Várias dezenas de estrangeiros vivem em barcos numa doca seca, que também é estaleiro, quase no centro de Faro, à espera que o inverno acabe e o bom tempo regresse para voltarem a meter as suas embarcações na água.

“Cheguei pelo Cabo de São Vicente, ao longo da costa, subi o rio Guadiana e achei tudo tão bonito que decidi ficar durante uns tempos”, explicou à Lusa o britânico Antony Clark, que já anda por ali desde 2002. Estes cidadãos estrangeiros, praticamente todos europeus, muitos britânicos, têm várias coisas em comum: adoram o mar, os barcos à vela e Portugal, principalmente o Algarve.

O francês Michel Bonis já viajou por todo o mundo e não tem dúvida: “Na Europa, o Algarve é o sítio mais extraordinário para se viver”. Por isso, decidiu ficar, afirmou. “Quando chega a primavera, meto o barco na água. Vocês têm aqui qualquer coisa extraordinária e única na Europa que é a Ria Formosa”, insiste o francês.

A doca seca fica num local onde estes residentes especiais só têm de atravessar a estação de caminho-de-ferro para estarem praticamente no centro da capital algarvia, não muito longe também têm supermercados e o Teatro Municipal de Faro, o conhecido Teatro das Figuras, fica ainda mais perto. “Estamos no centro de Faro, o aeroporto é a 10 minutos, a estação de caminho-de-ferro a cinco minutos a pé, também há supermercado. Estamos um sítio extraordinário para os barcos”, sublinha Michel Bonis.

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Uns estão de passagem, a caminho de destinos novos, outros ficaram encantados com as belezas do Algarve e decidiram ficar mais alguns tempos, e outros já não querem sair daqui. “Eu vivo aqui, creio que há 12 anos. Gosto muito e é por isso que ainda cá estamos”, disse a holandesa Aiti Kensmil, acrescentando que do sítio em que tem o barco “a vista é magnífica” e por vezes senta-se na frente do barco e fica a olhar “durante o dia todo”.

O aeroporto internacional de Faro está muito perto destes residentes especiais, permitindo-lhes receber e visitar a família que vive em países muito mais frios do que Portugal. O britânico David Moore estava a caminho das Caraíbas há dois anos e meio, mas gostou tanto de Portugal que decidiu ficar “mais algum tempo”.

“No Reino Unido tenho talvez apenas duas ou três semanas em que posso trabalhar no barco, aqui o tempo permite-me trabalhar o ano todo”, explica David Moore. Para o britânico trata-se do local ideal porque pode ir ao Reino Unido quando quer: “Estou a 10 minutos do aeroporto e uma viagem de avião de ida e volta custa, em média, 100 euros”, disse.

A maior parte dos barcos da doca são residentes num Estado-membro da União Europeia que apenas vêm passar um ou outro fim de semana no inverno e só metem o veleiro no mar durante o verão, para assim poderem gozar as férias grandes com a família. “Por vezes vivo aqui, outras vou velejar a partir daqui, neste momento estou a reparar o meu barco e a preparar a próxima viagem”, conclui Antony Clark com ar sonhador.

Este britânico só tem de esperar mais algumas semanas, pela chegada do bom tempo, para meter o barco na água e voltar a partir.

Fernando Paula Brito (texto) e Luís Forra (fotos), da agência Lusa