Empresários, utentes e sindicatos da Beira Interior garantiram esta quinta-feira que estão unidos na luta contra as portagens na A23 e anunciaram que vão pedir uma audiência ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas.

Numa conferência de imprensa realizada no Fundão e que reuniu representantes de diferentes entidades e movimentos contra as portagens — o que foi classificado como “simbólico e inédito” — os participantes explicaram que ainda acreditam na “via do diálogo”, mas também sublinharam que “o período de contributo da região relativamente às dificuldades nacionais já terminou” e que esta questão terá de ser revista.

“Houve um período de ‘troika’, nós demos o nosso contributo, estivemos a pagar uma infraestrutura que nos foi prometida como gratuita, mas já terminou o nosso período de ajustamento e daqui para a frente não poderá acontecer mais a mesma coisa”, afirmou José Gameiro, da Associação de Empresários da Beira Baixa.

Todos reiteram argumentos contra o pagamento de portagens na Autoestrada da Beira Interior (A23) e lembraram que esta ex-scut é atualmente a autoestrada mais cara do país, o que prejudica a atividade económica, o desenvolvimento regional, os trabalhadores e até as relações familiares.

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“Quantos dos nossos que tiveram de sair regressam menos vezes porque não podem fazer face a este custo”, apontou Luís Garra, da União de Sindicatos de Castelo Branco.

O reflexo negativo e aumento de custos de contexto para as empresas foi outro aspeto sublinhado por Rogério Hilário, do Conselho Empresarial das Beiras e Serra da Estrela, entidade que agrega oito associações empresariais e que representa mais de 15 mil empresas da Beira Interior. 

“As empresas vivem um estrangulamento e temos casos que só em portagens viram as suas despesas aumentarem entre 70 a 90 mil euros”, disse. Vincando a falta de alternativas rodoviárias e ferroviárias, sublinhou que as portagens também penalizam as estratégias de atração de investimento.

A questão da interioridade deve ser tida em conta pelo Governo na hora de analisar a questão, conforme apontou Marco Gabriel, da Comissão de Utentes da A23. “Este é um dos investimentos que o país tem que fazer nesta região” apontou, referindo que tal representa “uma ninharia” no Orçamento do Estado.

Para Ricardo Fernandes, do Movimento de Empresários pela Subsistência do Interior, “não se trata de mendigar e sim de exigir igualdade”. “Algo vai mal quando fica mais caro chegar de Lisboa à Covilhã do que chegar do centro da Europa até Lisboa”, sustentou.

Este responsável defendeu que não se pode aceitar que uma eventual introdução de descontos assente na possibilidade de colocar mais pórticos da autoestrada e apelou a que toda a região se mobilize em torno desta causa. “O interior precisa de fazer o mesmo que o Porto está a fazer, e bem, na questão da TAP, que é mostrar a Lisboa que estamos cá e que temos de ser ouvidos”, afirmou.

Sem querem definir prazos para se passar a uma segunda fase na luta, os representantes apontaram que, se não for antes, “o próximo Orçamento do Estado terá de trazer novidades relativamente a esta matéria”. Voltaram ainda a sublinhar que a reivindicação comum não é a de eventuais descontos, mas sim a de abolição total destas portagens. 

A autoestrada da Beira Interior (A23) permite a ligação entre Torres Novas e a Guarda e atravessa os distritos da Guarda, Castelo Branco, Santarém e Portalegre.