 (altura em que passou a ser cotada em bolsa) até hoje, as ações da GoPro Inc. já desvalorizaram 89% e valem hoje uma bagatela. Mas o que se passa afinal com a empresa?

O CEO Nicholas Woodman, em entrevista à AFP, crê que o problema não está na GoPro em si, mas na ausência de software com que editar o que com ela se filma. “Nós reconhecemos a necessidade de encontrar soluções de software que tornem mais fácil a descarga, o acesso e a edição do conteúdo”, afirmou Woodman.

Mas há dois problemas mais que o CEO não referiu. O primeiro diz naturalmente respeito à concorrência. Marcas como a Sony ou a Nikon (outras há) criaram as suas próprias câmaras compactas de ação, chamemos-lhe assim, e roubaram parte do bolo que era GoPro por inteiro. O outro problema é o preço. Mas esse já foi em parte corrigido em parte pela GoPro. É que o mais recente modelo da marca, a HERO4, chegou ao mercado a 399 dólares, tendo a marca reduzido o preço para 199 dólares, poucos meses depois, em dezembro. E não só a GoPro reviu os preços em baixa, como vai retirar do seu catálogo as Hero, Hero+ y Hero+ LCD, ficando somente com a HERO4 e respetivas variantes: Hero4 Black, Hero4 Silver e Hero4 Session.

Mas chegará para a GoPro voltar a ser o que era? Contactado pela BBC, o especialista em tecnologia Bob O’Donnell duvidou: “A GoPro criou uma nova categoria de câmaras de ação, mas quem compra esses produtos pertence a um setor muito pequeno da sociedade, um nicho de mercado”. Mas, então, como se poderá a GoPro reinventar? “É muito difícil que a empresa se reinvente. Para consegui-lo, teria de investir nas câmaras de 360º e na venda de drones de baixo custo. É difícil”, sugeriu O’Donnell.

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