Pedro Sánchez, líder do PSOE e encarregue pelo Rei Felipe VI de tentar formar governo, vai reunir-se esta quarta-feira com o ainda presidente do Governo e líder do Partido Popular, Mariano Rajoy, noticia o El Español. Porém, o ainda ministro da Saúde do executivo de Rajoy, Alfonso Alonso, manifestou pouco otimismo quanto ao resultado da reunião: segundo Alonso, os dois deverão opor-se, “a não ser que Sánchez se arrependa” e viabilize um governo encabeçado por Mariano Rajoy. No dia seguinte (quinta-feira), será a vez de Albert Rivera, líder do Ciudadanos, reunir-se com Mariano Rajoy, noticia o El Español. Esta segunda-feira, a equipa negocial do seu partido reuniu-se com a do PSOE.

Sánchez envia programa de Governo… mas exclui PP e independentistas

Ainda esta segunda-feira, o líder do PSOE enviou um programa de Governo às forças políticas com que pretende negociar um acordo de governação. Ou seja, o PP e os partidos independentistas catalães (Esquerda Republicana da Catalunha e Democracia e Liberdade) ficaram de fora, como Pedro Sánchez já havia prometido em conferência de imprensa, após ter sido convidado pelo Rei a tentar formar governo.

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Recorde-se que a coligação Juntos Podemos (que inclui o Podemos catalão) tentou, nas últimas semanas, convencer estes dois partidos a viabilizar um governo de coligação entre PSOE, Esquerda Unida e Podemos, de que os três partidos necessitariam para contornar o “não” dos partidos de centro-direita (Ciudadanos e PP). A tentativa, contudo, não se revelou bem sucedida: a Esquerda Republicana da Catalunha afirmou que votaria não a um governo que não reconheça a autonomia da Catalunha (uma proposta que vai além do referendo independentista, que o Podemos propôs em campanha eleitoral), ao passo que a Democracia e Liberdade recusou mesmo reunir-se com a coligação Juntos Podemos.

Ciudadanos aproxima-se dos socialistas…

O programa de Governo enviado pelo PSOE às forças políticas com quem negoceia está bastante próximo daquele que foi o programa com que os socialistas se apresentaram a eleições. Mas estão incluídas cedências aos partidos à sua esquerda e à sua direita (Ciudadanos), relata o El País.

Um dos novos dados do programa é o anúncio de que os socialistas não se comprometem a descer o défice a menos de 3% do PIB, até ao final de 2016. O PSOE defende que “é preciso renegociar o rumo do défice público” porque “os cortes de 9 mil milhões [de euros] a que estamos obrigados [pela Comissão Europeia] não os podemos fazer”. O objetivo é, assim, “chegar a um acordo razoável com as instituições comunitárias” quanto à meta do défice: o PSOE propõe que este fique abaixo dos 3% apenas em 2017, e que desça até 1% do PIB em 2019, em contrapartida do não cumprimento em 2016. A própria Comissão Europeia já havia sugerido que dificilmente esse objetivo seria cumprido este ano.

Entre outros objetivos anunciados estão, por exemplo, uma reforma constitucional (que, segundo o El País, “coincide em muitos aspetos com as propostas do Podemos e do Ciudadanos”), a luta contra a fraude fiscal, a eliminação dos “gastos supérfluos” da administração pública, a introdução de mais uma pensão não contributiva (o rendimento básico vital, destinado aos mais necessitados), medidas de promoção da igualdade de género e medidas na área do ambiente e cultura, apoiadas por Iglesias e Rivera.

O Ciudadanos já reagiu ao programa de Governo apresentado pelo PSOE: e não o fez de forma crítica. Embora salientando que existem áreas onde os dois partidos registam “diferenças”, Albert Rivera afirmou que “há pontos de acordo em algumas coisas” e concordou com Sánchez ao defender que “Espanha não pode fazer mais cortes e não pode deixar determinadas políticas sociais“. O partido de Rivera, que defendeu ainda a posição de Sánchez quanto à flexibilização das metas do défice (“A melhor maneira é apresentar ao Eurogrupo um plano sério a dois anos”, defendeu), pressionou ainda o PP: os populares devem decidir “se negoceiam (…) ou se pretendem ficar presos na posição de ou Rajoy ou ninguém“.

… Já o Podemos mantém-se inflexível

Se o Ciudadanos se aproximou do PSOE nos comentários ao programa de Governo apresentado, o Podemos não se desviou um milímetro. Pablo Iglesias até elogiou o documento, afirmando que “se parece muito ao programa do Podemos”. Mas o partido de Iglesias insiste que os socialistas não podem “olhar para a [sua] direita”, isto é, para o Ciudadanos.

Só que Pedro Sánchez, líder do PSOE, tem reiterado que quer “estender a mão” (também) ao partido de Albert Rivera e vai criticando a posição do Podemos, ao dizer que é Pablo Iglesias quem tem de decidir se “o acompanha ou não na mudança” de governo. O secretário do partido, César Luena, corrobora: se o Podemos continuar a vetar negociações do PSOE com o Ciudadanos é responsável para que “Rajoy continue a governar”, defende.

Texto editado por João Cândido da Silva