Artigo originalmente publicado a 5 de fevereiro de 2016
Já o nosso Álvaro de Campos dizia:
Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. /Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.”
Pois hoje é dia de celebrar essa boa verdade da vida que é a existência da Nutella. Uma blogger italiana propôs que a famosa pasta de chocolate e avelã tivesse um dia próprio, a Ferrero — empresa detentora da marca — aceitou o desafio e instituiu o 5 de fevereiro como o Dia Mundial da Nutella. Estratégias de marketing à parte, nós, gulosos deste mundo, aproveitamos também para celebrar esta invenção e, eventualmente, comer uma boa colherada da pasta de cacau e avelã.
Quem também se junta à festa é a editorial Presença que lança hoje um apetitoso livro só com receitas à base de Nutella. Muffins, tartes, pudins, gelados, bebidas, é todo um universo de gulodices que convidam a esquecer as dietas, os avisos da Organização Mundial de Saúde, o ginásio. Até porque o deus que inventou a culpa nunca comeu Nutella.
Mas antes de abrir o frasco, eis algumas coisas que precisa de conhecer sobre a história deste produto que é um pequeno grande luxo (ainda) acessível a todos.
- No final dos anos 40, numa Europa arrasada pela Segunda Guerra Mundial, o pasteleiro Pietro Ferrero teve a ideia de juntar avelãs e açúcar ao caríssimo e escasso cacau para o fazer render e o poder vender mais barato. Criou uma pasta dura a que chamou Gianduja.
- Já nos anos 50 lembrou-se de juntar à receita óleo de palma e leite, transformando a pasta dura num creme, e mudou-lhe o nome para Supercrema.
- Só em 1964 é que nasce oficialmente a Nutella. O nome foi dado pelo filho de Pietro e junta a palavra nuts — que brinca com o duplo sentido do inglês hazelnuts (avelã) e nuts (maluco) — à partícula ella (que os italianos usam para fazer os diminutivos). Traduzido à letra, o nome Nutella tanto significa “avelãzinha” como “maluquinha”.
- Nesse mesmo ano a marca começa a exportar para o estrangeiro e hoje está presente em 162 países.
- A família Ferrero tornou-se o quarto negociante mundial de chocolate (são deles também os famosos ovos Kinder, os bombons Ferrero Rocher e os Mon Cherry).
- O fabrico de Nutella consome anualmente 25 por cento da produção mundial de avelãs.
- Cada frasco contém aproximadamente 52 avelãs.
- A França é o maior consumidor mundial de Nutella, devorando por ano 26 por cento da produção.
- Em 2013 venderam-se 365 milhões de quilos, o equivalente ao peso do Empire State Building.
- Estima-se que a cada 2,5 segundos seja vendido um frasco de Nutella no mundo.
- O facto de a pasta ser comercializada num frasco de vidro e não de plástico visa acentuar a ideia de produto de luxo e vintage.
- A Nutella não deve ser colocada no frigorífico mas sim à temperatura ambiente, pois a ideia é que esteja cremosa como chocolate derretido.
- Em 2015, o alemão Daniel Schobloch inventou um cadeado para proteger os frascos de Nutella. A peça em acrílico é vendida no e-Bay por cerca de 10 euros. Uma compra a considerar caso divida a casa com outros “nutellódependentes”.
A Nutella só chegou a Portugal nos anos 90. E quem cresceu nos anos 70 e 80 sabe que a “nossa nutella” se chamava Tulicreme e é igualmente uma lenda da nossa infância. Dos anos 90 para cá o creme italiano foi um tal sucesso que em 2014 surgiram as Nutelarias. Um conceito criado em Leiria cuja ideia base é servir produtos confecionados com a pasta italiana de cacau e avelãs. Neste momento já existem vários franchisings em cidades como Coimbra, Lisboa e Porto.
Caso não tenha ficado enjoado com tanto chocolate, aproveite este dia mundial para transgredir. Não esquecer que estamos perto dos Dia dos Namorados e que nem todas as formas de comer Nutella passam por comê-la com pão.