Cerca de duas centenas de lesados do Banif manifestaram-se, no Funchal, em frente à antiga sede do banco e, depois, junto ao Santander Totta, ao qual a instituição foi vendida, exigindo a devolução do dinheiro investido em aplicações.

Os manifestantes estiveram concentrados no centro do Funchal durante duas horas. Eram sobretudo emigrantes e ex-emigrantes, oriundos de vários concelhos da Madeira, e empunhavam cartazes com inscrições como “Gatunos paguem o que devem”, “Nós é que sofremos e ninguém vai preso”, “Queremos o nosso dinheiro, mentirosos aldrabões”.

A manifestação, convocada através das redes sociais e da comunicação social, foi liderada por Daniel Caires, que, de megafone em punho, lembrou que estão em causa 256 milhões de euros em vários tipos de aplicações, afetando cerca de 5.000 antigos clientes do Banif, na maioria naturais da Madeira e dos Açores, entre eles muitos emigrantes ou ex-emigrantes, sobretudo na Venezuela, África do Sul e Canadá.

A 20 de dezembro, o Governo e o Banco de Portugal decidiram a venda da atividade do Banif e da maior parte dos seus ativos e passivos ao Banco Santander Totta por 150 milhões de euros.

“Fomos roubados. Não estamos aqui a pedir apoios ou subsídios, estamos a pedir o nosso dinheiro”, afirmou Daniel Caires, sublinhando que o Estado fez um “negócio ruinoso” ao vender o Banif ao Santander.

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O responsável anunciou ainda que alguns lesados vão reunir-se esta terça-feira em Lisboa, onde será ponderada a possibilidade de constituírem uma associação para melhor defender os seus interesses.

“E agora, como vai ser?”, disse Firmino Macedo, que esteve 60 anos na África do Sul e não tem como movimentar os 100 mil euros que investiu no Banif.

“Trabalhei noite e dia e agora nem juros nem capital”, lamentou, mostrando-se indignado por lhe terem pedido para esperar mais algum tempo quanto quis levantar o dinheiro antes da venda do banco.

História semelhante contou Jorge Baptista, ex-emigrante na Venezuela, que perdeu o acesso aos seus 96 mil euros.

“O que é que eu faço? Eu quero o meu dinheiro. Isto é uma vergonha para Portugal”, disse, realçando que foi assaltado 46 vezes na Venezuela “por necessidade” [dos assaltantes], ao passo que em Portugal o roubaram envergando “fato e gravata”.

Por outro lado, José Manuel Gonçalves contou que era cliente do Banif há quarenta anos, até que um gerente o convenceu a entrar nos títulos e nas obrigações.

“Eu nunca gostei disso, mas estava na hora do tonto e caí”, queixou-se, vincando que “agora lá se foi o meu dinheiro”.

Do mesmo se queixava Conceição Fernandes, afirmando que ao fim de 45 anos na Venezuela foi enganada. “Vou participar em todas as manifestações que se fizerem, porque aquele dinheiro é a poupança da minha vida”, disse.

“A partir de agora, as manifestações no Funchal serão aqui [à porta da sede do Santander Totta], porque esta é a instituição que comprou o Banif e está nas mãos destes senhores pagar-nos”, disse Daniel Caires, após a deslocação dos manifestantes da sede do antigo banco para a sede do novo proprietário, onde terminaram a gritar “gatunos”.

Apesar de alguns ânimos exaltados, o protesto decorreu de forma ordeira e foi acompanhado por agentes da PSP.

Por outro lado, atraiu a presença de alguns políticos, como o deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia da República Paulino Ascensão, e o deputado do CDS-PP na Assembleia Legislativa da Madeira Ricardo Vieira.