Artigo originalmente publicado a 5 de fevereiro de 2016

Já o nosso Álvaro de Campos dizia:

Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. /Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.”

Pois hoje é dia de celebrar essa boa verdade da vida que é a existência da Nutella. Uma blogger italiana propôs que a famosa pasta de chocolate e avelã tivesse um dia próprio, a Ferrero — empresa detentora da marca — aceitou o desafio e instituiu o 5 de fevereiro como o Dia Mundial da Nutella. Estratégias de marketing à parte, nós, gulosos deste mundo, aproveitamos também para celebrar esta invenção e, eventualmente, comer uma boa colherada da pasta de cacau e avelã.

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Confeitaria em Alba, Itália, onde, nos anos 40, Pietro Ferrero inventou a Nutella.

Quem também se junta à festa é a editorial Presença que lança hoje um apetitoso livro só com receitas à base de Nutella. Muffins, tartes, pudins, gelados, bebidas, é todo um universo de gulodices que convidam a esquecer as dietas, os avisos da Organização Mundial de Saúde, o ginásio. Até porque o deus que inventou a culpa nunca comeu Nutella.

Autora: Véronique Cauvin Editora. Presença Preço:9,90

Livro de receitas à base de Nutella de Véronique Cauvin. Editora: Presença. Preço: 9,90€

Mas antes de abrir o frasco, eis algumas coisas que precisa de conhecer sobre a história deste produto que é um pequeno grande luxo (ainda) acessível a todos.

  • No final dos anos 40, numa Europa arrasada pela Segunda Guerra Mundial, o pasteleiro Pietro Ferrero teve a ideia de juntar avelãs e açúcar ao caríssimo e escasso cacau para o fazer render e o poder vender mais barato. Criou uma pasta dura a que chamou Gianduja.
  • Já nos anos 50 lembrou-se de juntar à receita óleo de palma e leite, transformando a pasta dura num creme, e mudou-lhe o nome para Supercrema.
Em 1951 passou a chamar-se Supercrema em www.nutella.com

Em 1951 passou a chamar-se Supercrema (Foto retirada do site da Nutella)

  • Só em 1964 é que nasce oficialmente a Nutella. O nome foi dado pelo filho de Pietro e junta a palavra nuts — que brinca com o duplo sentido do inglês hazelnuts (avelã) e nuts (maluco) — à partícula ella (que os italianos usam para fazer os diminutivos). Traduzido à letra, o nome Nutella tanto significa “avelãzinha” como “maluquinha”.
  • Nesse mesmo ano a marca começa a exportar para o estrangeiro e hoje está presente em 162 países.
  • A família Ferrero tornou-se o quarto negociante mundial de chocolate (são deles também os famosos ovos Kinder, os bombons Ferrero Rocher e os Mon Cherry).
  • O fabrico de Nutella consome anualmente 25 por cento da produção mundial de avelãs.
SAN FRANCISCO, CA - AUGUST 18: Jars of Nutella are displayed on a shelf at a market on August 18, 2014 in San Francisco, California. The threat of a Nutella shortage is looming after a March frost in Turkey destroyed nearly 70 percent of the hazelnut crops, the main ingredient in the popular chocolate spread. Turkey is the largest producer of hazelnuts in the world. (Photo by Justin Sullivan/Getty Images)

Os famosos “potes do tesouro”. Foto: Getty Images

  • Cada frasco contém aproximadamente 52 avelãs.
  • A França é o maior consumidor mundial de Nutella, devorando por ano 26 por cento da produção.
  • Em 2013 venderam-se 365 milhões de quilos, o equivalente ao peso do Empire State Building.
  • Estima-se que a cada 2,5 segundos seja vendido um frasco de Nutella no mundo.
  • O facto de a pasta ser comercializada num frasco de vidro e não de plástico visa acentuar a ideia de produto de luxo e vintage.
  • A Nutella não deve ser colocada no frigorífico mas sim à temperatura ambiente, pois a ideia é que esteja cremosa como chocolate derretido.
  • Em 2015, o alemão Daniel Schobloch inventou um cadeado para proteger os frascos de Nutella. A peça em acrílico é vendida no e-Bay por cerca de 10 euros. Uma compra a considerar caso divida a casa com outros “nutellódependentes”.
Cadeado para proteger os frascos dos mais compulsivos consumidores. Custa 10 euros. Em: www.e-bay.com.uk

Cadeado para proteger os frascos dos consumidores mais compulsivos. Custa 10 euros no Ebay.

A Nutella só chegou a Portugal nos anos 90. E quem cresceu nos anos 70 e 80 sabe que a “nossa nutella” se chamava Tulicreme e é igualmente uma lenda da nossa infância. Dos anos 90 para cá o creme italiano foi um tal sucesso que em 2014 surgiram as Nutelarias. Um conceito criado em Leiria cuja ideia base é servir produtos confecionados com a pasta italiana de cacau e avelãs. Neste momento já existem vários franchisings em cidades como Coimbra, Lisboa e Porto.

Caso não tenha ficado enjoado com tanto chocolate, aproveite este dia mundial para transgredir. Não esquecer que estamos perto dos Dia dos Namorados e que nem todas as formas de comer Nutella passam por comê-la com pão.

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