“O jogo é de quatro para quatro. Mas tragam reforços.” O primeiro recado dado pela equipa da Bubble Futebol deixa algumas perguntas no ar: reforços? Mas porquê? O jogo é muito cansativo? Ou será perigoso?

Para a partida-teste que daria origem a esta reportagem juntaram-se não oito amigos mas 11, homens e mulheres, todos dispostos a experimentar a modalidade que, traduzida à letra, explica o conceito: jogar futebol, só que dentro de bolhas insufláveis.

O campo é pequeno, podem-se fazer faltas sem lesões e não há guarda-redes. Aparentemente, tudo controlado. Ou pelo menos até estarem todos equipados.

“Como é que se veste isto?”. “Mas têm a certeza que cabemos ali? Só para evitar embaraços…”. “Conseguimos ver o campo e os jogadores?”, ouve-se no campo de futebol Air Fut, próximo do Aeroporto de Lisboa (um dos espaços onde se realizam os jogos).

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Vestir, veste-se entrando literalmente na bolha, esticando os braços e usando-a como se fosse uma mochila, com as tiras ajustadas aos ombros. Quanto a tamanhos, sim, todos cabem: há medidas S, M, XL. Até os mais pequenos podem experimentar, a partir dos oito anos. E no que respeita à visão, é preciso “saber espreitar”.

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Ainda que os encontrões sejam permitidos, há regras a cumprir no Bubble Football. Nunca deixar de agarrar as tiras que seguram a bolha é a principal. (Foto: Bernardo Reis)

Antes de soarem os apitos do início da partida, convém saber as regras:

“Não é permitida a entrada no terreno de jogo sem a bubble ball, ou que a tirem durante o jogo. Não é permitido o uso de fios, brincos, anéis, relógios ou qualquer objeto cortante. Não retirem as mãos das pegas e mantenham os cintos apertados. Impactos por trás não valem. Dentro da bolha podem chocar, saltar e até dar cambalhotas totalmente em segurança. A bolha está preparada para amortecer todos os impactos. Como nós costumamos dizer, é mais perigoso para a bolha do que para nós”, explicam Inês Pereira e Ana Cabral, responsáveis pela Bubble Futebol Lisboa, uma das empresas dinamizadoras da modalidade.

Tudo a postos? Que comece o jogo.

Três equipas formadas. O tempo médio para trocar é de dez minutos, cinco minutos cada parte.

A primeira sensação é a de que não se conseguem ver os pés — como se eles tivessem ganho uns bons quilos extra — e, ao mesmo tempo, a de que está tudo está muito próximo, ainda assim sabendo que não se consegue chegar onde quer que seja. Alcançar a bola é um dos grandes desafios, logo a seguir a conseguir ficar de pé mais do que alguns segundos.

Aos cinco minutos (ou menos), é possível que já haja quem peça auxílio. Não porque não se sinta seguro, muito pelo contrário, mas sim pelo esforço que é exigido ao correr dentro de uma bolha gigante, ao mesmo tempo que a ação “cair e levantar” é repetida vezes sem conta.

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Em dez minutos de jogo, é possível que sete sejam a cair. (Foto: Bernardo Reis)

É aqui que se percebe o porquê de ser preciso trazer reforços (muitos, se possível). Até os mais positivos, para quem cair e levantar noutras situações é sinal de aprendizagem, vacilam. O jogo é intenso e ainda assim, divertido e viciante.

O objetivo do Bubble Football continua a ser o mesmo que o do jogo de futebol tradicional: fazer chegar a bola à baliza adversária e marcar golo. No entanto, a certa altura o grande propósito da maior parte dos jogadores passa a ser derrubar quem estiver mais próximo — se possível, sem que seja da mesma equipa.

Corridas com balanço, encontrões leves e eficazes, outros (99 por cento) fortes e capazes de fazer com que o alvo dê umas quantas cambalhotas ou faça o pino durante alguns segundos. Não há como resistir.

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As bolas não são leves, como se imagina, o que dificulta a corrida e o ato de tentar tirar a bola ao adversário. (Foto: Bernardo Reis)

Enquanto o jogo segue, a quantidade de gargalhadas faz com que os conselhos das árbitras Inês e Ana se percam nos ecos. Ainda assim, ao longe escuta-se: “Não sejam meiguinhos! Levantem-se, eles estão a ganhar terreno.” E tudo o que importa, naquele momento, é recuperar o fôlego para conseguir conciliar o cansaço sentido e a vontade de continuar a jogar para não parar de rir. “As pessoas acabam por fazer desta modalidade uma festa”, resumem as responsáveis.

Os que ao fim de semana jogam futebol conseguem admitir que, afinal, “isto cansa, e cansa à séria. Mas vale a pena”. Já os mais céticos pedem: “Vamos fazer isto outra vez, por favor?”

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O jogo permite que inúmeras “acrobacias” sejam experimentadas. (Foto: Bernardo Reis)

A atividade que faz rir crianças e adultos e é escolhida para “team building”

O Bubble Football surgiu em 2011, na Dinamarca, depois de Kristian Meiniche aceitar o desafio de um canal de televisão para organizar um jogo de futebol tendo bolhas insufláveis como personagens principais. Depois de o jogo ter sido transmitido no canal, o YouTube tratou de difundir a mensagem além-fronteiras e a curiosidade em experimentar fez com que houvesse outros países a aderir.

Ainda que em Portugal a modalidade seja praticada pontualmente, noutros países existe um campeonato com várias equipas que treinam diariamente. Mas isso pode estar para mudar: em 2016 espera-se que se inicie um circuito nacional da modalidade em terras lusas com o objetivo de participar no Campeonato do Mundo de Bubble Football que se realiza em novembro, na Tailândia.

Em Portugal há mais do que uma empresa a desenvolver atividades de Bubble Football, e há até uma Associação que representa a IBFA — International Bubble Football Association.

No caso da lisboeta Bubble Futebol, os jogos são organizados para diferentes grupos e com diferentes propósitos: empresas, amigos que há muito não combinam cafés, grupos de trabalho, antigos colegas de faculdade, despedidas de solteiro, festas de aniversário, surpresas.

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Na página da empresa há vídeos que dão conta do entusiasmo dos participantes, quer sejam crianças ou colegas em atividades de team building. (Foto: Bernardo Reis)

“As crianças chegam altamente motivadas e ansiosas para fazer a atividade e adoram. Quando são grupos com mulheres, vão um pouco mais receosas e sem saber o que esperar. Em grupos maioritariamente de homens, inicialmente vão com o objetivo de tentar fazer jogadas de futebol, depois percebem que não resulta e basicamente esquecem-se que existe uma bola. Passam o jogo a dar encontrões uns aos outros e a fazer acrobacias com a bolha”, contam Inês e Ana.

No fim, ninguém se lembra dos golos ou pergunta pelo resultado. Recordações, só as das quedas e encontrões, num jogo onde faltas, só as de jeito. E para que haja memória futura, a Bubble Futebol faz um registo fotográfico e em vídeo de forma gratuita para todos os grupos participantes, mediante autorização.

Nome: Bubble Futebol
Preço: 11€ por pessoa (1h, de 10 a 13 participantes); 150€ para grupos com um mínimo de 14 jogadores; 130€ para festas de aniversário para crianças dos 8 aos 12 anos
Local: campos de jogo definidos por jogo e equipa
Duração: 1 hora
Requisitos: É necessário um mínimo de 10 jogadores e ter mais de oito anos
Reservas: através da página do Facebook, do site, do e-mail bubblefutebol@gmail.com ou do telefone 96 566 5092